A nova estratégia jurídica do tenente-coronel Mauro Cid teve grande repercussão política, mas não deve garantir a ele nenhuma boa vontade onde realmente interessa: a Polícia Federal.
Malu Gaspar
O advogado que assumiu nesta semana a defesa do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro deu entrevistas nos últimos dias afirmando que Cid vai confessar que vendeu nos Estados Unidos o Rolex recebido de presente da Arábia Saudita por ordens do presidente Jair Bolsonaro.
Mas, de acordo com investigadores que trabalham no inquérito sobre a venda (e a posterior recompra) das joias sauditas, não há nenhum interesse na confissão do tenente-coronel.
“Essa confissão que ele quer fazer não acrescenta nada ao que já sabemos. As provas que reunimos já mostram que ele vendeu o relógio e que fez isso por determinação do ex-presidente”, diz um investigador envolvido no caso. “Se for para confessar o que a PF já sabe, melhor ele esperar para tentar usar a confissão no julgamento e reduzir a pena.”
Desde que entrou no caso em nome de Cid, na última quarta-feira, o criminalista Cezar Bitencourt já deu duas versões diferentes para a venda das joias sauditas.
Cid teve a prisão preventiva decretada pelo ministro do Supremo Alexandre de Moraes em maio e desde então está encarcerado no Batalhão de Polícia do Exército, em Brasília.
Na quinta-feira, Bitencourt disse à revista Veja que Cid confessaria a negociação de joias subtraídas do patrimônio da Presidência sob ordens de Bolsonaro.
Mas nesta sexta-feira, em entrevista ao programa Estúdio i, da Globonews, ele recuou e disse que o ex-ajudante de ordens operou a venda de uma única joia, um Rolex.
Ao explicar o que foi feito do dinheiro, foi confuso. Disse que não sabia ao certo, mas que achava que tinha sido transportado nos bolsos de alguém, e entregue ao ex-presidente ou à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Bitencourt também afirmou na entrevista que Mauro Cid pretende prestar um novo depoimento à PF, mas os investigadores ainda não receberam nenhum contato da equipe do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
De todo modo, afirmam não ter “nenhuma pressa” de ouvir nem Cid filho e nem o pai, general Lourena Cid, que emprestou sua conta bancária nos Estados Unidos para receber os US$ 68 mil pagos pelo Rolex de platina cravejado de diamantes por uma loja da Pensilvânia.
Tanto os Cid como o ex-presidente Bolsonaro e o advogado Fred Wassef, que foi ao Estados Unidos em março para recomprar o Rolex e devolver ao Tribunal de Contas da União (TCU), devem ser ouvidos no bojo desse inquérito – mas, em principio, a ideia é ouvi-los só mais para o final, quando as perícias nos celulares apreendidos e outras diligências já tiverem terminado.
Claro que nada disso elimina o interesse da Polícia Federal em uma delação premiada do ex-ajudante de ordens. Mas, se quiser entrar em acordo com a PF, Cid terá de falar mais do que já falou. Bem mais.
O Globo
4 respostas
‘Sei dos riscos que corro em solo brasileiro’,
Alô! PF!!! já está dando indícios que vai fugir para os EUA…
O Cidinho pra pegar só uns 10 anos, vai ter que falar muito, tudo é mais um pouco, com provas. Sua carreira já jogou fora, deve estar consciente disso.
Não adianta, pois tudo que ele falar a PF e o Judiciário já sabem, no entanto se quiser cooperar abra a boca – em delação – e de boa fé fale tudinho, inclusive confesse os próprios crimes, pois se não a delação é inválida.
O exército não sai das páginas policiais, mas o Comandante do Exército não manda abrir uma FATD.
O Exército é muito ágil contra as Praças. Mesmo que nada lhes dê razão, a Arrogância e prepotência lhes dão. Acreditar que o EB vai Punir alguém, vai de encontro com a ideia que é de defender, a todo custo, quem for pego pela cauda, para o bem das FFAA…não! Para o bem de alguns militares. Quase quarenta anos, é o primeiro Sete de Setembro que não vou, por uma simples razão: não prestígio quem defende Bandidos, seja quem for.