Apartar a política dos quartéis

Em foto de 2018, Bolsonaro em cerimônia de graduação das Agulhas Negras (Reuters)

EDITORIAL
Os militares podem ser protagonistas da consolidação do nosso Estado Democrático de Direito

O Dia da Independência traduz por tradição o protagonismo dos militares na vida nacional. Por suas vicissitudes de formação, Exército, Marinha e Aeronáutica são muito mais voltados para as questões internas do que para a projeção geopolítica de poder nacional, cujo protagonismo é da nossa diplomacia, desde o Barão do Rio Branco. Com exceção da Guerra do Paraguai e da participação da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial, as Forças Armadas sempre atuaram no sentido de manter a segurança interna e a integridade territorial, como na Confederação do Equador, na Balaiada, na Cabanagem e na Revolução Farroupilha, ou impor a ordem política pela força, como na Revolução de 1930 e ou no golpe militar de 1964.
Por essa razão, apesar do apelo dos desfiles, o Dia da Independência é uma festa cívico-militar. Não é uma comemoração predominantemente civil, como deveria ser, pois é o sentimento de brasilidade o maior sustentáculo da identidade nacional. Durante o governo Bolsonaro, porém, as comemorações foram partidarizadas com intenções claramente golpistas. Predominavam o saudosismo do regime militar e a radicalização política de extrema-direita, sob liderança do próprio presidente da República, sob hegemonia dos que veem na democracia os males do Brasil e não o seu maior patrimônio institucional.
No 7 de Setembro de 2021, por exemplo, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) convocou seus apoiadores a saírem às ruas e protestar contra o Congresso, o Poder Judiciário, a mídia e o Congresso Nacional, após semanas de tensão e especulações sobre a preparação de um golpe de estado. Essas intenções não se consumaram devido à forte reação da sociedade civil, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, além da péssima repercussão internacional.
Com a segunda maior força militar das Américas, o Brasil tem um efetivo de 344.500 militares. Não somos, porém, uma potência militar. Mantemos boa convivência com os nossos vizinhos, inclusive a Venezuela, com quem congelamos as relações durante o governo Bolsonaro. Somos signatários do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, embora tenhamos tecnologia nuclear própria, e somos contrários à militarização do Atlântico Sul, apesar do projeto de construção de um submarino nuclear para aumentar nossa capacidade de dissuasão.
A partir da Guerra das Malvinas, a velha doutrina de segurança nacional ancorada na guerra fria se tornou obsoleta, apesar dos saudosistas. Em seu lugar, uma nova política de defesa está em construção, com centralidade na defesa da Amazônia e das nossas águas territoriais, na modernização das Forças Armadas e no desenvolvimento da nossa indústria de defesa. Entretanto, esses esforços foram minados pelo envolvimento dos militares com a política, um claro desvio de finalidade.
Corporativismo, sentimento de superioridade em relação aos civis, partidarismo e ambição de poder nunca devem ser cultivados nas Forças Armadas, mas foi o que aconteceu nos últimos anos. A forte presença dos militares no governo Bolsonaro reforçou esses sentimentos negativos, além de ter desgastado as Forças Armadas junto à sociedade civil, por causa de subserviência aos desmandos autoritários do então presidente da República e do triste papel desempenhado por alguns militares à frente do Ministério da Saúde, durante a pandemia. Três décadas de reconstrução de imagem pública foram desperdiçadas nesse período.
O 7 de Setembro deste ano é uma oportunidade de mudança de paradigma. Os militares podem ser protagonistas da consolidação do nosso Estado Democrático de Direito, seja pelo resgate da austeridade e das suas missões específicas, seja pelo reposicionamento como uma instituição de um Estado Democrático. Para isso, é preciso afastar a política dos quartéis e aperfeiçoar a legislação que atribui aos militares o papel de garantir a lei e a ordem, quando solicitado pelos Poderes da República.
O ESTADO DE MINAS

27 respostas

    1. anônimo 5 setembro 2023 às 08:04

      Kkkkkkkk o pior é que esses ai que vc citou não vão ter nem os 9%. Kkkkkk

      Ao invez de lutarem pelo justo reajuste fizeram o l por pura birra. Invejando o próximo e querendo tirar deles o seus direitos.

  1. O Senhor das joias conseguiu manchar vergonhosamente a imagem das Forças Armadas e também dividí-la com a lei 13.954, onde trouxe altos benefícios para os generais, almirantes, brigadeiros e oficiais superiores, mas prejuízos financeiros para graduados veteranos e pensionistas de praças…infelizmente!!!

    1. Nunca em momento algum a mídia dá importância a situação de penúria em que vivem os praças das FFAA!!
      Mesmo nas GLOs para “cobrir” a greve (motim) das Polícias Militares, nunca trouxeram a público que aqueles soldados que estavam substituindo os policiais recebem menos da metade dos salários dos grevistas (amotinados).
      Lula é o Expoente Máximo do descaso com a Caserna…o presidente das “migalhas”!

  2. Esse ente tem uma aura ruim ou algo parecido, é tóxico, quem se aproxima se dá mal, vários já se deram mal, deveria ter um sinal de advertência nas costas, fuja “loco véio” , rsrsrsrs.

    1. Com ou sem os 9% de aumento para os militares não resolveriam os problemas causados pela lei 13.954, pois seja inteligente e pensa um pouco que não dói, porque qualquer aumento neste momento só aumentaria a desigualdade salarial entre ativa e a reserva e as pensionistas praças…é difícil de entender, hem!!!

    2. Ele poderia ter resolvido o problema da lei 13.954 em 2022 e nada fez, então não há como saber se caso ele tivesse sido reeleito faria algo em 2023.

      1. Com certeza absoluta não faria nada, pois Ele mesmo disse para um Suboficial da aeronáutica no cercadinho em Brasília que seria bom que as forças armadas fossem para o regime geral da previdência social…palavras do minto!!!!

  3. Nunca vão apartar a política dos quartéis. É através dela que muitos coronéis e generais conseguem cargos comissionados ao passarem para a Reserva.

    Vejam como o general que foi preso semana passada conseguiu o cargo de secretário de segurança.

    Resposta: política, muitos contatos políticos, muitos convites para políticos.

    Assim, não vão apartar da política. O que vão fazer é engabelar a todos transformando militares em cidadãos de segunda categoria.

    Mas a política continuará a frequentar os convescotes nos cassinos de oficiais.

  4. Não precisa dar aumento não no soldo, Bastaria o Governo dar os 41% de disponibilidade, que ele deu para os Generais,na reestruturação da carreira, para os praças das Fôrças Armadas , Esse 9%. no soldo, o ano que vem , não vai resolver nada, só vai beneficar os generais novamente., que já tem om bom Vencimentos.Apenas uma idéias para o Governo, ser mais justos com os praças, será que não tem alguém inteligente ai?.para ver isso.Mexe na Habilitação Militar dos praças ta,bém, O Governo riai economizar bilhoés nessa mexidas,. da dada a dica, Ministro da defesa.

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