Agenda identitária do PT não pode ir para instituições militares de ensino, diz Aldo Rebelo

Aldo Rebelo e Villas Boas

Titular da Defesa no governo Dilma diz que Forças Armadas devem parar de ‘celebrar episódios que dividiram’ o país, em referência à ditadura, mas afirma que também existem ‘enganos’ por parte do PT

Bernardo Mello

Ministro da Defesa no governo Dilma Rousseff entre 2015 e 2016, Aldo Rebelo avalia que a troca de comando do Exército no primeiro mês da gestão Lula traz à tona uma “desconfiança” entre Presidência e Forças Armadas. Ele criticou a “agenda da Guerra Fria” alimentada por membros das Forças que “celebram episódios que dividiram o Brasil” — nos quatro anos de governo Bolsonaro, os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica publicaram notas elogiosas ao golpe de 1964.

Segundo Rebelo, contudo, as “resistências ao PT” na caserna são causadas por “enganos de parte a parte”. Ele acusa setores petistas de tentarem propagar uma “agenda identitária de divisão do país”, inclusive dentro de instituições de ensino das Forças Armadas.

As Forças Armadas se alinharam à agenda de Bolsonaro?

O ex-presidente Jair Bolsonaro sempre gozou do apreço e do apoio dos graduados das Forças Armadas, o que causava algum desconforto na hierarquia da instituição. O prestígio do então deputado Bolsonaro entre os militares era fruto de sua atuação sindical em defesa dos graduados. Na Presidência, tentou levar sua influência para a alta oficialidade, mas encontrou resistências, como prova a destituição dos três comandantes militares e do seu então ministro da Defesa, o competente general Fernando Azevedo e Silva (em março de 2021). É evidente que há resistências ao PT nas instituições militares, produzidas por enganos alimentados de parte a parte e que precisam ser superados.

Que tipo de enganos?

Setores do PT precisam desistir da ideia desarvorada de levar sua agenda identitária de divisão do país para dentro das instituições de ensino das Forças Armadas. E setores das Forças Armadas precisam sepultar a agenda da Guerra Fria e parar de celebrar episódios que dividiram o Brasil e se preocupar em fortalecer nos seus currículos a defesa da unidade do país.

Considera acertada a troca de comando do Exército?

A gravidade maior é a desconfiança entre duas instituições fundamentais do poder nacional: a Presidência da República e as Forças Armadas.

O general Tomás Paiva discursou em defesa do resultado das urnas e posou cumprimentando Lula após assumir o comando do Exército. São gestos que marcam uma diferença para o general Júlio César Arruda?

A ironia de tudo isso é que o general Tomás estaria apenas reproduzindo orientações do próprio general Arruda para a situação. Respeitar o resultado das urnas sempre foi o pensamento predominante do Exército, e, ao que consta, o general Arruda nunca cogitou outra hipótese, pois sempre foi um oficial disciplinado e legalista, segundo todos os testemunhos que colhi de seus colegas de caserna. (No dia 8 de janeiro) Houve uma pane generalizada no setor de inteligência encarregado de abastecer de informações os responsáveis pela mobilização dos dispositivos de segurança para proteger as dependências físicas dos três Poderes. Houve negligência ou cumplicidade? É precipitado qualquer julgamento antes de uma averiguação criteriosa e rigorosa.

Lula já dispensou 90 militares que atuavam no Planalto. Há risco de animosidade com as Forças Armadas?

O presidente é o comandante supremo das Forças Armadas. Isso exige a combinação de imposição da hierarquia e da disciplina com as sanções, quando necessárias, mas também a proteção da honra e da dignidade da instituição comandada e de seus integrantes.

A permanência por meses de acampamentos com pedidos de intervenção militar diante de quartéis cria um vínculo entre Forças Armadas e atos golpistas?

As Forças Armadas nunca deveriam ter permitido o uso de áreas adjacentes às unidades militares para acampamentos de grupos políticos ou ideológicos. É um precedente grave que mesmo os governos militares sempre evitaram, tratando com desdém aqueles que o presidente Castelo Branco qualificou de “vivandeiras”, que se dirigiam aos bivaques para bulir com os granadeiros. As cercanias dos quartéis são áreas de segurança nacional que não se prestam a acolher manifestações políticas de qualquer natureza.

O Globo/montedo.com

4 respostas

  1. O aldo Rebelo foi ministro da Defesa e conseguiu ganhar respeito junto aos oficias, mesmo sendo a sua origem politica o PCdoB. Após ler a sua entrevista percebe-se Alguém ponderado, com Conhecimento da Instituição. Concordo com ele em relacao a uma agenda que ja deveria ter sido superada e que ainda permeia as FA que e a agenda da guerra fria, que ja deveria ter sido superada com a queda do muro de Berlim e no ultimo desgoverno foi pauta encampada pelas FA Novamente.

  2. Meses de golpismo não aconteceu nada.
    De uma hora pra outra aparecem Ônibus de toda a parte do País tipo ação coordenada de invasão mst.
    segundo comentários correntes Todos os Órgãos de segurança e inteligências avisaram com antecedência o que ocorreria.
    Ouvidos moucos, ninguém sabia foi surpresa.
    Ah tem empresários financiando, tem alguém coordenando, o Exécito (assim mesmo pronunciam) é culpado.
    Então: CAÇA ÀS BRUXAS.
    Crise ianomâmi.
    Exoneram-se “culpados”
    Tiros Começam sair pela culatra.
    Quem vai com muita sede ao pote morre afogado.

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