Primeiro homem trans das Forças Armadas luta por reconhecimento

SARGENTO TRANS FAB

Salles ingressou na Força Aérea aos 19 anos, em janeiro de 2009

Ana Angélica Martins Marques
Colunista de Universa

Nas Forças Armadas há 13 anos, o sargento Marcos Caio Salles luta há sete meses pelo reconhecimento de sua identidade. Natural do Rio de Janeiro, o primeiro homem trans em exercício na Aeronáutica iniciou seu processo de transição de gênero em 2020. Pouco tempo depois, quando comunicou oficialmente sua transição, começou a ter alguns de seus direitos básicos negados.
Para militares cisgêneros, por exemplo, a corporação costuma custear cirurgias que as Forças Armadas não tenham capacitação técnica para realizar. Quando Salles precisou passar por seu primeiro procedimento cirúrgico, a mastectomia masculinizadora, para a retirada das glândulas mamárias, recebeu a primeira negativa.
A Aeronáutica alegou que essa seria uma cirurgia estética, o que vai na contramão do parecer da Agência Nacional de Saúde (Parecer Técnico nº 26/GEAS/GGRAS/DIPRO/2021) que determina que cirurgias transexualizadoras não são consideradas cirurgias estéticas. Salles arcou sozinho com os custos de sua mastectomia.
Em seguida, quando solicitou a colocação de seu nome social, a utilização do uniforme masculino e um alojamento separado, Salles foi deixado em uma espécie de limbo. Apesar das mudanças físicas e hormonais causadas pelo processo de transexualização, ele não teve nenhuma das suas requisições atendidas. Salles sequer foi respondido oficialmente.

Sete meses sem resposta
“É costume fazer requerimentos para oficializar algumas questões administrativas. No caso do Salles, ele requer a utilização do nome social nos cadastros internos, prontuários e identidade, bem como o uso de uniformes masculinos —até para se adequar à recente cirurgia de mastectomia que ele fez—, e a utilização de alojamento e banheiro adequados ao seu gênero masculino”, explica a advogada que o representa, Bianca Figueira Santos.
A advogada lembra que a corporação demora, em média, dois meses para analisar as solicitações dos militares. Salles já aguarda há sete meses uma resposta oficial da Aeronáutica enquanto segue no alojamento feminino com aproximadamente 80 mulheres, precisa usar um banheiro individual improvisado sem iluminação e ventilação adequados, e não tem seu nome social respeitado.
“Quando ele fala com os responsáveis, respondem que as coisas estão sendo feitas aos poucos porque não tem nada oficialmente definido para, de fato, ter um espaço. A expectativa é que continuem em silêncio até serem demandados judicialmente. Eles não sabem como lidar com a situação, e agora eles não têm mais como reformar (aposentar), porque a transexualidade deixou de ser doença pela CID-11, que já está em vigor”, expõe a advogada.
Em 2019 a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou da sua lista oficial de doenças a CID-11, o chamado “transtorno de identidade de gênero”, que considerava como doença mental a situação de indivíduos que não se identificam com o gênero que lhes foi atribuído no nascimento.

Marcos Caio Salles, primeiro homem trans das Forças Armadas, luta há sete meses pelo reconhecimento oficial de seu gênero na corporação Imagem: Reprodução/ Instagram

Transfobia é crime
“Aliado a isso, tem também o fato de agora a transfobia ser considerada crime de racismo, reconhecido pelo STF em 2019. Então as Forças Armadas ficam agora sem saber o que fazer diante de casos como esse. Na verdade, o que fazer é o seguinte: acolher, receber, integrar. É isso que elas devem fazer, mas elas estão ainda cheias de dedos para proceder com essa situação, por isso o caso dele está demorando. Qualquer atitude, qualquer resposta que eles derem, ele pode demandar judicialmente”, esclarece.
Ao deixar de ser uma solicitação interna para passar à esfera judicial, o caso de Salles pode abrir precedentes, jurisprudência, para casos similares. E isso pode representar uma conquista para outros militares trans.

