Forças Armadas da Venezuela criticam apelo para reconhecer opositor de Maduro como presidente, e ministro ameaça prisão

González Urrutia reclama o cargo de comandante-chefe do exército EPA

 

Declarações foram feitas no mesmo dia em que o ex-diplomata Edmundo González Urrutia se encontra com o presidente americano, Joe Biden, em Washington
O ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, alertou nesta segunda-feira que o opositor exilado Edmundo González Urrutia, que reivindica ter vencido o presidente Nicolás Maduro nas eleições de 28 de julho, será preso se voltar ao país. A declaração de Cabello foi feita no mesmo dia em que as Forças Armadas venezuelanas condenaram o apelo do ex-diplomata para que ele seja reconhecido como chefe de Estado no país — e no mesmo dia em que o opositor se reuniu com o presidente americano, Joe Biden, nos Estados Unidos, num gesto de apoio que foi qualificado como “grotesco” por Caracas.

“Vimos com profunda indignação um vídeo publicado na noite de ontem, domingo (5), pelo covarde Edmundo González Urrutia, dirigindo-se de maneira sem vergonha e insolente à Força Armada Nacional Bolivariana. (…) Rejeitamos categoricamente e com absoluta veemência este ato palhaço e desprezível de politicagem”, diz o comunicado lido na televisão estatal pelo ministro da Defesa da Venezuela, o general Vladimir Padrino.

“Que o mundo inteiro saiba, no próximo dia 10 de janeiro de 2025 ratificaremos o compromisso irreversível com a democracia venezuelana e reconheceremos o cidadão Nicolás Maduro Moros como presidente constitucional da República Bolivariana da Venezuela, reeleito para o período de 2025-2031, a quem, como nosso comandante em chefe, juraremos solenemente lealdade, obediência e subordinação”, disse.

Na sexta-feira, 10 de janeiro, está prevista a posse de Maduro perante o Parlamento, controlado pelo partido do governo, para um terceiro mandato que o projeta a 18 anos no poder. No domingo, porém, González Urrutia divulgou nas redes sociais um vídeo dirigido à Força Armada pedindo apoio. Na gravação, ele afirma que, “pela vontade soberana do povo”, deve assumir a Presidência. No mesmo dia, a líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, convocou protestos para esta quinta-feira, um dia antes da posse.

— Terei prazer em recebê-lo — disse Cabello, o ministro do Interior, em referência ao opositor de Maduro, que prometeu retornar a Caracas para tomar posse nesta semana. — O senhor González Urrutia sabe que assim que colocar um dedo na Venezuela será preso. Edmundo González Urrutia, se puser um pé na Venezuela, será preso e julgado.

Reuniões em Washington
Enquanto isso, nos EUA, Biden recebeu González Urrutia para uma reunião não agendada. O venezuelano também planeja conversar com o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, segundo fontes da oposição à AFP. Ainda estava previsto que ele participasse de uma reunião do Conselho Permanente da OEA, o órgão executivo da instituição, mas ela foi cancelada devido à forte nevasca que atingiu Washington e deixou estados em alerta.

No encontro, Biden e González discutiram “os esforços compartilhados para restaurar a democracia na Venezuela”, segundo comunicado da Casa Branca. O presidente americano disse que “mundo foi inspirado pelos milhões de venezuelanos que corajosamente votaram por uma mudança democrática na eleição presidencial”, reconhecendo a vitória do opositor no pleito e defendendo “uma transferência pacífica”.

Biden também expressou sua preocupação com a repressão aos protestos na Venezuela e disse que acompanharia de perto a situação durante as manifestações previstas para a posse, em 9 de janeiro. “Os venezuelanos devem ter permissão para expressar suas opiniões políticas pacificamente, sem medo de represálias dos militares e da polícia”, defendeu a Casa Branca, ressaltando que Washington seguiria responsabilizando Maduro e aliados por suas “ações antidemocráticas”. O ditador venezuelano e seu núcleo duro já foram alvos de diversas sanções americanas.

