Por que envolver o Exército em crise política?

Cerimônia de Entrega de Espadim aos Cadetes da Turma “Centenário da Missão Militar Francesa no Brasil”. 
Foto: Marcos Corrêa/PR

Bolsonaro age para destruir e desmoralizar as instituições; com seguidores extremistas, alimenta fanatismo que terminará em violência

Carlos Alberto do Santos Cruz*
A resposta é simples: o sonho chavista de poder do presidente que tenta usar o Exército em seu projeto pessoal. O Brasil não é a terra do ídolo inspirador do presidente e não vai se transformar em algo similar. Aqui, “EB” quer dizer Exército Brasileiro e não “Exército Bolsonarista”. O Exército enfrenta o mesmo problema das outras instituições brasileiras: o risco de erosão. Infelizmente, a mentalidade anarquista do presidente age para destruir e desmoralizar as instituições, e banalizar o desrespeito pessoal, funcional e institucional. Junto com seguidores extremistas, alimenta um fanatismo que certamente terminará em violência.
Para aventuras políticas pessoais, instituições sólidas e funcionais são sempre um imenso obstáculo. Projetos populistas e totalitários, não importa seu matiz ideológico, não avançam sem subverter a ordem, sem corromper as instituições. E uma das instituições mais sólidas é o Exército (assim como a Marinha e a Força Aérea). Ao invés de recuperação e aperfeiçoamento das instituições, assistimos ao agravamento da situação existente e a erosão da Saúde, Justiça, Meio Ambiente e Educação.
O presidente tenta também desmoralizar o sistema eleitoral, mas não apresenta as provas de fraude que diz possuir. Semeia dúvidas sobre o Tribunal de Contas da União, valendo-se de relatório e dados falsos. No orçamento da União, apresenta uma nova forma de “mensalão” – o chamado orçamento secreto. Nas Relações Exteriores, graças ao Senado, escapamos do vexame da quase nomeação de um embaixador esdrúxulo junto aos EUA, e agora temos à frente a investida demagógica de uma nomeação para a África do Sul. Oxalá o Senado poupe o Brasil de mais essa.
Esse é o contexto em que se desenvolve mais uma tentativa de erosão de uma das instituições de maior prestígio do Brasil – o Exército Brasileiro. O caso do general no palanque, em mais um evento populista promovido pela autoridade maior, é da alçada do comandante da Força, que decidiu dentro das suas atribuições. Problemas disciplinares são resolvidos diariamente por todos os comandantes, nos diversos níveis. Não é esse o problema. O problema é muito maior e mais grave. É político. E tem um responsável – o presidente. Para realizar seu projeto pessoal, ele vem testando o Exército frequentemente. Isso é deliberado. É projeto de poder. Não acontece só por despreparo, irresponsabilidade e inconsequência. Isso é processo planejado, que vem sendo adotado e tentado de forma sistemática. É também um processo covarde, pois as consequências são sempre creditadas a outras pessoas e instituições. Ocorre que a responsabilidade pessoal e funcional está muito bem definida e o responsável maior deve arcar com as consequências.
É covardia transferir essa conta ao Exército. E é totalmente inaceitável a tentativa permanente de arrastar o Exército para o erro histórico de assumir um protagonismo político em apoio a uma aventura pessoal perseguida de forma paranoica. O Exército não é e não pode ser uma ferramenta de uso pessoal, partidário ou de intimidação política. A missão do Exército não é auxiliar uns e outros em disputas eleitorais e em jogo de poder, dividindo os brasileiros. O Exército tem uma missão constitucional definida.
O Brasil precisa de paz, de união nacional, de governo que trabalhe e promova o desenvolvimento socioeconômico com boa administração. O Brasil precisa de políticas públicas sensatas, de combate à corrupção, eliminação de privilégios e redução da desigualdade. Precisa de vacina e emprego. É preciso que o voto da maioria sirva para governar para o bem de todos e não para interesses pessoais, familiares ou de grupos. O Brasil não merece uma polarização entre quem já teve oportunidade de governar e se perdeu em demagogia e escândalos de corrupção e quem mostra diariamente que tem como objetivo um projeto de poder semelhante, apenas com sinal trocado.
O País não pode ficar entre dois polos que se alimentam e se comportam como cabos eleitorais um do outro. O Brasil não merece mais erosão em suas instituições. Ao contrário, nossas instituições precisam de melhorias e aperfeiçoamentos. A democracia depende do aperfeiçoamento institucional constante. O Exército Brasileiro, assim como as outras instituições que compõem a Nação, não pode continuar a ser covardemente prejudicado por causa de um projeto de poder pessoal e populista.
*General da reserva, ex-ministro
FACEBOOK/montedo.com

