Quase 1,6 mil militares receberam mais de R$ 100 mil líquidos por mês este ano

supersalarios

De janeiro a maio de 2022, 1.559 oficiais foram agraciados com pagamentos que superaram a centena de milhar; maior vencimento foi de R$ 603 mil livres, já após descontos

André Shalders e Daniel Weterman
De janeiro a maio deste ano, 1.559 militares das três Forças Armadas tiveram pagamentos líquidos de mais de R$ 100 mil por mês. Juntos, os profissionais receberam R$ 262,5 milhões já depois dos descontos, como Imposto de Renda e contribuição para a Previdência dos militares.
A lista dos beneficiados inclui oficiais que integraram o governo de Jair Bolsonaro (PL), como o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello – em março, o general teve rendimentos líquidos de R$ 305,4 mil, ao passar para a reserva remunerada do Exército.
O ex-ministro da Saúde, porém, está longe do topo da lista dos maiores contracheques militares deste ano. O número 1 do ranking é um coronel, lotado no Comando do Exército, chamado James Magalhães Sato, de 47 anos. Em abril deste ano, o pagamento líquido devido a ele foi de R$ R$ 603.398,92, valor correspondente a 38 anos dos rendimentos de um trabalhador que ganhe o salário mínimo atual, de R$ 1.212. O montante também é cerca de mil vezes maior que o Auxílio Brasil, que terá valor médio de R$ 607 em agosto, segundo o governo.
O nome de Sato é mencionado numa decisão de julho de 2020 da Justiça Militar. Em 2006, ele foi denunciado junto com outros 38 combatentes numa investigação que apurou supostas “fraudes licitatórias e contratuais” no Comando Militar da Amazônia, decorrente da Operação Saúva, da Polícia Federal. No entanto, o coronel foi absolvido de todas as acusações contra si, apesar de vários empresários e militares terem sido condenados.
No cadastro do Exército, Sato aparece como “militar da ativa”. A remuneração básica do coronel é R$ 22,4 mil, mas, em abril deste ano, os rendimentos foram aumentados por uma verba de R$ 733,8 mil recebida sob a rubrica de “outras remunerações eventuais”. O campo das “observações” informa que se trata do pagamento de “valores decorrentes de atrasos”, sem maiores detalhes. A reportagem do Estadão tentou contato com o coronel, mas não houve resposta até o momento.

Justificativa
A mesma justificativa é apresentada no caso de Eduardo Pazuello. Em março, a remuneração básica bruta de R$ 32 mil foi acrescida de verbas indenizatórias que somam R$ 282,6 mil em março deste ano, resultando em vencimentos líquidos de R$ 305,4 mil. Novamente, a informação disponível nos dados abertos do Portal da Transparência é a de que seriam “valores decorrentes de atrasos”. A reportagem também procurou Pazuello, mas não obteve resposta.
O segundo maior vencimento líquido até o momento pertence a um Major-Brigadeiro da Aeronáutica, que atua desde fevereiro no Quarto Comando Aéreo Regional (IV COMAR), sediado em São Paulo, junto ao aeroporto do Campo de Marte. Em março deste ano, a rubrica “outras remunerações eventuais” no contracheque do militar teve o valor de R$ 376,8 mil, resultando em rendimentos líquidos de R$ 405,7 mil. A justificativa é a de que o militar está “em ajuste de contas” – ou seja, se preparando para deixar a ativa.
A Aeronáutica também proporcionou um pagamento líquido de quase R$ 400 mil a um outro Major-Brigadeiro do Ar que atua na área de Ensino da instituição. Graças a “remunerações eventuais” de R$ 377 mil, o major obteve, líquidos, R$ 398,5 mil. O valor é mais de dez vezes o salário de um ministro do STF, de R$ 39,2 mil. As informações foram levantadas pela reportagem do Estadão, usando os dados abertos do Portal da Transparência, e pelo gabinete do deputado Elias Vaz (PSB-GO), usando a mesma fonte.
Procurado, o Ministério da Defesa apenas reencaminhou uma nota já enviada dias antes ao Estadão. Segundo o texto, “os valores referem-se à remuneração mensal e a indenizações pontuais e a atrasados. Essas indenizações são relativas ao recebimento de férias não usufruídas ao longo da carreira, ou a outros direitos, que são calculados na ocasião da passagem dos militares para a reserva”.
“Cabe ressaltar que as Forças Armadas cumprem, rigorosamente, a legislação que rege o pagamento de seus militares e servidores civis. Os valores são lançados no Portal da Transparência e são submetidos à fiscalização dos órgãos de controle”, diz ainda a nota do ministério. Os comandos de Marinha, Exército e Aeronáutica também foram procurados, mas ainda não se manifestaram.

