Militares são os encarregados das operações de maior urgência ou risco
Ethel Rudnitzki e João Barbosa
“Por que, em todos os vídeos que vejo, só tem civil salvando civil?”, questiona um usuário em uma publicação do Exército Brasileiro no Instagram mostrando o centro de operações da Operação Taquari 2 — montada para enfrentamento da crise gerada pelas enchentes no Rio Grande do Sul. O comentário, que minimiza a atuação dos militares na tragédia, recebeu quase 2.000 curtidas.
- Aos Fatos analisou os 100 comentários mais populares em 17 posts no Instagram do Exército, entre os dias 10 e 11 de maio, e constatou que cerca de 80% deles são hostis à instituição;
- A retórica se repete no WhatsApp, no qual foram identificadas 46 mensagens negativas sobre o Exército que circularam mais de 390 vezes, entre os dias 3 e 11 de maio, em grupos monitorados pelo Radar Aos Fatos.
As publicações refletem uma onda de hostilidade contra a ação de militares nas enchentes no Rio Grande do Sul. Em parte, essa tendência reflete o desespero real da população após as enchentes que deixaram mais de 600 mil pessoas sem casa, além de 147 mortos e 127 desaparecidos. Mas também se mistura com a desinformação que tomou conta das redes em meio à crise climática.
Nos grupos acompanhados, a maior parte das mensagens explicita a percepção de que o Exército estaria fazendo poucos esforços para auxiliar as vítimas no estado (24% dos comentários) ou que os resgates estariam acontecendo com atraso e lentidão (11% dos comentários). A força tem 90 unidades militares no Rio Grande do Sul, distribuídas em 29 cidades, subordinadas ao Comando Militar do Sul.
“Coturnos limpos e roupas secas… realmente estão ajudando a população acreditem”, diz um dos comentários no Instagram do Exército com quase 1,5 mil curtidas.
A desconfiança em relação ao trabalho dos órgãos governamentais — não só ao Exército— na tragédia se alastrou nas redes desde os primeiros dias. Mentiras espalhadas sobre a atuação do Estado omitiram informações essenciais, atrasaram o socorro e ampliaram a crise, como mostrou monitoramento do Aos Fatos.
Hostilidade. Desde janeiro de 2023, quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência, não é a primeira vez que o Exército tem sido alvo de ataques nas redes sociais. Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro passaram a publicar críticas e ofensas aos militares, acusando-os de associação com a esquerda e com o comunismo com o apelido “melancias”. A ofensiva teve episódios mais intensos no início do mandato e próximos a datas militares comemorativas, como o 31 de março e o 7 de setembro.
As críticas de agora, no entanto, têm um enfoque partidário menos literal. Apenas cinco dos 100 comentários analisados fazem menção a políticos ou partidos.
Operação de socorro. Os trabalhos da Operação Taquari 2 começaram em 30 de abril — data em que foram registradas as primeiras mortes pelas fortes chuvas, que tiveram início no dia 27 daquele mês. Na ocasião, as Forças Armadas enviaram 626 militares, além de 12 embarcações, 5 helicópteros e 45 viaturas, a 19 municípios que já se encontravam em estado de calamidade.
Até esta sexta-feira (10), as três forças (Exército, Aeronáutica e Marinha) já enviaram mais de 13,4 mil militares, 35 aeronaves e 105 embarcações ao estado. Já foram mais de 63 mil pessoas e 7.000 animais resgatados pelos militares, além da instalação de seis hospitais de campanha e arrecadação de 2.000 toneladas de alimentos pela campanha “Todos pelo Sul”.
Publicações nas redes do Exército mostram parte desse esforço, mas não têm sido bem recebidas nas redes sociais. A cada cinco comentários nas postagens do Instagram, um acusa a instituição de estar fazendo propaganda enganosa sobre sua atuação.
“Muita propaganda, pouca ação!”, diz mensagem com mais de 500 curtidas em post que mostra a mobilização de aeronaves da Aviação do Exército baseadas em Taubaté para o Rio Grande do Sul.
Desinformação. Parte dessas queixas é baseada na comparação entre a atuação de militares e de voluntários. Mais de 10% dos comentários em postagens do Exército sugerem que a iniciativa privada tem feito mais esforços que os militares. “Parabéns aos empresários, influencers do bem e a população por estar salvando muita, mas muita gente mesmo, já o exército sei lá, estão mais pra blogueirinhos. 🤦🏻♂️”, diz um dos comentários.
De fato, a ação de voluntários e da sociedade civil tem sido fundamental no auxílio de atingidos pelas enchentes. As Forças Armadas reconhecem isso. “Sem a ajuda de todos os voluntários, o socorro à população gaúcha seria muito mais difícil”, afirmou o Comando Militar do Sudeste em publicação nas redes sociais.
São os militares, porém, os encarregados das operações de maior urgência ou risco. “Os militares ou os centros de socorro estão sendo deslocados para locais que têm mais emergência”, afirmou o comandante Tomás Paiva à GloboNews.
Além disso, publicações em redes sociais mentem sobre doadores terem fornecido mais veículos para resgates do que o Exército. Pelo menos três comentários exageram a dimensão de doações feitas pelo empresário Luciano Hang e pelo influenciador Pablo Marçal, em comparação com esforços de militares.
Outras enganam ao alegar que o Exército estaria impedindo a ação de voluntários e civis. Correntes que foram compartilhadas em pelo menos seis grupos de Whatsapp monitorados pelo Radar Aos Fatos alegam que militares e outras autoridades estariam apreendendo ou exigindo documentação de veículos de resgate ou de transporte de doações.
A Brigada Militar do Rio Grande do Sul negou que esteja notificando condutores e recolhendo veículos aquáticos. A ANTT (Agência Nacional de Transportes) também afirmou estar garantindo “fluxo livre de donativos”.
Deboche. Além da desinformação, outra parte da insatisfação com o Exército está baseada em episódios reais envolvendo militares, que geraram reações negativas ou de deboche. Publicado pelo próprio Exército, vídeo que mostra operação logística para abastecimento de caminhão com água para doação foi ridicularizado. “Fizeram uma corrente humana pra passarem de 1 garrafinha por vez 🤣🤣🤣🤣🤣”, diz um dos comentários na postagem do Instagram.
Notícia sobre acidente entre um caminhão do Exército e um carro que deixou 3 mortos também foi compartilhada mais de 340 vezes no Whatsapp na última semana, acompanhada de comentários como “imagina se a gente depende do Exército numa guerra”.
Também viralizou vídeo que mostra um civil em um pedalinho ultrapassando um barco a remo do Exército em ruas alagadas. “E os barcos a remo??? Só pra exercitar ou matar mais rápido quem está esperando resgate”, questiona comentário com quase 600 curtidas.
A gravação também repercutiu em grupos de voluntários que fazem resgates em cidades afetadas no Sul. “Vários vídeos do Exército fazendo cagada”, ressaltou um dos membros do grupo. “O Exército é uma vergonha”, respondeu outro.
Incômodo. Informações enganosas sobre a atuação do Exército têm incomodado o alto comando dos militares. “A fake news desmotiva, espalha inverdade. Mas não podemos nos desmotivar com isso. Temos que estar o tempo todo mostrando o que está acontecendo e mostrando a verdade”, afirmou o comandante Tomás Paiva em entrevista ao G1.
Aos Fatos questionou o ministério da Defesa e o Exército sobre a hostilidade sofrida pelos militares nas redes sociais, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem.
Referências:
1. g1 (1, 2)
2. Aos Fatos (1, 2)
3. Ministério da Defesa
4. Agência Brasil
5. X (@cmse_ exercito, @brigadamilitar, @Metropoles)
6. ANTT
7. CNN Brasil
4 respostas
Os teóricos de ar condicionado oriundos da ECEME colaram as placas no sul …
escola que só forma medroso e carreirista …
A onda é bajular o lula pra conseguir a 4a Estrela
P.S. Caro Capitão Montedo, a comida está péssima em muitos quartéis depois do corte de 70% na defesa, vergonhoso … imagina o atendimento nos hospitais do EB como vai ficar … Ja é ruim … agora então…
Hmar em Recife não se consegue pega guias do fusex, nem se consegue marcar Cardiologista,gastro, Reumatologista, urologista, ortopedista, o hmar tá igualzinho a torre de Babel. Tem que a impressa fazer uma matéria sobre o fusex.
Interessante notar que falam em criticas aos militares por “apoiadores de Bolsonaro” mas a evidencia de que algo está muto errado é não se ver os milhões de eleitores e apoiadores do atual governo, nem sindicalistas, nem ONGs, nem movimentos sociais em massa comparecendo aos eventos públicos onde o atual presidente se apresenta.
O problema começa na própria imagem.
Enquanto um está com Farda nova brilhando e coturno novo limpinho, o outro está com Farda velha, gandoleta, coturno fosco.
Existe exército, mas não existe unidade. Existe General, mas não existe liderança. Só mais um dia até o dia 1º do Mês.