Sem dinheiro, veteranos do Exército que enfrentaram guerrilhas na Colômbia são recrutados a peso de ouro pela Ucrânia

Perdas humanas no front estão forçando russos e ucranianos a buscar combatentes até do outro lado do planeta para engrossar suas fileiras
Anatoly Kurmanaev e Isayen Herrera Em The New York Times — Neiva, Colômbia
Manuel Barrios se juntou à batalha contra as forças russas na Ucrânia porque um banco ameaçou retomar a posse da sua casa na Colômbia. Luis Alejandro Herrera voltou ao front para recuperar as economias perdidas em uma tentativa fracassada de entrar nos Estados Unidos através do México. Jhoan Cerón lutou para sustentar seu filho. Eles estavam entre as centenas de veteranos colombianos que se voluntariaram para lutar pela Ucrânia pela oportunidade de ganhar pelo menos três vezes o que ganham em casa. Todos os três morreram em uma guerra que seus parentes disseram pouco conhecer ou com a qual pouco se importavam.

— Ele disse que estava travando uma guerra em um país que não era seu por causa da extrema necessidade — disse a esposa de Barrios, Maria Cubillos.

As histórias dos colombianos destacam a natureza mutável da guerra na Ucrânia, que se transformou de uma luta rápida pela sobrevivência nacional numa guerra de desgaste. Grandes perdas e batalhas estagnadas estão forçando ambos os lados a procurar novos grupos de combatentes para reabastecer as suas fileiras.

Para a Ucrânia, os voluntários estrangeiros, majoritariamente ocidentais, que chegaram no ano passado por convicções morais, à procura de aventura ou pelo ódio à Rússia, estão sendo complementados por combatentes de nações mais pobres que se assemelham mais à definição legal de mercenários — soldados levados a conflitos estrangeiros por ganho financeiro.

— Arrisco-me a dizer que nenhum colombiano foi até lá para defender a democracia — disse Cristian Pérez, que se aposentou como franco-atirador no Exército colombiano, trabalhou sob contratos de segurança privada no estrangeiro e está considerando lutar na Ucrânia. — Não acredito que eles tenham ouvido falar da Ucrânia antes da guerra. Tudo se resume a motivações econômicas.

A Colômbia oferece um terreno fértil para o recrutamento porque décadas de luta contra as milícias e os cartéis de drogas deixaram o país com o maior Exército da América do Sul. Ainda assim, os combatentes estrangeiros constituem uma pequena fração das Forças Armadas da Ucrânia.

O inimigo da Ucrânia, a Rússia, teve de dar muito mais ênfase aos benefícios financeiros, incluindo seguros de morte e hipotecas subsidiadas, para atrair voluntários. E a Rússia também explorou a convulsão econômica global para recrutar combatentes movidos por necessidades financeiras, incluindo homens com experiência militar limitada da Ásia Central, Nepal e Cuba.

E à medida que o combate se transforma numa guerra de trincheiras brutal e inconclusiva, as motivações materiais se tornam ainda mais proeminentes.

Os militares ucranianos não forneceram estimativas para os combatentes colombianos ou outros combatentes estrangeiros nas suas fileiras, alegando segurança operacional. O governo da Colômbia também não forneceu números, sublinhando que os voluntários, embora ainda cidadãos, já não têm vínculos com instituições colombianas.

Entrevistas com quatro voluntários colombianos que serviram na Ucrânia, bem como uma análise de mensagens de áudio e de texto enviadas por combatentes locais, indicam que centenas de voluntários colombianos estão no país.

— Acolhemos com satisfação a ajuda de todos os cidadãos do mundo que estão prontos para combater o mal — disse Oleksandr Shahuri, porta-voz de uma das principais unidades militares que empregam voluntários colombianos, a Legião Internacional para a Defesa da Ucrânia, também conhecida como Legião Estrangeira.

Treinados em combate
Uma nação de 50 milhões de habitantes, a Colômbia exporta há muito tempo combatentes experientes. Uma aliança de segurança com os Estados Unidos tornou os seus soldados alguns dos mais bem treinados e equipados da América Latina, e o combate prolongado lhes proporcionou experiência igualada por poucas forças armadas tradicionais.

Para os homens colombianos pobres, os militares oferecem há muito tempo um dos poucos caminhos legais para alguma segurança financeira. Os soldados profissionais reformados na Colômbia recebem uma pensão mensal vitalícia de US$ 400 a US$ 600, bem como cuidados de saúde gratuitos para as suas famílias.

Ainda assim, esses benefícios muitas vezes não são suficientes para fazer face às despesas e muitos percebem que as competências que aperfeiçoaram nas selvas e montanhas têm pouca utilidade na vida civil.

— Tudo o que sabemos é como usar armas — disse Andrés, um soldado colombiano reformado que serviu na Ucrânia e pediu que o seu sobrenome fosse omitido por medo de prejudicar as suas perspectivas de carreira.

A guerra na Ucrânia dá aos veteranos colombianos uma rara oportunidade de mudar a sua sorte, enquanto lutam por um governo reconhecido internacionalmente e apoiado pelos Estados Unidos.

— Ele sempre teve a ambição de ser algo mais — disse Paola Ortiz, viúva de Herrera, que retornou à Ucrânia para uma segunda viagem este ano depois de ser deportada dos Estados Unidos. — Ele queria mandar os filhos para a faculdade, comprar uma casa, abrir um negócio.

Processo de voluntariado
Rumores sobre oportunidades de combate na Ucrânia começaram a se espalhar nos grupos de conversa dos veteranos da Colômbia no ano passado, à medida que a afluência inicial de voluntários ocidentais idealistas ao país começou a estabilizar. Mais de uma dezena de veteranos colombianos e seus familiares descreveram em entrevistas o processo de voluntariado.

