Exército alega risco a Bolsonaro e impõe sigilo a processo de Laura até fim do mandato

Bolsonaro com alunos do Colégio Militar de Brasília (Pedro Ladeira/Folhapress)

Força nega acesso a documentos da autorização para que filha do presidente entre em Colégio Militar sem seleção

Vinicius Sassine
BRASÍLIA

O Exército apontou risco à segurança de Jair Bolsonaro e da filha Laura, 11, para impor sigilo aos documentos que embasaram a autorização para matrícula excepcional da caçula do presidente no Colégio Militar de Brasília.
Ela ganhou uma vaga na escola sem passar pelo processo seletivo a que são submetidos meninos e meninas interessados no ensino militar das unidades do Exército.
A Folha pediu, por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação), cópias do pedido apresentado por Bolsonaro; do parecer favorável do Decex (Departamento de Educação e Cultura do Exército); e da decisão do comandante, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.
A Força negou entregar os documentos e os classificou como reservados, com sigilo decretado até o término do mandato em exercício de Bolsonaro “ou do último mandato, em caso de reeleição”. A possibilidade está prevista na LAI.
“As informações solicitadas são classificadas como reservadas, em virtude da possibilidade de colocarem em risco a segurança do presidente da República e respectiva filha”, afirmou o Exército ao negar a entrega dos documentos, citando os incisos e artigos da lei.
A reportagem apresentou um recurso ao Estado-Maior do Exército para tentar obter os documentos relacionados ao pedido do presidente por tratamento especial à filha.
A postura de sigilo por parte do Exército repete o que foi feito em relação ao processo administrativo disciplinar que apurou transgressões por parte do general da ativa Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde. Em maio, ele subiu num palanque político com o presidente e acabou absolvido pelo comandante. Ao processo foi imposto um sigilo de até cem anos.
A Folha revelou tanto o pedido de Bolsonaro para que a filha fosse matriculada no Colégio Militar de Brasília sem processo seletivo, em reportagem publicada em 25 de agosto, quanto a decisão do comandante de autorizar a matrícula excepcional, em reportagem veiculada na quarta-feira (27).
Oliveira disse ter se baseado no regulamento dos colégios militares, o R-69, e no fato de o presidente da República ser comandante supremo das Forças Armadas.
O R-69 não prevê condições específicas para presidentes ou para militares como Bolsonaro, que é capitão reformado do Exército.
Vagas são abertas por processo seletivo e são preenchidas mediante um rigoroso concurso, que inclui provas de matemática, português e redação, além da necessidade de apresentação de uma bateria de exames médicos e de um histórico escolar.
Neste ano, o Colégio Militar de Brasília abriu para disputa apenas 15 vagas para o sexto ano do ensino fundamental. A concorrência costuma superar 50 meninos e meninas disputando uma vaga. A filha de Bolsonaro terá uma matrícula expressa.
Aos dependentes de militares é dada a possibilidade de matrícula sem concurso, mas dentro de critérios bem específicos, conforme os regulamentos vigentes.
Filhos e filhas de militares podem ser matriculados nos colégios do Exército independentemente de processo seletivo como órfãos, dependentes de militares que mudaram de sede e dependentes de militares reformados (aposentados) por invalidez.
O R-69 prevê ainda acesso a anos escolares para os quais não há processo seletivo, conforme regulação do departamento de ensino da Força.
Para esses casos, são feitos sorteios, mediante inscrição direta dos interessados no Colégio Militar. O de Brasília, por exemplo, publicou um comunicado com informações sobre sorteios para eventuais vagas ociosas no sétimo, oitavo e nono anos do ensino fundamental, além de segundo e terceiro anos do ensino médio, todas elas para 2022.
O mesmo R-69 é usado para as autorizações excepcionais, as matrículas de alunos por decisão direta do comandante do Exército.
Para o caso da filha do presidente, o comandante usou essa possibilidade de autorização excepcional, conforme a resposta fornecida à reportagem via LAI.
O artigo citado foi o 92 do R-69, que “estabelece que os casos considerados especiais poderão ser julgados pelo comandante do Exército, ouvido o Decex”, segundo a resposta.
O Exército apresentou outros argumentos para justificar o benefício dado ao presidente. “O requerente é capitão da reserva do Exército brasileiro, foi diplomado e empossado como presidente da República do Brasil, tendo fixado residência na cidade de Brasília”, afirmou a Força. Brasília é assistida pelo sistema de colégios militares brasileiros, conforme a resposta dada.
Além disso, ao se tornar presidente, Bolsonaro “assumiu o comando supremo das Forças Armadas”, conforme previsto na Constituição Federal. Um direito dos militares, segundo citação do Estatuto dos Militares feita pelo Exército, é a “garantia da patente em toda a sua plenitude”.
As crianças que se candidataram às vagas existentes foram submetidas a três etapas: exame intelectual, que tem caráter eliminatório e classificatório; revisão médica e odontológica, eliminatória; e comprovação dos requisitos biográficos dos candidatos, também eliminatória.
O exame intelectual consiste em 12 questões de matemática, 12 de língua portuguesa e uma redação de 15 a 30 linhas.
Já os exames médicos, para os classificados, incluem: radiografia do tórax, glicose, hemograma completo, sumário de urina, parasitologia de fezes, eletrocardiograma e exame clínico e odontológico. A biografia consiste na análise do histórico escolar.
A matrícula de Laura sem concurso, no ano letivo de 2022, repete o benefício dado ao filho da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP). No ano passado, o menino de 11 anos foi matriculado no colégio, sem seleção, para cursar o sexto ano.
Zambelli é uma das principais apoiadoras de Bolsonaro. A deputada admitiu o privilégio, mas negou irregularidades.
Ela alegou que se tratava de uma questão de segurança: o filho sofreria ameaças desde 2016, conforme a mãe. A autorização para matrícula em caráter excepcional foi dada pelo então comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, e publicada em um boletim interno de acesso restrito.
FOLHA/montedo.com

