O comandante do Exército deveria ter batido em retirada, mas se rendeu

Lula cumprimenta o novo comandante do Exército, o general Tomás Ribeiro Paiva - Ricardo Stuckert/Divulgação

O comandante do Exército disse que o post do general Villas Bôas foi um erro. Compreensível: Lula agora é seu chefe. Mas não é aceitável
Mario Sabino
O general Tomás Paiva, comandante do Exército, enrolou-se na entrevista que deu aos jornalistas Sérgio Roxo, Geralda Doca e Thiago Bronzatto. Viu-se acuado por uma pergunta e, em lugar de bater em retirada estratégica, escolheu a rendição.

Os jornalistas lhe perguntaram o seguinte:

“Em abril de 2018, o então comandante do Exército general Villas Bôas publicou um post falando de impunidade às vésperas do julgamento do pedido de habeas corpus de Lula. O senhor, então chefe de gabinete do militar, elogiou a nota e concordou com a publicação. Hoje, como comandante do Exército no governo Lula, o senhor teria feito algo diferente?”

Qual teria sido a resposta esperável? Algo na linha do “prefiro não fazer comentários sobre as decisões e os gestos de comandantes anteriores”. Mas não. O general Tomás Paiva decidiu dar opinião:

“Teria (feito diferente). Eu acho que o comandante do Exército aqui tinha que ter sido mais veemente no assessoramento. Acho que nós erramos. Não vou julgar também o comandante anterior, a quem eu tenho toda a lealdade. Acho que é um erro coletivo. Não deveria ter sido publicado. Eu era chefe de gabinete e sou corresponsável por isso, apesar de ser um outro momento político. Agora, não houve pressão ao Supremo. O Supremo não se pressiona. O comandante do Exército é o comandante de ontem, hoje e sempre. Então, erramos.”

Antes de mais nada, o problema dessa resposta é que ela não poderia ser outra, a não ser a opinião nenhuma: como Lula é o chefe do comandante do Exército, Tomás Paiva não teria como afirmar que o general Eduardo Villas Bôas acertou ao mandar recado ao STF, naquele já longíquo 2018, alertando sobre o desastre que seria conceder habeas corpus a Lula na iminência da sua prisão.

Não existe subordinado que defenda cana para o seu chefe, concorda? Ainda mais se esse subordinado é um militar, cujo dever de hierarquia está acima de tudo.

Por que o general Tomás Paiva não bateu em retirada diante da bananosa? Ele deve ter achado que isso seria interpretado como aval ao famoso post do general Eduardo Villas Bôas — e decidiu se render.

Não estou afirmando que o general Tomás Paiva mentiu na sua resposta. Nem poderia. Mas é bastante inconvincente a resposta de que o post foi “erro coletivo”, de que hoje ele não teria feito o mesmo. Temos aí o segundo problema da resposta aos jornalistas.

É inconvincente porque o comandante do Exército deixa entrever a sua falta de convicção quando faz o reparo de que, há seis anos, o país atravessava “outro momento político”.

E que momento político era esse? O ápice da Lava Jato, com multidões nas ruas exigindo a prisão de Lula e indignada com as sucessivas tentativas do establishment de salvar o chefão petista no tapetão.

Ora, o general Villas Bôas — e também outros militares, como o próprio Tomás Paiva — enxergou claramente que, se o STF concedesse habeas corpus a Lula, o país mergulharia no caos.

O recado do então comandante do Exército foi para fora e também para dentro das Forças Armadas, porque a liberdade de Lula exaltaria os ânimos golpistas entre os militares. Esse aspecto vem sendo convenientemente esquecido, eu diria, já que não combina com o revisionismo histórico que está em andamento desde que a Lava Jato foi abatida a tiros.

A resposta do general Tomás Paiva contém uma verdade que julgo indiscutível: o Exército não pressionou o Supremo, pelo menos não indevidamente. Por meio do general Villas Bôas, avisou o tribunal de que a barra pesaria demais se fosse cometida a imprudência — e o erro — de beneficiar Lula com um habeas corpus. E o Supremo entendeu o recado, ainda bem.

Como eu já disse em outras paragens, Villas Bôas se comportou como soldado da democracia. O homem esteve à altura da sua circunstância. Se ele viria a se tornar golpista ou não, se a sua família aderiu ao bolsonarismo mais desmiolado e foi acampar na porta de quartel, isso não apaga o fato de que o seu post evitou que o país se incendiasse em 2018. Não foi um erro. Foi um acerto. A resposta do general Tomás Paiva é compreensível por Lula ser o seu chefe. Mas não é historicamente aceitável.

METRÓPOLES

30 respostas

  1. Baboseira! Finalmente temos um Cmt com postura de militar! Fala como militar, preocupado com coisas de militar!e esta levando a Força para o caminho certo! Desejo muita saude e muitos anos com o o General Thomas Comandando o Exercito! General! Identifique e senta o pau nessa turma!

    1. Vai longe Maj porém, menos, menos Batista, como dizia o Chico Anísio. Não se exponha tanto, seja menos explícito na sua idolatria ao superior, pois de repente podem fazer um raio-x daquele lugar do Cmt e verem o que não deve ser visto.

