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A volta dos militares?

HUMBERTO DANTAS
Quando o PT chegou ao poder federal em 2002 uma combinação de dois fatores teve papel decisivo. O primeiro está associado ao desejo de mudança que encontrou resposta numa tentativa histórica da legenda e de seu candidato (Lula) se apresentarem como alternativa. Ou seja, o PT pode ter vencido pela insistência, pelo fato de se colocar como clara alternativa, por vezes radical. O PSDB teria feito o mesmo nos últimos anos de forma consistente? A eleição desse ano tinha tudo para cair no colo de quem plantou, mas quem não plantou não colheu. A presidente venceu sob a lógica do “muda mais”, ou seja, sem sair do lugar apontou que podia mudar. Se houvesse clara oposição teria sido diferente?
O segundo fator está associado à capacidade de o PT caminhar para o centro do ringue, aproveitando a insatisfação dos brasileiros em 2002. Arrefeceu radicalidades e criou um exército de órfãos de uma esquerda radical que findou se alocando em partidos pequenos. O combate numa lógica bipolarizada costuma ocorrer no centro. Mas o PSDB se deixou levar à direita – e olha que nasceu de centro-esquerda. E na direita não são poucas as tentativas de grupos pregarem aberrações, como a volta dos militares ao poder por meio de golpes infundados – para o bem da verdade o PSDB não dialoga com esses ideais. Mas as incertezas e ansiedades desse debate fazem com que alguns poucos milhares marchem carregando certezas. E são elas que precisarão ser deixadas para trás se o PSDB pretende efetivamente se firmar como a verdadeira oposição que deve ser construída e sentida pelos eleitores para o pleito de 2018. A parte que manda no PT abraçou pragmatismos e deixou radicalismos de lado – apesar de alguns “fantasmas do passado” ainda “estarem vivos” no partido. Ao PSDB caberá o mesmo. E olha que o governo de Dilma deu chances de sobra para os tucanos se consagrarem. Faltou o primeiro fator, e agora resta saber se haverá o segundo. O segredo assim é se opor, mas encontrar termos precisos e razão estratégica. Não parece possível aceitar com naturalidade gente pedindo a volta dos militares ao poder. Isso é uma aberração, que o PSDB parece reconhecer.
Assim, devemos reforçar que a única forma de um militar voltar ao poder é por meio de eleições – não à toa estamos assistindo à formação do PMB, o Partido Militar Brasileiro, que em seu hino fala em “soberania, democracia, igualdade e segurança”. As regras para estes cidadãos são um pouco diferentes, mas ainda assim nada impede que um membro da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, respeitando limites institucionais, se candidate e governe. Foi o que ocorreu, por exemplo, com 33 vereadores em 2012, das mais diferentes patentes: de sargento a coronel, de cabo a capitão – e nas mais diferentes regiões do país. Tudo dentro da lógica democrática, como mostra o Blog Montedo, que acompanha a vida dos militares. Numa das cidades, Tabatinga (AM), a Câmara recebeu quatro militares: um cabo, dois sargentos e um capitão – três da reserva. Pudera: militares fazem parte da vida local, que fica na fronteira tríplice com o Peru e a Colômbia. Assim: organismos de defesa existem na cidade, e lá estão cidadãos das forças armadas e suas famílias.
Mas e prefeitos eleitos? O blog do Montedo diz que foram dois em 2012. O sargento Júlio Cesar, pelo PTB, venceu o pleito em sua cidade natal, Domingos Mourão, no Piauí. Bizarramente, em 2013 comeu uma quentinha e foi hospitalizado. Recuperado, acusou: “tentaram me matar, e foi gente próxima, pois não tenho relação com meus adversários”. O artefato utilizado teria sido veneno de rato. E a vida na cidade realmente não é simples: o ex-prefeito era um padre, acusado em 2011 de pedofilia.
Mas para os fins do que se discute atualmente no Brasil tudo indica que o segundo militar eleito prefeito em 2012, deste feita em cidade de fronteira com a Bolívia, merece mais atenção. Falamos especificamente do major da reserva Dúlcio Mendes, escolhido em pleito equilibrado na rondoniense Guajará-Mirim. Mas o que Dúlcio teria de tão especial no debate sobre manifestações que sonham com militares voltando ao poder contra o PT? Exatamente isso: ele é do PT. Algo contra? Imagina! Mais de sete mil cidadãos apostaram nele em 2012. E viva a democracia, enquanto ela está aí para ser vivida.
ESTADÃO/montedo.com

3 respostas

  1. Parabéns, Montedo, pelo excelente trabalho. Seu blog é parcial, justo e informativo. Creio, verdadeiramente, q o sucesso será constante nesse trabalho excelente q desenvolve.
    Parabéns!
    Maj QCO Leonardo

  2. Parabéns companheiro, pela tua dedicação. Este blog é um exemplo, que nós militares quando nos dedicamos a algo, fazemos muito bem feito. O reconhecimento da imprensa nacional, demonstra a credibilidade, que o teu BLOG possui no meio militar e que aos poucos vai se expandindo para os civis também. Que o companheiro possa cada vez mais nos representar na mídia nacional, fazendo este belo trabalho!!
    Um forte abraço e sucesso em 2015
    Selva! Xingu!!

  3. Militares de volta ao poder?? Infelizmente não daria certo, exceto se fosse para tirar esse bando que está incrustado no poder, e logo em seguida novas eleições sem bandido concorrendo.Pelo comportamento demonstrado por autoridades militares que apoiam o PT, se calam diante da humilhação das Forças e depois querem ser o PODER? Não conseguem nem exigir o respeito que os militares tem em receber um salário adequado e para receberem atualizações da máquina militar, se obrigam a ficar calados.A solução para a retirada da incompetência do poder teria que ser através do povo, como na época do Collor, que voltou através do voto. Através do povo não haveria contestação, nem segundas intenções, mas como as coisas estão se encaminhando, não há interesse nem da oposição, que lucram também com os desvios de dinheiro se fazendo de opositores para os eleitores "cegos".

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