Exército está tentando “limpar CNPJ manchado”, dizem aliados de Braga Netto

General Braga Netto foi preso no Rio de Janeiro.
Foto: Pedro Kirilos/Estadão / Estadão

A mágoa de aliados de Braga Netto com a cúpula do Exército desde o 8 de janeiro
Interlocutores do ex-candidato a vice de Bolsonaro afirmam, sob reserva, que instituição tenta ‘limpar’ imagem sem admitir omissão diante da trama golpista


Johanns Eller
Interlocutores do general Walter Braga Netto, preso há 85 dias em uma instalação do Exército no Rio e denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por golpe de Estado e outros quatro crimes, têm manifestado uma crescente mágoa com a cúpula do Exército diante do avanço do cerco da Justiça a aliados de Jair Bolsonaro acusados de tramar uma conspiração para impedir a posse de Lula em 2023.

Na avaliação de pessoas próximas do ex-candidato a vice de Bolsonaro, a Força estaria empenhada em “limpar” sua imagem – dos 34 denunciados pela PGR, 24 são militares – sem admitir a suposta omissão da instituição diante da trama golpista.

Em conversas entre si e com a equipe do blog, estes mesmos aliados lembram que, embora os comandantes Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e Carlos de Almeida Baptista Junior (Aeronáutica) tenham dito em depoimento à Polícia Federal (PF) que se recusaram a aderir ao plano golpista de Bolsonaro, nada fizeram para denunciar a tentativa de golpe em curso e nem para desmobilizar os acampamentos na porta de quartéis em todo o Brasil.

Pelo contrário. No dia 11 de novembro de 2022, quase duas semanas após a derrota de Bolsonaro para Lula no segundo turno, os três comandantes divulgaram uma carta reconhecendo os acampamentos como legítimos e repudiaram qualquer repressão aos participantes.

Um áudio encaminhado por Mauro Cid a Freire Gomes na mesma data mostra que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro celebrou a publicação da carta.

“Eles estão se sentindo seguro [sic] para dar um passo à frente. Então, os organizadores dos movimentos vão canalizar todos os movimentos previstos [inaudível] o dia 15 como ápice, a partir de agora. Tá pro Congresso, STF, Praça dos Três Poderes basicamente”, disse Mauro Cid na ocasião.

Esse tipo de postura alimenta a mágoa dos aliados de Braga Netto como Exército. Havia expectativa de algum tipo de defesa, mesmo com Braga Netto fomentando a revolta na tropa contra os generais “melancias”, que não embarcaram no plano golpista.

“Eles estão tentando limpar o CNPJ deles, que está todo manchado”, completou, em referência ao que os bolsonaristas consideram ter sido uma atitude omissa das Forças Armadas.

O entorno do general também lembra que Bolsonaro era próximo do Alto Comando do Exército e frequentava com regularidade os encontros, incluindo almoços com conversas descontraídas. Segundo o relatório final da Polícia Federal, o golpe não ocorreu em função da resistência dos chefes do Exército e da Aeronáutica e do Alto Comando.

“Se houve de fato um racha no Alto Comando, por que nenhum deles [contrários ao golpe] telefonou para demover o presidente da ideia de um decreto? Eles esperaram para ver o que ia acontecer”, reclama um colega de farda de Braga Netto.

Conversas secretas
Outro incômodo é com o fato de o relatório não ter detalhado as respostas de Freire Gomes em conversas com o tenente-coronel Mauro Cid em um dos aplicativos de mensagens usados pelo Exército, o UNA. Nos autos, apenas as falas de Cid são reproduzidas.

“Por que não botaram a resposta dele? Dependendo da fala do Freire Gomes, o papel dele muda completamente”, afirma um aliado de Braga Netto.

Outro detalhe nas investigações explorado por interlocutores de Braga Netto é ausência do ex-comandante do Exército Júlio César de Arruda nos autos. Escolhido pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, Arruda foi demitido por Lula após o 8 de janeiro em razão de uma até hoje inexplicável recusa em revogar a nomeação de Mauro Cid para o Batalhão de Ações e Comandos de Goiânia, espécie de quartel-general dos kids pretos, que tiveram papel crucial na trama golpista.

“Enquanto o Exército não fizer uma análise criteriosa e real do que aconteceu, com erros ou acertos, ficarão tentando achar uma solução para essas lacunas”, provoca uma fonte ligada ao ex-candidato a vice de Bolsonaro, em referência à suposta omissão militar diante da trama golpista.

Braga Netto, que também foi ministro da Casa Civil e da Defesa, foi preso preventivamente em 14 de dezembro acusado de obstruir a Justiça durante as investigações da trama golpista. Ele está detido desde então na 1ª Divisão do Exército, na Vila Militar, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Para o STF, que acatou o pedido de prisão da PGR, o general tentou obter informações sigilosas da delação de Mauro Cid, homologada em 2023 junto à PF.

Antes de embarcar no governo Bolsonaro, ainda na ativa do Exército, Braga Netto foi chefe do Estado Maior do Exército entre 2019 e 2020 e chefiou a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro entre 2018 e 2019 determinada pelo então presidente Michel Temer. À época, ele chefiava o Comando Militar do Leste.
Malu Gaspar (O GLOBO) – Edição: Montedo.com

5 respostas

  1. É como já escrevi aqui na área de comentário: muitos que hoje se dizem “legalistas”, naqueles dias ficaram “em cima do muro” aguardando os acontecimentos.

    Se o “golpe” desse certo se apresentariam para colher dividendos (como cargos na direção de importantes órgãos federais).

    Se o “golpe” desse errado (como aconteceu), apareceriam como “legalistas” e “herois” em busca de elogios e deferências.

    Ora, quem foi contra por que não denunciou o golpe?

    Se não concordava e não tinha coragem para denunciar o golpe, por que não “pediu” Reserva, mantendo assim uma postura coerente de caráter e de verdadeiro “legalista”?

    Em suma: ninguém ali foi inocente.

    Para virar a página, todos que estavam no “topo” naqueles dias deveriam ser mandados de imediato para a Reserva.

    Só assim se viraria a página.

    1. Concordo plenamente com o seu Comentário. E logico que o Freire Gomes levou para o alto comando a proposta de golpe. Como nao houve Unanimidade deixaram correr.

  2. Quem nos livrou de golpe tem nome: Joe Biden.

    Eles foram nos USA choramingar apoio, e Biden não aceitou nenhuma possibilidade de ruptura institucional.

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