Somos uma democracia débil e por isso não alcançamos a subordinação?
Otávio Rêgo Barros*
Há um consenso nas democracias longevas de que a harmonia das relações entre civis e militares passa pela submissão do estamento armado ao controle político.
A teoria, elaborada no final do século 18, tomou forma pelo temor dos pais fundadores da nação americana de que o Exército continental, após a independência, pudesse rebelar-se contra os próceres.
Em meados do século 20, o conceito foi sistematizado e apresentado por Samuel P. Huntington na obra “O Soldado e o Estado”.
O professor defendia que o controle civil objetivo era mais eficiente, desde que reconhecesse e apoiasse a necessidade do profissionalismo militar. Compreendia profissionalismo militar na obrigação do oficial de ser especializado, responsável e corporativo. Com pragmatismo, destacava que essa busca por controle derivava também do desejo de civis em maximizar poderes.
A antítese ao sistema defendido como ideal era o controle civil subjetivo visto no envolvimento do militar em política institucional, classista e constitucional.
Segundo ele, a relação entre poder, profissionalismo e ideologia subsistia em um jogo de forças dinâmicas. Conforme prevalecesse e interagisse um com o outro, o país seria mais ou menos estável. E alertava: a manutenção do equilíbrio entre o poder e a ideologia “era, obviamente, difícil no melhor dos casos”. Aconselhava que o poder civil deveria vestir-se de neutralidade ao reduzir o poder militar no campo político —ou seria um usurpador da força das armas.
Em nosso país, é opinião comum que precisamos encontrar um caminho para sanear o histórico envolvimento do militar na política. No entanto, de forma simplória, intenta-se um “copiar e colar” de nações democráticas de primeiro mundo.
Mas a importação dessas ideias para uma sociedade com as nossas características se revela quase inalcançável e exigirá amplitude de debate.
Um estudioso da história militar e da política brasileira afirmou que Huntington é muito bom para países democráticos, mas nossa história está tão imbricada com o que somos e como participamos da vida política que não será tarefa fácil.
Somos uma democracia débil e por isso não alcançamos a subordinação dos militares aos civis? O pecado do envolvimento dos militares com a política não tem redenção e seguiremos em atrito?
É fato que vivemos um ambiente de instabilidade política, econômica, psicossocial e militar, precisando reafirmar, a cada crise, que somos maduros democraticamente.
Edmundo Coelho, na obra “Em Busca da Identidade”, na qual estuda o Exército e a política na sociedade brasileira, atesta que é utopia acreditar na marcha rápida em direção a uma sociedade plenamente democrática em um processo linear e irreversível. Haverá escorregões e quedas até que atinjamos relativa segurança social.
Ele ainda afirmou que é rematada tolice defender a irrelevância das motivações estritamente militares. Elas permanecem intensas.
Sou crente na ideia de que reconhecer os interesses e necessidades do estamento militar é o caminho mais curto para o controle civil objetivo. Para isso, é preciso descer do pedestal das discussões e efetivar ações.
Será preciso compreensão mútua entre poder político e poder militar de que suas fortalezas e debilidades são comuns e, portanto, podem ser compartilhadas e combatidas, respectivamente, em trabalho não personalista, não ideológico e não partidário.
Será preciso que as feridas dos últimos anos, e que sangraram profusamente em 8 de janeiro, sejam reconhecidas e punidas, não importando se os responsáveis usam calças jeans ou uniformes camuflados.
Remato com uma construção de Huntington: “O maior serviço que os militares podem prestar é permanecer fiéis a si mesmos, servir em silêncio e com coragem à maneira militar. Se os civis permitirem que os soldados se apeguem ao padrão militar, as próprias nações acabarão encontrando a redenção e a segurança ao fazerem desse padrão algo próprio e inalienável”.
Nem tutelar nem ser tutelado. Coexistir e conviver. São as colunas que devem sustentar essa relação.
Paz e bem!
* General da reserva, é ex-chefe do Centro de Comunicação Social do Exército e ex-porta-voz da Presidência da República (governo Bolsonaro)
TENDÊNCIAS / DEBATES
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FOLHA/montedo.com
7 respostas
O amadurecimento da nossa democracia foi o que nos salvou, não fosse isso estaríamos enfrentando sanções e isolados das principais economias mundiais, sem contar que geraria desgastes com os Estados Unidos da América, grande aliado do Brasil, nos direcionando a uma crise sem precedentes.
De um civil é até aceitável, mas de um descondenado é de desmoralizar qualquer instituição que se preze.
Em outras palavras, para o Arrego Barro, O militar é um mero funcionário público que maneja uma arma por dinheiro. É uma espécie de mercenário da guerra.
Foi esse pensamento que levou as FFAA alemãs a cumprirem ordens absurdas do regime nazista.
Arrego Barro, sua catequese intelectual pelo Consenso de Washington está perfeita.
É impressionante como esse povo trata esse liberaleco estúpido de Hungtinton como alguém respeitável Intelectualmente.
Então se o Sr Lula decidir estabelecer o controle civil transformando as FFAA num Bando opressor bolivariano está tudo ok?
Que sofista idiota é esse cidadão.
Para de divergir o foco da questão bunda mole. O foco é A covardia dos chefes para agirem de forma apartidária na salvaguarda do estado e poderes constitucionais.
“A culpa é minha e eu ponho em quem eu quiser.”
“O militar é um mero funcionário público que maneja uma arma por dinheiro”
Por que então a população atribuiria aos militares o direito de serem pagos para proteger o território, e eles agirem com a covardia de, aproveitando-se por possuírem armas (coisa que o trabalhador não possui), usarem as próprias armas para ferirem e sabotarem a própria população e suas escolhas políticas.
Se quer ter o direito de sabotar o povo, ao menos dê ao povo pobre armas para que se defenda!
Sua percepção do que é um militar revela muito sobre você!
“Se o Sr. Lula decidir estabelecer controle civil”
O controle civil não já está estabelecido, ironicamente, na Constituição? Ou você é infantil ao ponto de achar que pessoas desarmadas podem controlar homens armados e treinados? Será que é Lula que manda nas FFAA? Não existem empresários e o governo dos estados Unidos? Você acredita que é só Lula editar um Decreto-Lei e está tudo pronto?
Então está ele admitindo que os senhores generais se prestam a serem estamentos inferiores dos politiqueiros e até descondenados.
A maioria que reclama aqui no site é bolsominion que perdeu a boquinha, então nem levo em consideração a choradeira dessa gente.
Militar Que não respeita as instituições de Estado, que Atuou politicamente, tem Partidarização ativa e não respeita a Democracia da soberania popular, por meio do voto, não é um bom profissional e nem deveria estar recebendo pela meritocracia. Portanto, deveria ser Cortado o adicional por falta de requisito.