23 respostas

  1. Sr. General , Sr. General , Sr. General. Ao lê ,relê , novamente lê e relê o vosso artigo. Cumprindo o método principio ,meio e fim. O Sr. mexeu na ferida na hora certa.

    É a ferida do Brasil . Está diagnosticada. “PROJETO PESSOAL DE PODER DO PRESIDENTE BOLSONARO. “ .

    Todas as mazelas sociais , econômicas etc…. citadas por vossa senhorias . Brotou como milagre . Brasil ,passado ,presente o futuro em dúvida foi o Bolsonaro o criador.

    Podemos então dizer o presidente é encarnação do Marechal Deodoro da Fonseca .

    Pois desde da criação da república o Brasil apresenta um cenário político, militar e social de um país maravilha.

    Não tem desigualdade social , distribuição de renda igual as maiores do mundo ; não tem corrupção ; os poderes judicial ,legislativos e executivo é um céu de santos – incorruptíveis.

    O povo brasileiro adora ,idolatra: Sarney ,FHC ,COLLOR , ITAMAR ,LULA DILMA. Exemplos da santidade humana. O POVO VIVEU NO PARAISO CELESTIAL , dessas criaturas.

    É Sr. General, quem fez o povo brasileiro ser expulso do PARAISO , foi o Presidente BOLSONARO.

    Quando ele for derrotado ,pelos anjos divinos, o povo brasileiro vai voltar ao paraiso e ser feliz eternamente.

  2. Complementando uma percepção de V.Srª. “ CERTAMENTE TERMINARÁ EM VIOLÊNCIA`

    Acho que é uma citação bíblica. “ ANJOS E DEMÔNIOS PREPARAI AS ARMADURAS , AFIAIS AS ESPADAS . AS TROMBETAS ANUNCAM A PELEJA NA TERRA , NO CÉU E NA ÁGUA. “

  3. Quando esse general estava na ativa, comendo na mesa do comando excelentes pratos selecionados e bifes suculentos, atendido à francesa por Taifeiros, gastando todo tipo de verba pública com reformas e mais reformas, wiskhy, vinhos caros, eventos para autoridades, patrocínios em geral, acho que não estava pensando muito no pobre não, agora vem com essa ladainha, se honre general, não precisa ficar do lado do presidente não, é um canalha concordo, mas mais ainda é vc dando moral pra jornalista esquerdista que odeia militar e os chama de cabo véi,( com todo respeito aos QE) que diz a todo momento que promoção de generais e praças devem ser revistos, que militar não presta pra p.* Nenhuma, Bolsonaro tem que humilhar mesmo, humilhar quem não tem honra própria

  4. Gen…… o senhor é um ridículo….. melancia. nunca fez nada quando estavam roubando o pais foi so perder a teta para parar reclamar….falei

  5. É. Nota-se mais uma, vez quem é quem. A quem interessa um general aposentado interferir na atividade de seu Cmt em Chefe. O general está sendo prejudicado em que? tendo em vista que em relação a salário a Reestruturação o deixou muito bem graças ao seu Presidente. O apoio do general se destina a quem, quando debate assunto contra um mandatário que foi eleito democraticamente pelo povo brasileiro? Ou o general quer se candidatar a algum cargo político ou tenta levantar o povo contra seu Cmt em Chefe? De olho no lance. Sou subordinado ao Cmt em Chefe das Forças Armadas, fiel ao Governo Democrático brasileiro.

    1. O pessoal da reserva não é obrigado a bater palmas para o presidente.
      Veja a lei que permite a liberdade ideológica dos militares inativos.