Os homens colombianos viajam sozinhos para a Polônia, muitas vezes vendendo bens valiosos, como carros, para pagar a viagem. Na fronteira com a Ucrânia, usam aplicativos de tradução para dizer aos guardas de fronteira que têm experiência militar e querem lutar pela Ucrânia. Uma vez dentro do país, eles se apresentam em uma base militar na cidade ocidental de Ternopil.

Após uma entrevista e um exame médico superficial, eles são colocados em uma lista de espera para um dos dois principais destinos dos combatentes latino-americanos: a Legião Estrangeira ou o 49º Batalhão de Infantaria dos Cárpatos Sich.

Então, eles abrem uma conta bancária local e enviam cartões de débito para suas famílias, permitindo-lhes sacar os ganhos em um caixa eletrônico colombiano.

Os soldados colombianos disseram que recebiam cerca de US$ 3 mil (cerca de R$ 14 mil) por mês em moeda ucraniana, aproximadamente o mesmo que recebem os soldados locais.

No front, disseram ter encontrado uma guerra muito diferente daquelas que conheceram contra os insurgentes. O combate corpo a corpo com armas automáticas em terreno densamente coberto foi substituído por bombardeios em áreas expostas. E lá não podem contar com a superioridade aérea de que desfrutavam na Colômbia para ataques aéreos ou evacuações.

— Aqueles que querem vir para cá, pensem bem primeiro — disse um colombiano numa mensagem de áudio enviada a um grupo de bate-papo de veteranos em outubro. — A Colômbia é uma brincadeira de criança comparada com a situação aqui. Quando um míssil explode perto de você pela primeira vez, é quando você vê o diabo em pessoa.

O homem, cuja identidade foi ocultada porque não estava autorizado a falar com a mídia, disse que dos 60 colombianos que se juntaram a ele, apenas sete permaneceram. O restante foi morto, ferido ou voltou para casa depois de algumas semanas no front.

Depois de chegar à Ucrânia em Fevereiro, Barrios disse à sua esposa que os combates eram mais perigosos do que ele esperava. Ele decidiu ir para a Ucrânia depois que o banco ameaçou retomar a posse de sua casa semanas depois de sua esposa ter dado à luz seu terceiro filho.

— “Volte, não me deixe sozinha com as crianças”, eu dizia — disse Cubillos em entrevista na cidade colombiana de Neiva. — Mas ele apenas repetiu: “Não, querida, tenho que salvar a nossa família”.

Barrios morreu num ataque com mísseis depois de 20 dias no front, cedo demais para ganhar pelo menos um contracheque.

O Globo

12 respostas

  1. a grana é boa mas precisa ser um Combatente experiente e competente. Se houver alguma descendência fica mais fácil e o Soldo fica maior.

    Por isso, e por gratidão, tomei a iniciativa de inscrever no voluntariado alguns militares:
    Trairovsk, Seubarigovsk, Bragovsk, Indiovsky, Robovisk, Gardenovsk, Machõvisk, Ramovsky;
    Mais o apoio: para cuidar do material, alguém que tenha experiência em Arsenal, para diversão da Tropa, Zambelovna e o Trampovsky, no caso de algum espólio de guerra. Os ucranianos podem levar todos pelo preço de um.

  2. Tenho experiência em continencia da guarda, formatura, e contei todos os saltos que fiz treinando (nenhum foi em TO, lógico).
    Acho que vou fazer uma poupança hein… se me aceitar, a carona de brabão eu tenho…. E não tenho medo de missil cair que sou E De TAF, fui treinando para correr

  3. O ex Presidente Bolsonaro deixou os nossos veteranos sem dinheiro, à mingua e passando privações, com a lei do mal 13954/19. Que só beneficiou os Oficiais da Ativa e veteranos.

  4. Uma boa oportunidade de ganhar um aumentozinho salarial.
    A fim de corrigir as distorções da Lei do general.
    De repente sai até umas promoções meteóricas.

  5. Não se iludam. Os militares colombianos sim tem experiência de combate. Por isso as restrições e rejeição aos militares brasileiros. Só sabem participar de formaturas, marchas, aprontos operacionais infindáveis, fazer o TAT uma vez ao ano (recruta é só o TIB), continência da guarda… ah já ia esquecendo: faxinão com especialização em pintura de meio fio. A operacionalização no EB principalmente é uma piada…

  6. Aqui no brasil não seria diferente. Dependendo da oferta muitos teservistas e veteranos iriam sim com Certeza.aqui tbem existem militares e veteranos com dificuldades financeiras pela falta de investimento nos salários. Eu não pensaria duas vezes emnservir seja qual for o pais em guerra por um bom salário

  7. Vou levantar uma grana como “mercenario” , vou mandar meu Currículo de 30 anos de EB. Especialista em guarda de honra e formatura. experiencia Em comando: comandante da guarda, Comandante do Pelotão Especial de Faxina. Experiência no estado Maior: adjunto do Comando, Função de combate: TAT 12 tiros por ano. Missões especiais: Responsável pelo bolao da megasena da 4 Seção; Responsável pela cota do Cafezinho; Desempenho Físico: atividades de baixo impacto: caminhada e no meu tempo nao tinha watsap, o nome era o TELETAF, agora eu Não sei. BREVES E MEDALHAS: MOPP, Datilografia, CTG Bage, Amarelo Cartepiler, SEMPRE PRONTO! 30 anos de servico, cancao do expedicionario, amantes da FEB. Espero ser selecionado.

  8. E aqui no Brasil chegaram a cogitar o adiantamento de um soldo no início do ano para o estamento inferior pagar as contas, que seria descontado em parcelas. Só AFUNDARIA ainda mais quem já está pagando consignado, desde que a lei perversa começou a vigorar.

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