Documentos mostram que questão intrigou Aeronáutica, com relatos de luta com marciano e mulher que ofereceu água a ET
Maurício Meireles, Géssica Brandino
São Paulo
Um guarda noturno vê três alienígenas, à noite, e decide partir para a luta corporal com eles, armado de um conduíte. Não só apanha, como ainda é xingado: “Vá embora, seu vagabundo”, diz um dos ETs, antes de partir em uma nave azul clara.
O testemunho é de 1º de outubro de 1968. Parece fantasia —e pode até ser—, mas esse é um dos muitos relatos de criaturas misteriosas, discos voadores e luzes no céu oficialmente recolhidos pelo Sioani (Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados), estrutura criada pela Força Aérea para investigar as aparições no céu do Brasil.
O Sioni foi uma rede de informação que existiu de 1969 a 1972 e deixou um amplo rastro de documentos, parte de um conjunto maior, preservado hoje no Arquivo Nacional.
A coleção completa de papéis, datados de 1952 até os dias de hoje, com novas levas entregues recentemente à Força Aérea, foi analisada pela Folha. Ela mostra como os objetos voadores não identificados se tornaram uma questão de segurança nacional para os militares.
É um conjunto com imagens, conversas entre pilotos, histórias de ETs hostis e relatos de pessoas comuns —como o da funcionária de um sanatório que dizia que ofereceu água a uma extraterreste e ouviu um agradecimento em uma língua interplanetária: “Umbaúra”, teria dito a alienígena três vezes.
Não, os documentos sobre OVNIs não provam a existência de vida inteligente em outros planetas. Eles falam mais deste mundo do que de outro, ao trazer um panorama histórico sobre como os militares —e a sociedade— encararam esse assunto.
Não é à toa que o primeiro documento da coleção, uma montagem fotográfica, data de 1952. A partir de 1947, pouco depois da Segunda Guerra, o interesse pelo assunto começa a se consolidar —e depois se aprofunda a partir dos anos 1950, inclusive na imprensa.
Os arquivos da Aeronáutica trazem, já em 1956, um papel avulso com o caso de um advogado que jurava ter sido abduzido por ETs que saíram do mar (eles vestiam macacão verde e falavam por telepatia).
É fácil entender o interesse militar nesse assunto. Basta lembrar que, na época, começava a era da energia nuclear e da disputa entre EUA e URSS em torno da tecnologia espacial. No começo, não se associava os objetos misteriosos no céu à ideia de vida alienígena.
“Na década de 1950, os discos eram associados aos grandes inventos tecnológicos, na possibilidade de serem oriundos de algum experimento militar secreto”, diz o pesquisador João Francisco Schramm, doutor pela UNB (Universidade de Brasília), que trabalhou com essa documentação. “Mas rapidamente a hipótese extraterrestre se consolidou no imaginário brasileiro.”
Além da soberania nacional em si, havia outra preocupação: supostos discos voadores zanzando por aí sem eira nem beira poderiam ser um risco para o espaço aéreo.
Dentro desse conjunto, os boletins produzidos pelo Sioani estão entre os documentos mais valiosos e revelavam a esperança, entre seus integrantes, de recrutar estudantes para essa rede de informações.
“Temos certeza de que há um fenômeno que deve ser estudado, (…) que deve ser tratado com austeridade”, diz o boletim número 1.
Já nos primeiros registros surge a necessidade de manter os documentos em segredo: o receio é que, se falar publicamente do assunto, a Força Aérea possa ter sua credibilidade abalada.
“Há uma confusão em acreditar que os óvnis são, basicamente, aeronaves extraterrestres. O que levaria a acreditar que os militares acreditam em extraterrestres. Mas um óvni é apenas um objeto desconhecido que frustrou todas as tentativas de identificação”, diz Schramm.
Boa parte dos relatos são de visões de objetos no ar, cuja forma varia: às vezes são pratos, em outras são discos e, em outras mais, podem ser pirâmides ou ter o formato de uma kombi intergaláctica.