“Supersalários”
Nos últimos meses, alguns militares se aproximaram da cifra de R$ 1 milhão. Levantamento feito pela equipe do deputado Elias Vaz encontrou o caso de um militar da Aeronáutica cujos vencimentos brutos foram de R$ 818.902,09 em junho de 2021 – este é o montante antes dos descontos. Em novembro passado, os rendimentos brutos de outro aeronauta, que ocupou o posto de diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) chegou a R$ 719,7 mil.
Na semana passada, o Estadão publicou levantamento elaborado por Vaz como parte de um Requerimento de Informações (RIC) dirigido ao Ministério da Defesa sobre os rendimentos dos militares. O general Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro, obteve rendimentos que somaram R$ 926 mil em dois meses de 2020, no auge da pandemia de covid-19 – só de férias, o general recebeu R$ 120 mil. Segundo os dados obtidos pelo parlamentar, alguns oficiais e pensionistas bateram a marca de R$ 1 milhão em rendimentos em um único mês – Vaz agora aguarda explicações da Defesa sobre o que ele classificou como “supersalários”.
Além de Braga Netto, também tiveram rendimentos elevados o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, o general Luiz Eduardo Ramos, e o ex-ministro de Minas e Energia, o general Bento Albuquerque. Em maio e junho de 2020, Albuquerque teve ganhos brutos de R$ 1 milhão. Já Ramos viu seus rendimentos chegarem a R$ 731,9 mil. Procurados, Braga Netto e Bento Albuquerque não responderam. Ramos disse que os valores têm caráter indenizatório ou de ressarcimento relativos à sua ida para a reserva.
Após a publicação da reportagem, o Ministério Público representou junto ao Tribunal de Contas da União para barrar os pagamentos dos “supercontracheques” aos militares mencionados.
“Ainda que fosse possível argumentar, de alguma maneira insondável, a compatibilidade dos pagamentos feitos com o princípio da legalidade, os pagamentos em questão permaneceriam incabíveis dada a total insensatez do período em que foi realizado (pandemia em que a população brasileira sofreu elevadas perdas econômicas), sendo completamente contrário às boas práticas administrativas, ao princípio da eficiência e ao interesse público”, escreveu o procurador Lucas Furtado, autor da representação.
Terra/montedo.com

16 respostas

  1. Boa noite eu como Cap QAO fui um que nos citados meses recebi mais de 100.000,00 por mês, e não foram uma vez não foram duas vezes, 8 vencimentos brutos de Cap QAO + 1 férias vencidas+ 1/3 das férias vencidas e cinco meses depois os 6 vencimentos da LE que eu não tirei + obviamente os salários normais, pelo menos no meu caso e no de outros normalíssimo.

  2. sim verde oliva, a coisa tá feia e parcela rindo à toa
    depois veem com a “esborragia” de ‘juntos somos fortes’
    espírito de corpo, amor a profissão, união, braço forte mão amiga
    com 100 ‘K’ por mês é mole
    enquanto isso…
    continuam transferindo graduados para o Rio e SP
    baixo soldo/alugueis caríssimos
    covardia é pouco

  3. Como Sgt QE, vejo isso tudo, com muita tristeza. quantos praças e pensionistas e , reformados, passando necessidades, alugueis atrasados e outras coisas, Depois de 30 anos de serviços. levamos essa cacetada, de alguém que deveria olhar por nós, praças.da reserva e Reformados triste não Deus seja Louvado,

  4. O subprocurador-geral do Ministério Público junto ao TCU Lucas Rocha Furtado recebeu, entre os anos de 2015 e 2018, mais de R$ 200 mil em auxílio-moradia mesmo sendo dono de uma mansão avaliada em R$ 4,5 milhões.

    1. Como tem gente hipócrita, fazendo comentários idiotas, fazendo de conta que não conhecem a lei.
      Esses militares foram para a reserva e receberam as indenizações a que fazem jus (férias, 8 vemcimentos, pecúnia de LE).
      Duvido que o CPEx ou a DCIPAS concordassem em pagar algo que não lhes fossem de direito.
      O que me espanta é esse pessoal ficar insinuando as coisas…
      Pode investigar que não irão encontrar nada de errado.
      Deveriam falar, também, que militar não tem FGTS, que seria uma indenização muito maior que essas 8 remunerações.
      Quanto receberia um militar com 40 anos de serviço, ao ser transferido para a reserva?
      Algum desses “indignados” que se manifestaram poderiam dizer?
      Algum desses indignados, por acaso” se recusou ou se recusará a receber, as suas indenizações quando passou, ou passar, para a reserva?

  5. A imprensa faz ilação sem saber os motivos que levaram a esses valores de pagamento. E colocando todo mundo como suspeito. O caso do coronel Sato, eu o conheço e e o mais explícito em que o jornalista faz a matéria se atem apenas ao valor, sem saber os motivos que levaram a esse pagamento como se fosse irregular. O militar em questão ficou sub Júdice no posto de capitão, e o processo durou quase 20 anos. No final ele foi absolvido, com isso veio a promoção ao posto que ele teria direito e a diferença salarial atrasada. Ou seja, não tem nada de ilegal e imoral. Apenas um jornalista querendo fazer sensacionalismo com o Exército, como se fosse comum e corriqueiro esses pagamentos.

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