14 respostas

  1. Parabéns ao EB. O Presidente já levou uma facada…o preso não foi condenado pela justiça….tenho certeza se o Congresso tivesse feito uma CPI da facada a gente saberia mais….Não há notícia de corrupção ….eu que entrei no CM por concurso a 50 anos atrás fico muito feliz com isto. Outra coisa tem ricos que os filhos moram em Maiami, ou naqueles condomínios fechados…assim, segurança se paga e paga caro…assim pensar em proteger a família do presidente que está cheio de inimigos políticos é importante…lembrem-se que ninguém respondeu cadê o dinheiro desviado da Saúde. Orando

    1. Eduardo Sobreira Muniz o maior passador de pano.

      No caso da filha do presidente concordo que por questões de segurança el poderia requerer uma vaga em qualquer colégio, público ou privado, claro que se em colégio privado pagando os valores devidos.

      Agora dizer que nesse governo não há casos de corrupção é de um sinismo retumbante.

      Só orando e muito.

  2. Parabéns ao Exercito! A imprensa, oposição, a lactação e os que são contra esse presidente, eleito democraticamente, nunca investigaram ou trouxeram a tona, os governos corruptos dos petistas, os crimes dos petistas e seus aliados , e recentemente, todos fecham os olhos e passam pano para a ditadura de toga do Supremo, decadente e corrupto Tibunal Federal

  3. Enquanto isso, vc militar de carreira com mais de 5 anos de guarnicao ou mesmo res/ref, não terá vaga.
    O processo de concessão “excepcional” de uma vaga em uma escola de natureza publicaa, com um regulamento proprio (r-69) regendo a admissao de alunos nunca será sigiloso… não em uma democracia.

    O sigilo dos atos tornou-se regra, coisa que nem no pt ocorria. Nao existe republica sem transparência. Segredos devemos deixar em casa, jamais no âmbito de repartições públicas que tratam da coisa pública.

    Depois ainda quer falar em combate à corrupção. O povo tem direito de saber, avaliar e QUESTIONAR os motivos dos SEUS servidores públicos.

    Ainda bem que temos o ministério publico e a sociedade civil para meter isso na justiça.

    Cortinas fechadas, nunca mais!

  4. Onde a laurinha estudou o ensino primário? As razões de segurança nao existiam quando ela estava no primário? Só agora, no 6o ano, que o mundo se tornou perigoso? O colegio militar vai prestar assistencia a todo deputado, senador e presidente periodicamente eleito? O colegio militar é custeado com verda do ministério da educação ou da defesa?
    Perguntas que não querem calar.

    1. Infelizmente, muitas crianças ficaram sem os pais para lutarem por elas.

      Mais de 12 mil crianças de até seis anos de idade ficaram órfãs, no Brasil, de um dos pais vítimas da covid-19. Os dados são referentes ao período de 16 de março de 2020 e 24 de setembro deste ano e foram levantados pela Arpen-Brasil – Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais, com base no cruzamento de registros de nascimento e óbito nos 7.645 cartórios de registro civil do país.

      De acordo com a pesquisa, 223 pais faleceram antes do nascimento de seus filhos, enquanto 64 crianças, até a idade de seis anos, perderam pai e mãe vítimas da covid-19. A perda, além dos aspectos sociais e emocionais, levanta uma questão importante: com quem fica a guarda das crianças após a partida dos pais?

      https://www.migalhas.com.br/quentes/354087/covid-19-com-quem-fica-a-guarda-das-criancas-que-perderam-os-pais

      1. Excelente comentário, um dos melhores. Se a justiça terrena não responsabilizar os culpados, Deus acolherá os órfãos e fará a justiça da sua maneira, sem falhas. Quem viver verá!!!

  5. O Bolsonaro tem mais direito ao Colégio Militar, como militar das Forças Armada do que a Zambelli.

    Os Colégios Militares devem receber mais investimentos e aumentar sua capacidade para receber mais alunos.

  6. Quantas falácias e deboche.
    Que estudos, parecer e despacho é este do Cmt do Exército que pode gerar algum risco à segurança de Jair Bolsonaro e da filha.
    Risco, nenhum.
    Simplesmente vergonha das argumentações alegadas.
    Ridículo e patético.
    Sigilo da mediocridade que só aumenta.

  7. Se o Comandante Supremo das Forças Armadas não puder matricular sua filha no CM, acaba-se com o acesso dos Alunos Amparados, agora só Concursados, porque perdeu-se a finalidade do Estabelecimento de Ensino.

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