E há os casos de supostos contatos. Um papel avulso, por exemplo, traz o relato de um jovem que, em 1975, teria se comunicado por telepatia com aliens. Em dado momento, ele diz ter se questionado: serão inimigos? E ouviu a resposta: “Se fôssemos inimigos, estaríamos falando telepaticamente com você?” —em português mesmo.
Nem todos os supostos ETs eram bonzinhos assim, e os militares também se debruçaram sobre casos de suposta hostilidade alienígena.
A ideia de que os aliens viriam à Terra para fazer o mal —e até chupar o nosso sangue— ganharia contornos dramáticos em 1977, quando surgiu uma série de relatos de supostos ataques no Pará e no Maranhão.
Os testemunhos, publicados na imprensa e depois colhidos por militares, falavam de corpos luminosos que emitiam raios. As supostas vítimas também relatavam que seu sangue tinha sido sugado enquanto dormiam.
Diante da situação, os militares iniciaram a Operação Prato, que até hoje rende debates entre entusiastas da ufologia.
A coleção especificamente dedicada aos OVNIs tem várias histórias que os militares levantaram lá —pelo menos 130 delas—, inclusive com mapas dos avistamentos. Mas o documento mais detalhado sobre o assunto é um dossiê secreto no arquivo do Serviço Nacional de Informações, o poderoso aparato de espionagem da ditadura militar.
Militares do 1º Comando Aéreo Regional foram enviados à cidade de Colares (PA), onde, segundo o SNI, estavam os relatos mais graves: “Nesta cidade, à noite, a população fazia procissão, acendia fogueira e soltava foguetes, com o intuito de afugentar, o que chamavam de ‘bicho'”.
Segundo o relato dos moradores, “o bicho” aparecia de noite e podia emitir um foco de luz intenso, que deixava as vítimas “inertes, trêmulas, com a voz presa e outros sintomas”. Homens diziam ter sido sugados no pescoço, e mulheres, nos seios.
No relatório da missão, os militares chegam a registrar o avistamento de luzes. Mas não há conclusões.
Casos de avistamento como esses, diz o pesquisador João Schramm, levaram os militares a instituir uma política de estado para reunir e catalogar os relatos, antes espalhados por várias instituições.
De fato, a reunião de documentos continua até hoje, com novas levas enviadas ao Arquivo Nacional periodicamente. Os documentos mais recentes, por exemplo, são de 2023.
De todo modo, é bom continuar com as barbas de molho e lembrar que tais relatos a rigor não têm valor científico para provar nada.
“Quando falamos de objetos não identificados, temos que levar a parte que diz não identificado a sério”, diz Carlos Orsi, coautor do livro “Que Bobagem! – Pseudociências e Outros Absurdos”.
“O que se presume [na ciência] é deve existir vida fora da terra. Mas é um salto grande partir dessa constatação razoável e supor que essa vida não só seria inteligente, como seria capaz de romper a barreira da velocidade da luz —até onde sabemos, intransponível— e vir aqui perturbar as nossas vacas.”
FOLHA – Edição: Montedo.com
5 respostas
Tá explicado o porquê dos golpistas tentarem contato com outro mundo, tiveram acesso a esses documentos
Na verdade ETs são petistas disfarçados. Estão entre nós desde epoca da década de 50 do século passado , eram seres quadrúpedes que evoluiram para bípedes e que vivem até hoje num mundo em separado, sua cor preferida é o vermelho (de vergonha) e as ferramentas de trabalham que mais odeiam é a foice e o martelo (não gostam de trabalhar). E gostam de cobrar impostos
Você está errado, para transpor as grandes distâncias estelares, não podem ter corpo biológico e sim mecânico, para isso são Bozóides, metade andróide e metade seguidor do Bozo. Eles vivem na bozolândia um mundo bem distante dos nossos, onde São alienados por um ditador burro e maluco e um monte de acéfalos como consultores.
Por que o nome da matéria em vermelho.
O site já virou casaca, é pt agora?
tudo isso é na verdade balão meteorologico.