Militares profissionais coexistem com o controle civil

Os presentes à reunião identificados por DefesaNet

Presidente Lula e Vice-presidente Alckimin, Casa Civil Rui Costa

Ministro da Defesa José Múcio, Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, Almirante de Esquadra Renato Rodrigues de Aguiar Freire, Comandante da Marinha, Almirante Marcos Sampaio Olsen, Comandante do Exército, General Júlio Cesar de Arruda e Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno

Civis ao lado do Ministro Múcio; Presidente FIESP Josué Gomes, não identificado e ex-Embraer Defesa Jackson Schneider

Somos uma democracia débil e por isso não alcançamos a subordinação?

Otávio Rêgo Barros*
Há um consenso nas democracias longevas de que a harmonia das relações entre civis e militares passa pela submissão do estamento armado ao controle político.

A teoria, elaborada no final do século 18, tomou forma pelo temor dos pais fundadores da nação americana de que o Exército continental, após a independência, pudesse rebelar-se contra os próceres.
Em meados do século 20, o conceito foi sistematizado e apresentado por Samuel P. Huntington na obra “O Soldado e o Estado”.

O professor defendia que o controle civil objetivo era mais eficiente, desde que reconhecesse e apoiasse a necessidade do profissionalismo militar. Compreendia profissionalismo militar na obrigação do oficial de ser especializado, responsável e corporativo. Com pragmatismo, destacava que essa busca por controle derivava também do desejo de civis em maximizar poderes.
A antítese ao sistema defendido como ideal era o controle civil subjetivo visto no envolvimento do militar em política institucional, classista e constitucional.

Segundo ele, a relação entre poder, profissionalismo e ideologia subsistia em um jogo de forças dinâmicas. Conforme prevalecesse e interagisse um com o outro, o país seria mais ou menos estável. E alertava: a manutenção do equilíbrio entre o poder e a ideologia “era, obviamente, difícil no melhor dos casos”. Aconselhava que o poder civil deveria vestir-se de neutralidade ao reduzir o poder militar no campo político —ou seria um usurpador da força das armas.

Em nosso país, é opinião comum que precisamos encontrar um caminho para sanear o histórico envolvimento do militar na política. No entanto, de forma simplória, intenta-se um “copiar e colar” de nações democráticas de primeiro mundo.
Mas a importação dessas ideias para uma sociedade com as nossas características se revela quase inalcançável e exigirá amplitude de debate.

Um estudioso da história militar e da política brasileira afirmou que Huntington é muito bom para países democráticos, mas nossa história está tão imbricada com o que somos e como participamos da vida política que não será tarefa fácil.

Somos uma democracia débil e por isso não alcançamos a subordinação dos militares aos civis? O pecado do envolvimento dos militares com a política não tem redenção e seguiremos em atrito?

É fato que vivemos um ambiente de instabilidade política, econômica, psicossocial e militar, precisando reafirmar, a cada crise, que somos maduros democraticamente.
Edmundo Coelho, na obra “Em Busca da Identidade”, na qual estuda o Exército e a política na sociedade brasileira, atesta que é utopia acreditar na marcha rápida em direção a uma sociedade plenamente democrática em um processo linear e irreversível. Haverá escorregões e quedas até que atinjamos relativa segurança social.

Ele ainda afirmou que é rematada tolice defender a irrelevância das motivações estritamente militares. Elas permanecem intensas.

Sou crente na ideia de que reconhecer os interesses e necessidades do estamento militar é o caminho mais curto para o controle civil objetivo. Para isso, é preciso descer do pedestal das discussões e efetivar ações.
Será preciso compreensão mútua entre poder político e poder militar de que suas fortalezas e debilidades são comuns e, portanto, podem ser compartilhadas e combatidas, respectivamente, em trabalho não personalista, não ideológico e não partidário.

Será preciso que as feridas dos últimos anos, e que sangraram profusamente em 8 de janeiro, sejam reconhecidas e punidas, não importando se os responsáveis usam calças jeans ou uniformes camuflados.

Remato com uma construção de Huntington: “O maior serviço que os militares podem prestar é permanecer fiéis a si mesmos, servir em silêncio e com coragem à maneira militar. Se os civis permitirem que os soldados se apeguem ao padrão militar, as próprias nações acabarão encontrando a redenção e a segurança ao fazerem desse padrão algo próprio e inalienável”.

Nem tutelar nem ser tutelado. Coexistir e conviver. São as colunas que devem sustentar essa relação.

Paz e bem!

* General da reserva, é ex-chefe do Centro de Comunicação Social do Exército e ex-porta-voz da Presidência da República (governo Bolsonaro)

TENDÊNCIAS / DEBATES
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FOLHA/montedo.com

7 respostas

  1. O amadurecimento da nossa democracia foi o que nos salvou, não fosse isso estaríamos enfrentando sanções e isolados das principais economias mundiais, sem contar que geraria desgastes com os Estados Unidos da América, grande aliado do Brasil, nos direcionando a uma crise sem precedentes.

  2. Em outras palavras, para o Arrego Barro, O militar é um mero funcionário público que maneja uma arma por dinheiro. É uma espécie de mercenário da guerra.

    Foi esse pensamento que levou as FFAA alemãs a cumprirem ordens absurdas do regime nazista.

    Arrego Barro, sua catequese intelectual pelo Consenso de Washington está perfeita.

    É impressionante como esse povo trata esse liberaleco estúpido de Hungtinton como alguém respeitável Intelectualmente.

    Então se o Sr Lula decidir estabelecer o controle civil transformando as FFAA num Bando opressor bolivariano está tudo ok?

    Que sofista idiota é esse cidadão.

    Para de divergir o foco da questão bunda mole. O foco é A covardia dos chefes para agirem de forma apartidária na salvaguarda do estado e poderes constitucionais.

    “A culpa é minha e eu ponho em quem eu quiser.”

    1. “O militar é um mero funcionário público que maneja uma arma por dinheiro”

      Por que então a população atribuiria aos militares o direito de serem pagos para proteger o território, e eles agirem com a covardia de, aproveitando-se por possuírem armas (coisa que o trabalhador não possui), usarem as próprias armas para ferirem e sabotarem a própria população e suas escolhas políticas.

      Se quer ter o direito de sabotar o povo, ao menos dê ao povo pobre armas para que se defenda!
      Sua percepção do que é um militar revela muito sobre você!

      “Se o Sr. Lula decidir estabelecer controle civil”

      O controle civil não já está estabelecido, ironicamente, na Constituição? Ou você é infantil ao ponto de achar que pessoas desarmadas podem controlar homens armados e treinados? Será que é Lula que manda nas FFAA? Não existem empresários e o governo dos estados Unidos? Você acredita que é só Lula editar um Decreto-Lei e está tudo pronto?

  3. Militar Que não respeita as instituições de Estado, que Atuou politicamente, tem Partidarização ativa e não respeita a Democracia da soberania popular, por meio do voto, não é um bom profissional e nem deveria estar recebendo pela meritocracia. Portanto, deveria ser Cortado o adicional por falta de requisito.

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