UM BRASILEIRO NA LEGIÃO ESTRANGEIRA

Atrás de uma bagagem cultural maior e experiência militar, Christian se comprometeu a deixar sua vida pessoal de lado por 5 anos
Foto: Arquivo pessoal

Júnior Milério
Rigor, tradição e bravura são algumas características associadas à Legião Estrangeira (LE), entidade ligada ao serviço militar francês criada no século 19 e que recruta homens do mundo inteiro, desde que tenham entre 18 e 40 anos e sejam aprovados nas fases de seleção. Desde que sejam aprovados e aceitem um contrato em que aceitem ficar cinco anos longe de sua pátria, família e amigos.

Há quem procure a organização exatamente por isso. Mas, para aqueles que buscam enriquecimento de sua bagagem cultural e experiência militar, a espera e a distância são um preço a pagar por seu objetivo.
Esse é o caso de homens como o carioca Christian R. B., que não revela o sobrenome porque diz que o contrato envolve também uma cláusula de anonimato.
Hoje com 26 anos, Christian serviu a pátria francesa entre 2005 e 2009. Inspirado em seu pai, também militar e super-herói de sua infância, Christian, começou sua carreira na Academia da Força Aérea (AFA). Mas o exercício militar de fato aconteceu com o ingresso na Marinha do Brasil. “Entre vários concursos que prestei, a escola de oficiais da Marinha foi a opção que escolhi. E nesta época é que eu soube da existência da Legião Estrangeira”, diz. Com apenas 20 anos, e em outro continente, Christian viveu a história que define como uma das mais intensas de sua vida.
Distância
O início na Legião Estrangeira se dá por contrato, de acordo com o ex-legionário que explica que, teoricamente, o primeiro período é de no mínimo cinco anos. “Lá tudo é regido por cláusulas contratuais”, afirma. Durante o tempo que permaneceu na Europa, Christian não visitou o Brasil. Na época, era solteiro e, por isso, acredita ter sido mais fácil lidar com os vínculos familiares. “Consegui administrar bem esta situação. Existem diversas formas de manter o contato com a família, então isso já ajudava a matar a saudade”, afirma.
A percepção do tempo, distante da família e em uma atividade intensa, que exige dedicação quase integral, desperta reflexões em Christian. “Cada dia no quartel dava a impressão de ser uma eternidade. Um dia parecia uma semana, e uma semana despertava a sensação de um mês”, diz.Para amenizar isto, ele buscava se ocupar com outras atividades em dias de folga, entre leituras, passeios e a companhia de conterrâneos, que são os latino-americanos que mais procuram a organização. “Geralmente os brasileiros são bastante unidos, em qualquer parte do planeta”, afirma. Ele diz que o mais normal era compensar aproveitando as folgas com a mesma intensidade do treinamento. “Se a sua companhia não está em algum treinamento ou missão, o ritmo segue o do expediente, que é igualzinho ao de um quartel no Brasil. Daí aproveitamos essas folgas para ter uma vida social mais intensa”, diz.
Desde o início, o propósito do jovem brasileiro não era permanecer mais do que cinco anos como legionário. A vontade de melhorar sua bagagem cultural ajudou Christian a aceitar mais tranquilamente o tempo que ficou na França. “O primeiro ano é muito decisivo entre os que seguirão como legionário e os que vão desertar. Por isto, para quem pretende se candidatar, é melhor aguardar este tempo passar, para não tomar uma atitude inconsciente”, sugere.
Apesar de não ser incomum, ele diz que nunca pensou em desistir. “Isso normalmente acontece com os candidatos oriundos do meio civil, que não estão acostumados com o dia a dia da caserna e o rigor da vida militar”, acredita.
Ganhos
Para Christian, a experência foi mais que válida. “Poderia dizer que o meu retorno foi triunfal, visto que logrei todos os objetivos que havia estabelecido. Entre minhas várias metas, uma era a de retomar os meus estudos no nível superior – graduação em engenharia – e que já cumpri”, diz. Maturidade e segurança são benefícios que Christian trouxe deste tempo e, tornar-se um “sujeito melhor”, é outro aspecto positivo que ele menciona depois do seu retorno. “E só isto já seria o suficiente para minimizar qualquer coisa que, porventura, tenha sido ruim”, ressalta.
Seus pais, como quase todos que estivessem em seu lugar, tiveram a preocupação como companhia durante a fase de legionário do filho. Mas isso passou. Hoje ele mora em Pernambuco com a namorada e tem uma vida “regular”, como prefere dizer.
Entretanto, o vínculo com a mais conhecida classe militar do mundo, não cessou com sua saída. Acatando a sugestão de um candidato, Christian passou a elaborar conteúdo preparatório para quem está prestes a passar pelo “famigerado processo seletivo”. E hoje, “chego a receber e responder mais de 50 e-mails por dia, com perguntas e curiosidade de jovens brasileiros que sonham com a Legião Estrangeira”, afirma o ex-legionário que, com isto, acredita colaborar com os brasileiros que esperam ter sucesso no militarismo fora do Brasil.
IG

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