  6. 13 anos de roubalheira do PT e esse nacional ( aka Santos Cruz ) quando na ativa não foi macho para criticar nada ( senão perderia a boquinha com uma canetada do Lula ) aí agora num governo sem escândalos de corrupção vem dar uma de moralista …

  7. Excelente texto! O General disse tudo! Ele sofreu na pele o fanatismo do Governo Bolsonaro (foi demitido pelo Presidente antes de completar 6 meses no cargo, no começo de junho de 2019, por fofocas baseadas em “fake news” do Olavo de Carvalho e do Carlos Bolsonaro), e agora não fecha os olhos para esse fanatismo insano baseado no populismo que tenta engolir as Forças Armadas.

    O texto é brilhante também porque foi totalmente baseado em FATOS – tanto é que os críticos bolsonaristas estão desviando o foco do que foi tratado no texto e estão se valendo da falácia “ad hominem”, ou seja, estão tentando desacreditar o autor do texto ao invés de contra-argumentar o que foi dito).

    1. Fantástico!!! Parabéns pela lucidez; para o bem da nação precisamos que Bolsonaro ex seus seguidores fanáticos voltem para o lugar que não deviam ter saído; o esgoto da história!

  8. Pelos poderes do meu pijama, eu tenho a força…
    Antes de mais nada, quero deixar claro que tenho muitas críticas às ações de Governo do Presidente Bolsonaro, não que ele fosse pior que os seus antecessores não é, definitivamente, mas são questões pontuais que penso deveriam ser tratadas de uma maneira mais Estadista.
    Agora, não me lembro desse nobre Oficial General se levantar e ter as mesmas preocupações com o povo brasileiro quando ocorria os descalabros de outros governos. Perdeu a mamata Comandante?
    Está com raivinha por que passou pelo porteiro do seu prédio e o mesmo não se colocou prontamente na posição de sentido e prestou-lhe uma vibrante continência?
    Tiraram-lhe os Taifeiros que engraxavam os seus coturnos?
    Nos poupe e “pare de show”!!!

      1. É a prova da falta q fez não ter “política” nos currículos dos EE até agora. Excia sem reforma política é melhor nós do que eles de novo ou não? Bem deixemos pras urnas…

  9. Falou a verdade so não entende quem não quer exatamente o que penso mas não se pode falar do Presidente esse gado não acorda não,vai ver onde iremos parar.

  10. Só um incauto tenta envolver o EB na política, e aquele que foi na passeata gritar ameaças, não conseguiu nada, deu um tiro no pé.

  11. Olavo tem razão! Esse Generais, a maioria, estão interessados apenas em suas carreiras e holofotes há tempos! Se acham os príncipes da “akadimia”, os faraós, mas nada fizeram em favor da tropa durante anos. As Forças Armadas tem esse regime feudal de tratamento aos seus militares fazendo com que esses senhores se achem a última bolacha do pacote. General, com todo respeito, o Sr. não tem vergonha? O Presidente Bolsonaro foi eleito democraticamente pelo povo e faz exatamente o que o povo quer, inclusive dar aos senhores o tratamento que merecem. Façam uma motociata, conclamem o povo a vos acompanhar, daí veremos quem tem mais apoio, se Bolsonaro ou os Generais das Forças Armadas. Isso é recalque e todos sabemos o porquê.

  12. A palavra correta não é envolver… Bolsonaro quer vincular a sua imagem a das FFAA… Como fez em um passado recente o moribundo Hugo Chávez…
    Pq essa vinculação confunde e faz parte do seu projeto de poder… O paisano não observa Bolsonaro como um Deputado Federal alienado e sem expressão como nós militares observamos… O público civil observa Bolsonaro como o Capitão do Exército Brasileiro Bolsonaro… E para ele e sua família sufar na credibilidade das Forças Armadas sempre foi um bom negócio… Mais prejudicada no final de toda essa história serão as FFAA… Aliás já estamos sendo prejudicados como comprova a última pesquisa popular… E a tendência é só cair mais a medida em que esse governo fracassa na contenção da pandemia… Na educação estagnada… Na economia capenga… E no desemprego galopante… Vida que segue…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo