Vídeo flagra momento em que perito morto por militares da Marinha é agredido e sequestrado

Perito Renato Couto foi morto por militares da Marinha no Rio (Arquivo pessoal)
A van utilizada pelos assassinos pertence à Marinha — Foto: Reprodução

A van utilizada pelos assassinos pertence à Marinha — Foto: Reprodução

Imagens obtidas pelo GLOBO mostram o momento em que o policial civil Renato Couto é imobilizado e colocado em uma van por militares da Marinha em um ponto próximo à Praça da Bandeira, na Zona Norte do Rio. O vídeo teria sido gravado na sexta-feira da semana passada, na última ocasião em que o perito papiloscopista foi visto com vida. Na manhã desta segunda, o corpo de Renato foi encontrado em uma das margens do Rio Guandu, na altura de Japeri, na Baixada Fluminense. O primeiro-sargento Bruno Santos de Lima — preso com o pai, o empresário Lourival Ferreira de Lima — e os também militares do 1º Distrito Naval Manoel Vitor Silva Soares e Daris Fidelis Motta são acusados do homicídio triplamente qualificado do agente, bem como por ocultação de cadáver.

Na gravação, registrada à distância, pelo menos três homens aparecem imobilizando uma quarta pessoa que, em dado momento, parece estar sendo agredida. Em outro trecho, a vítima recebe uma espécie de chave de braço, o que condiz com o conteúdo dos depoimentos prestados à Polícia Civil. Mais à frente, o vídeo, de pouco menos de dois minutos, mostra todo o grupo entrando no carro e deixando o local rapidamente.

Vídeo exibe momento em que policial civil morto por militares da Marinha é colocado em van

A desavença que resultou no assassinato do policial civil começou por conta dos constantes furtos de materiais metálicos na região. Renato, que estava fazendo uma obra em casa e sofria com os prejuízos frequentes, fez vários registros de ocorrência contra Lourival, proprietário de um ferro-velho acusado pelo agente de protagonizar a receptação ilegal de itens frutos de crime.

— A gente quer justiça e que eles sejam punidos severamente. Nada justifica o que fizeram. Está tudo em vídeo. Meu irmão já tinha ido lá várias vezes. Eles armaram para matá-lo. Ele foi morto com a nota fiscal no bolso. O meu irmão só procurou o que era dele. Ele só foi rever o que estava lá. Meu irmão foi agredido. Eles eram de um ferro-velho ilegal — disse a fisioterapeuta Débora Couto de Mendonça, de 38 anos, uma das irmãs de Renato.

Em depoimento, o primeiro-sargento Bruno Santos de Lima, filho de Lourival, afirmou que , na última quarta-feira, dia 11, foi informado pelo pai de que um homem havia lhe procurado para ameaçá-lo e acusá-lo de receptar os materiais furtados de sua obra. De acordo com o relato do pai para o militar, ele disse ter respondido que só trabalhava com doações de órgãos públicos, mas Renato teria exigido dinheiro e prometido retornar.

Após perito ser baleado, pai de militar da Marinha recolheu cápsulas de pistola

Bruno disse que, na ocasião, portava sua pistola particular, uma Taurus calibre nove milímetros, e vestia um colete balístico. Ao chegar no estabelecimento, na Rua Oswaldo Aranha, na Praça da Bandeira, avistou seu pai “com um semblante cabisbaixo, ao lado de um indivíduo”. Por esse motivo, o sargento contou ter saído da viatura já com a arma em punho, se identificando como militar e ordenando que Renato Couto colocasse as mãos para cima.Bruno alega que, na sexta-feira, dia 13, o pai ligou comunicando que o mesmo indivíduo havia retornado ao ferro-velho e o ameaçado caso não pagasse R$ 10 mil. O militar conta que, neste momento, acionou um de seus subordinados, o terceiro sargento Manoel Vitor Silva Soares, e o cabo Daris Fidelis Motta, para irem, com uma viatura do 1º Distrito Naval, em “defesa” de Lourival.

No depoimento, o primeiro-sargento relatou que, ao revistar o perito papiloscopista, notou que ele estava com uma pistola na cintura e, nessa ocasião, o policial civil sacou a arma e ambos entraram em luta corporal. Lourival, Daris e Manoel também teriam se envolvido na briga, tentando separá-los. Bruno disse se recordar que, “em determinado momento, conseguiu desferir um tiro na perna” de Renato, mas, mesmo assim, ele teria conseguido tomar sua arma.

O terceiro sargento alegou que, durante toda a ação, Renato Couto gritava “Polícia! Polícia”, sem precisar se queria se identificar ou pedir ajuda. Por esse motivo, Bruno Santos de Lima relatou ter efetuado mais um disparo na altura da barriga do perito, tendo sua resistência então diminuído. “Em transtorno em razão dos acontecimentos e da comoção que se formava em volta”, o militar disse ter tentado começar a colocar a vítima na viatura, tendo sido auxiliado por Daris, e deixado o local.

Bruno informou não se recordar se ele e os demais militares cogitaram levar Renato a um hospital. Perguntado sobre a arma do perito papiloscopista, informa que a colocou em seu bolso e, sem notar se havia o brasão da Polícia Civil no ferrolho, a arremessou no Rio Guandu junto com o corpo da vítima. Em seguida, eles retornaram para a base do 1º Distrito Naval, na Praça Mauá, e o terceiro sargento relatou ter terminado seu serviço “em horário normal”.

A van utilizada no crime pertence à Marinha. Inicialmente, não se sabia se Renato estava vivo quando foi colocado no veículo, nem mesmo se já havia morrido devido aos ferimentos à bala no momento em que foi deixado no Rio Guandu. Profissionais do Instituto Médico-Legal (IML), contudo, concluíram que ele ainda não estava morto ao ser jogado nas águas. De acordo com a perícia feita no cadáver, o policial civil foi morto por hemorragia decorrente dos disparos de arma de fogo e ainda por asfixia mecânica provocada pelo afogamento.
O Globo/montedo.com

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