Já na terça-feira, Edmundo González deve se reunir com membros do Congresso americano, incluindo o senador republicano Rick Scott, que é próximo ao presidente eleito dos EUA, Donald Trump. Ainda não se sabe se ele falará com Trump, que sucederá Biden no cargo em 20 de janeiro. Marco Rubio, o futuro chefe da diplomacia dos Estados Unidos, é um oponente ferrenho de Maduro, a quem já chamou de “ditador”.

O governo venezuelano criticou Biden por receber González Urrutia em Washington às vésperas da contestada posse de Maduro em Caracas. Nesta segunda-feira, o Ministério das Relações Exteriores disse que era “grotesco” que “um governo cessante como o de Joe Biden, que está politicamente desacreditado e marcado por um legado de fracassos domésticos e internacionais, insista em apoiar um projeto violento [de oposição]” na Venezuela.

González Urrutia, que está exilado na Espanha desde setembro, prometeu retornar ao seu país para tomar posse como presidente “de qualquer maneira”. Antes disso, porém, ele embarcou em uma agenda internacional. No fim de semana, se reuniu com os presidentes da Argentina, Javier Milei, em Buenos Aires, e do Uruguai, Luis Lacalle Pou, em Montevidéu, além de falar por videoconferência com o chefe de Estado paraguaio, Santiago Peña. Após sua visita aos Estados Unidos, ele planeja viajar para o Panamá e a República Dominicana.

A recompensa de 100 mil dólares (R$ 611 mil) oferecida pelas autoridades venezuelanas por qualquer informação que leve à sua captura, assim como a ameaça de detenção imediata ao entrar na Venezuela, parecem não intimidá-lo. Da mesma forma, Washington oferece uma recompensa de 15 milhões de dólares (R$ 92 milhões) pela captura de Maduro, a quem acusa de tráfico de drogas. Os Estados Unidos impuseram restrições de visto a 2 mil venezuelanos pelo alegado papel na “corrupção” ou na “violação de direitos humanos”.

Oposição venezuelana
Na Venezuela, o governo avança nos preparativos para a posse, com uma ampla mobilização de policiais e militares. Nas redes sociais, Maduro afirmou que fará “um juramento pela Venezuela” e, aos venezuelanos, declarou: “vejo vocês nas ruas, nas esquinas e nos bairros”. A oposição, por sua vez, conclamou a população a enfrentá-lo, recomendando que as pessoas “saiam, gritem e lutem”. Diante do cenário incerto, Cabello, o ministro do Interior, afirmou que “o quartel está tranquilo”. Uma ampla mobilização de segurança foi ordenada nas ruas.

Os protestos pós-eleitorais foram duramente reprimidos pelas forças de ordem, resultando em 28 mortes e cerca de 200 feridos, além de 2.400 detenções. Três dos detidos morreram na prisão. Nesta segunda-feira, o Ministério Público da Venezuela afirmou que mais de 1.500 dos detidos nas manifestações foram soltos. Os detidos, que incluem uma centena de adolescentes, todos já libertados, foram acusados de “terrorismo” e outros crimes. Eles foram levados para prisões de segurança máxima.

Os familiares dos detidos realizaram inúmeras manifestações para exigir a sua libertação, ao mesmo tempo que denunciaram os maus-tratos aos seus entes queridos, a má nutrição e a negação de cuidados médicos.

Maduro foi proclamado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), dominado pelo chavismo, como vencedor das eleições de 28 de julho, com 52% dos votos, sem publicar uma apuração detalhada, como exige a lei. A oposição, por sua vez, publicou em um site cópias dos registros eleitorais que sustentam a vitória de González Urrutia com mais de 70% dos votos, documentos cuja validade o chavismo nega.
AFP

Uma resposta

  1. Expressar suas opiniões políticas pacificamente, sem medo de represálias dos militares e da polícia”, só cruzando os braços, ficar em casa, parar o pais, até a queda do regime. Guardem alimentos e água, antes de tudo.

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