‘Deixadas para trás’
A própria Bianca é ex-militar. Oficial superior no posto de Capitã de Corveta, ela foi reformada em 2008 por ser uma mulher trans. Na época, a transexualidade era considerada uma “doença incapacitante” pelas Forças Armadas. Sua história, assim como as de outras seis militares que foram compulsoriamente reformadas por serem transexuais, inspiraram o livro “Deixadas para trás” (Metanoia Editora), escrito por Bianca, que aborda o dilema da transexualidade nas Forças Armadas Brasileiras e a forma como ela é vista e tratada pelos altos escalões hierárquicos.

O que diz a FAB
A colunista entrou em contato com a assessoria das Forças Armadas solicitando uma atualização sobre o caso do sargento Marcos Caio Salles e não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.
UNIVERSA/montedo.com

11 respostas

  1. Sou de outros tempos porém temos que admitir esta nova realidade ,os mais novos cresceram junto e tem uma melhor aceitação e encaram como uma nova normalidade , creio que não será nenhum problema para força ,talvez uma nova adequação dentro do fato novo ,mas profissionalmente talvez serão melhores do que muitos e devem ser tratados assim ,dentro do regulamento ,nada diferente dos outros ,isso é uma amostra da sociedade buscando seu espaço ,é só voltar os olhos para outros países para sabermos como eles lidam com esta nova realidade .

      1. Vejo que tem algum problema com isso , mas a justiça está resolvendo e adequando para nova realidade , evoluir faz parte ,também pensava assim ,porém depois de vários contatos no consultório e conversando fui enxergando a nova realidade .mas é difícil de entender mesmo !!!

        1. Não tenho nenhum problema com a vida privada de ninguém desde que eu possa ajudar e queiram minha ajuda, faço o melhor possível. Quer ser transformista vá para o teatro!

      2. Colega, não se esconda atrás do anonimato para destilar suas palavras preconceituosas (pra não dizer criminosas, já que transfobia é crime).
        Aceite a realidade: as pessoas trans sempre fizeram parte da sociedade e agora (mais do que nunca) estão ocupando os seus lugares – e isso é louvável.

        As instituições são reflexo da sociedade e não o inverso!!!

        1. Deve haver algumas centenas de Rafael Melo. Logo, para mim vc é um anônimo. Qualquer opinião contrária a pautas de “minorias” agora é esperneada por crime. Querem lacrar de todos os lados. Mas o racismo real contra a família, crianças e adolescentes, pedofilia, bestialismo, etc… querem transformar tudo isso em NORMALIDADE. E ainda vem com essas ameaças transfóbicas.

          Não tenho nenhum preconceito em relação à vida individual desde que não queiram transformar suas vidas em convenção coletiva. Convivo com dezenas de pessoas assim e nunca tive problemas. Vc pode ser o que vc quiser desde que não perverta e queira impor isso a todos. Se o camarada transformista em questão fosse o que fosse antes de ingressar na Marinha e a Marinha o houvesse admitido antes da transformação, por mim, tudo bem.

  2. Encha as Forças Armadas dos países ocidentais com homens “trans”, ou seja, mulher biológica e “homem” imaginário e veja as FA se enfraquecerem. Os exércitos dos países islâmicos, China e Rússia agradecem ! Palmas para os tolos que encaram as FA como meras repartições públicas que devam promover “justiça social” !

  3. Engraçado ler isso aqui “Palmas para os tolos que encaram as FA como meras repartições públicas”, ora, o que mais tem dentro dos quarteis são milicos de carreira que não querem trabalhar em sua formação de escola e só querem acochambrar passando o bastão para o próximo, fogem de tudo que é possível, se pudessem chegariam em suas seções, almoçavam e iam embora sem fazer nada, aí vem esse ser querendo pregar de santo do pau oco! kkkkkkkkkkk

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