Ex-chefe do Exército e da Aeronáutica prestaram longos depoimentos à PF, enquanto Garnier recorreu ao direito de ficar em silêncio
Eduardo Gonçalves
Brasília – A defesa do ex-comandante da Marinha Almir Garnier afirmou que ele só vai prestar esclarecimentos à Polícia Federal após ter acesso à íntegra dos depoimentos do tenente-coronel Mauro Cid e dos também ex-comandantes Freire Gomes (Exército) e Baptista Junior (Aeronáutica).
Garnier, que foi alvo de um mandado de busca e apreensão, foi o único ex-chefe de Força que ficou em silêncio na PF. Freire Gomes e Baptista Junior foram ouvidos em uma ocasião, enquanto Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, já prestou quatro depoimentos. Os investigadores apuram uma suposta tentativa de golpe de Estado com a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro.
— Ele vai prestar todos os esclarecimentos quando tivermos acesso ao que os alvos falaram sobre ele — disse o advogado e ex-senador Demóstenes Torres, que defende o almirante.
Garnier foi implicado na suposta trama golpista na delação premiada de Mauro Cid. Ao ser apresentado ao plano golpista em uma reunião no Palácio da Alvorada, o almirante teria dito ao ex-presidente que a sua tropa estava pronta para atender a um chamamento do mandatário, segundo informações publicadas pela coluna de Bela Megale.
Em outubro do ano passado, Garnier também foi alvo de pedido de indiciamento no relatório da CPI do 8 de Janeiro pelos crimes de associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. A relatora da CPI, senadora Eliziane Gama (PSB-MA), afirmou no documento que ele “aderiu” ao plano golpista e “colaborou decisivamente” para o “desfecho” dos atos antidemocráticos, quando manifestantes bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes.
No dia em que foi deflagrada a operação, Garnier comentou a ação policial em uma mensagem enviada a pessoas próximas.
“Face a situação política de nosso país, fui acordado em minha casa hoje, às 6h15m da manhã, pela Polícia Federal. Estando acompanhado apenas do Espírito Santo, em virtude de viagem da minha esposa. Levaram meu telefone e papéis de projetos que venho buscando atuar na iniciativa privada. Peço a todos que orem pelo Brasil e por mim. Continuamos juntos na fé, buscando sempre fazer o que é certo, em nome de Jesus”, escreveu ele.
Chamados para depor à PF, a maioria dos militares alvos da operação decidiram recorrer ao direito de ficar em silêncio, como Garnier. Isso começou a mudar depois que Freire Gomes prestou esclarecimentos à PF na última semana. Segundo fontes a par das investigações, o general implicou diretamente Bolsonaro na suposta trama golpista.
Nos últimos dias, o coronel e ex-assessor de Bolsonaro Marcelo Câmara e o tenente-coronel Ronald Ferreira de Araújo protocolaram um pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) para que seja marcado uma nova oitiva. Os dois haviam optado pelo silêncio na primeira vez em que foram intimados.
“A defesa compreende que, após informes pela imprensa de que investigados teriam feito novos relatos, seria importante, mesmo com parcial conhecimento da acusação que há contra ele, esclarecer questionamentos de sua relação com Mauro Cid e os demais investigados, evitando especulações sobre sua participação, negada veemente em qualquer planejamento, ideia ou sugestão a abolição ao estado democrático de Direito”, informaram, em nota, os advogados João Carlos Dalmagro e Lissandro Sampaio, que representam Araújo.
Defensor de Câmara, o advogado Luiz Eduardo Kuntz disse ainda que, além de querer prestar esclarecimentos, ele está “aberto” a ouvir alguma proposta sobre colaboração premiada.
— A intenção é que ele seja ouvido, preste todos os esclarecimentos e demonstre estar contribuindo com a investigação. Se dessa contribuição for verificado, por parte de quem quer que seja, que é o caso de lhe oferecer qualquer tipo de benefício, estamos dispostos a ouvir a proposta que venha eventualmente a ser formulada a partir de suas declarações — disse ele.
O GLOBO
4 respostas
Garnier tá mais enrolado que papel higiênico molhado.
Vai dar um de Laland. Incrível como esses senhores estão se beneficiando daquilo que eles queriam derrubar, a democracia. Terão o direito ao contraditório, só depois de tudo isso que o Xandão vai largar a caneta.
Sua batata esta assando.
O devido processo legal imposto pela Constituição e regimes democráticos, isso tudo e os demais que esses “cidadãos” queriam derrubar, agora pleiteia seus direitos.