Na linha de frente da tragédia, soldados do RS desabafam: ‘também sou povo, também perdi tudo’

Os soldados do Exército Cardona, Veledo e Robert — Foto: Divulgação Exército

 

Exército contabiliza mil militares vítimas das enchentes que estão na linha de frente dos trabalhos no RS

Bela Megale
Reidne Robert dos Santos, 19 anos, acompanhava a distância a situação de sua casa naquela sexta-feira, 3 de maio, já que estava a serviço no quartel. A casa dos vizinhos no bairro Humaitá, em Porto Alegre, já tinha sido tomada pela água, mas ele recebia notícias de sua mãe, Leidejane, até pouco antes da meia-noite, de que a situação estava sob controle. Quinze minutos depois, porém, mensagens mostravam que a água invadiu toda casa. A família formada por seus pais e seus dois irmãos, um de 14 anos e outro de dois meses, havia perdido tudo.

Todos saíram às pressas e se abrigaram na casa de dois andares do tio do soldado Robert, seu nome de guerra. A partir dali se intensificou o sofrimento do militar, que perdeu contato com a mãe e com os outros familiares. Muitas pessoas ficaram sem celulares durante as enchentes e não tinham como carregar os aparelhos.

— O capitão me liberou para ir em casa ver a situação. Não consegui chegar à minha casa. Cinco quarteirões antes, a água já havia tomado tudo. Fiquei mais apavorado nesse momento, porque perdi o contato com a minha mãe e minha família — contou o soldado à coluna.

Na noite de sábado, com a ajuda de seus colegas militares, Robert conseguiu acessar a casa de seu tio, resgatar sua mãe e todos seus familiares. Sete pessoas estavam ilhadas no segundo andar da casa há quase 24 horas.

O soldado Reidne Robert dos Santos é um dos cerca de mil militares do Exército que são vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul, mas que, mesmo assim, seguem na linha de frente das operações de resgate e abastecimento do estado.

Aldoir Maurício Veledo, 23 anos, o soldado Veledo, foi uma das vítimas resgatadas por colegas das Forças Armadas. Ele e sua família estavam ilhados no segundo andar da casa de seu irmão, em Porto Alegre, onde se abrigaram na noite de sexta-feira (3), após a sua residência ser invadida pela enchente, também no bairro de Humaitá.

No sábado, Veledo conseguiu contato com colegas do quartel e seu pedido de socorro foi atendido.

— Não há previsão para voltarmos para casa e nem será a mesma coisa, porque perdemos tudo. O que conseguimos salvar foi a comida que levamos para a casa do meu irmão, mas isso também acabou perdido. Eu tinha dois cachorros, um era bem velhinho, o Urso, que teve dificuldade de sair da casa, não sobreviveu. Conseguimos resgatar a mais nova, a Luna — contou.

Vinícius Cantu Cardona, 25 anos, também perdeu tudo na enchente. O soldado Cardona não precisou ser socorrido, mas viu seu apartamento em Porto Alegre ser tomado pela enchente. O militar saiu às pressas e conseguiu levar itens básicos para seu filho de quatro meses.

— Consegui salvar fralda para meu filho e roupinhas. Não deu muito tempo de pegar mais coisa, porque a água subiu muito rápido. Minha mãe está na casa do meu irmão em Viamão, minha esposa, com nosso filho, foi para a casa do tio, em Tramandaí. Fiquei em Porto Alegre para trabalhar — relatou.

Desde que perderam tudo na enchente, em 3 de maio, os soldados Robert, Veledo e Cardona se mudaram para o quartel e atuam na linha de frente das operações militares.

Prédio onde morava o soldado Cardona tomado pela água — Foto: Acervo pessoal

— O momento mais difícil foi ver meus pais perderem uma vida toda para água. Até agora, meu apartamento está embaixo d’água, que chegou ao terceiro andar do prédio. A sensação é de incapacidade. Foi uma uma vida construindo uma casa, e agora, tudo está perdido — resumiu Cardona.

Perguntados sobre as mentiras disseminadas nas redes sociais envolvendo o trabalho dos militares na tragédia, os soldados deixam claro o incômodo e a falta de conhecimento de quem faz os ataques.

— Foi criado o slogan “o povo pelo povo”, só que atrás da minha farda eu também sou povo, também perdi tudo, e acho que não conseguem ver isso. Tem muitos militares que perderam tudo, perderam pessoas e estão na linha de frente ajudando, resgatando pessoas, distribuindo alimentos, água — diz Cardona.

O soldado Robert reforça a posição do colega:

— Todos nós somos humanos. Várias pessoas tiraram fotos dos militares que estavam no descanso, depois de 48 horas de trabalho. Antes disso, esses militares salvaram dezenas de famílias — disse ele. Hoje, o soldado de 19 anos lamenta a perda de sua casa, mas afirma que o mais difícil de lidar hoje é a distância de sua mãe, Leidejane que está em um abrigo.

O GLOBO

3 respostas

  1. Soldados! Não vos entregueis a esses brutais … que vos desprezam … que vos escravizam … que arregimentam as vossas vidas … que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar … os que não se fazem amar e os inumanos.

    Charles Chaplin

  2. ______” O chamado DEUS dos Exércitos está sempre do lado da Nação que tem a melhor

    artilharia , os melhores generais “.
    ( Ernest Renan)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo