FELIPE CARUSO
Festas no Alemão e na Penha são alternadas. Nem os boatos de que os traficantes voltariam disfarçados de Papai Noel nem a ordem de manter 24 horas o patrulhamento estragaram a ceia de Natal dos quase 1.600 militares da Força de Pacificação que atuam nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro. Cerca de dez ceias foram realizadas em vários pontos do local, todas com a bandeira do Brasil hasteada, em horários alternados para não atrapalhar o serviço. No cardápio: frutas, arroz, farofa, frango e refrigerante. “Os boatos sobre uma invasão de traficantes no Natal chegaram até nós. Vamos manter o mesmo cuidado e as mesmas 24 horas de patrulhamento”, disse o major Fabiano Lima de Carvalho, oficial de comunicação social da brigada paraquedista e da Força de Pacificação. Muitos passavam a noite de Natal longe da família pela primeira vez. Outros já estavam acostumados, como o terceiro sargento Carlos Alberto Leite. “Quem se inscreve no Exército já sabe que deverá abrir mão de algumas coisas”, disse ele. Do alto do morro, onde foi recém-instalada a estação do teleférico na favela da Fazendinha, a festa dos militares era observada por 3 das 100 famílias que restaram na região -as demais já foram desapropriadas. “Eles não conversam com a gente nem nós com eles, que já devem estar tristes por estar longe da família. É tanta animação que eu já vou dormir agora [20h30]”, ironizou a operadora de caixa Viviane Cabral. A família dela, assim como as outras duas restantes, deve ser desapropriada em breve.
PAPAI NOEL SUSPEITO
Como faz há 17 anos, o eletricista Rafael Bernardes teve de pedir autorização para subir o morro vestido de Papai Noel e distribuir presentes para as crianças da Vila Cruzeiro. Desta vez, porém, a autorização foi do Exército, e não dos traficantes. A permissão só foi concedida com a condição de que um major acompanhasse a distribuição. O receio de alguns, porém, não abalou a certeza de Odete Maria Nicolau de um Natal mais tranquilo. Desde que se mudou para Cosmópolis, interior de SP, em 1991, ia sempre apreensiva passar as festas de final de ano na casa da mãe na favela da Grota. Neste ano, ela até permitiu que os dois filhos adolescentes andassem livremente pela comunidade.
Folha de São Paulo