    2. Identifique e senta o pau nessa turma? Traindo o povo com a perfidia de 08 de janeiro? Consultando o supremo sobre cada passaporte apreendido sem o devido processo legal? Permitindo prisões e acusações sem provas, apenas por suspeição?

      1. Mas será que você sabe o que tem nós celulares que foram apreendidos e o STF cumpre seu papel e quem indicia todo esse pessoal foi a polícia federal. Tem gente acredita que as pessoas são inocentes. Primeiro lugar Vamos voltar as aulas e lermos a constituição federal as leis e
        saber interpretar as . Todos acham que tem razão. Principalmente a direita faz e fez pior que a esquerda e sempre estão querendo passar pano

        1. E como vc faz para barrar uma enchente, um terremoto, um ciclone? A razão está no processo penal estabelecido e pactuado entre os poderes ou está com o juízo monocrático?

    3. Um general qualquer defendendo o seu! O Tonas Migué jogou uma bomba de fumaça na causa dos – QE – desinformando que a promoção custaria mas de um bilhão !!! Isso é fake das grandes, o custo seria por volta de 130 milhões.

  2. O interessante é que ele afirma que as Forças Armadas são apoliticas. Entretanto, a entrevista foi política. Vamos estudar estratégias para melhorar a capacidade operacional de Força.

  3. A pressão que o General Villas Bôas fez ao STF, com a sua declaração a favor da manutenção da prisão (“compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade”), na véspera da votação do habeas corpus, foi um desrespeito com a democracia e com a separação dos poderes constituidos.

    Só acha correta essa atitude quem se simpatiza ao golpismo anti-democrático, fazer o quê?

    O resultado do habeas corpus, sim, foi influenciado por essa declaração, porém isso não importa mais. O que interessa nessa discussão é a necessidade do reconhecimento do erro e que ele não se repita mais. Nesse caso, o atual comandante está certíssimo, está cumprindo o seu dever.

  4. Ele está correto, não cabe às FA qualquer tipo de colocação como foi feita sobre outro poder e assumiu a responsabilidade enquanto Cmte.

  5. RDE, do 56 ao 59 do anexo I. Saber a legislação militar faz parte da disciplina.
    A cúpula do Legislativo, Executivo e do Judiciário, é quem, em regra, dita as ordens, por serem a cúpula da Administração Pública. Se está subordinado a um desses Poderes, só tem que acatar ordens. Ordens legais evidentemente.
    As FAs são subordinadas ao Poder Executivo, logo os Comandantes das forças não tem que ficar criticando e nem “babando ovo” do presidente de plantão. Só tem que atentar a Disciplina.
    O presidente anterior, despertou, principalmente, em alguns militares o que realmente eles eram, pois atentaram contra a hierarquia e a disciplina em nome de ilusão que só eles conseguiam enxergar, e acabaram jogando a carreira no lixo.
    Hierarquia e disciplina, todo militar já ouviu falar, mas, infelizmente, pouquíssimos sabem o que é.

  6. Concordo com o atual comandante do Exercito. Não cabia a qualquer comandante militar fazer comentários sobre a atuação e esfera de um outro poder. Ainda mais o comandante do exercito que esta subordinado ao ministro da Defesa. No nosso vizinho, no Uruguai mais precisamente, o comandante do exercito se atreveu a fazer comentários politicos, tomou uma punição e ainda permaneceu no cargo para passar vergonha.

  7. O grande chefe Villas BÔAS agiu corretamente, pois estava em vigor uma decisão desse lixo que é o STF sobre prisão após segunda instância e o LULADRÃO já havia sido julgado e condenado em tal estância e a CANALHADA do STF queria virar a mesa. Que falta o senhor faz General. Hoje só tem FROUXO, COVARDE, OMISSO

    1. Estaba 100% errado, pois querendo intervir no poder do STF. Se fosse por isso que é estudasse para ser juiz e não general. Por isso estamos nessa situação que tem gente que nem você querendo passar pano. Pois o errado continua sendo o errado e o certo o certo. Mas tem muita gente confundindo isso principalmente a direita radical.

  8. Resumindo tudo, hoje impera um sentimento de inutilidade e insegurança muito grande nas forças Armadas, devido a incompetência e mercenárismo das autoridades da força. Isso vai gerar muita evasão e baixíssimo nível da tropa e consequentemente sucateamento no futuro. Quem planta colhe daquilo que plantou. O tempo dirá.

  9. Lendo esse artigo postado aqui no blog, e os diversos comentários a respeito do seu conteúdo, tenho a certeza de que esse país nunca avançará.

    O Brasil está fadado a ser sempre essa caricatura de República.

    Temos autoridades sem perfil à altura e dotada de pobreza cognitiva.

    Juristas fazendo dos seus cargos verdadeiros balcões de negócios familiares (vide o que está acontece com o Judiciário baiano).

    E um povo acéfalo que não raciocina, apenas mimetiza mantras de líderes ideólogos e acreditam que estão expressando opinião própria.

    Brasil já era.

    O último que apague a luz.

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