Guerra ao tráfico no Rio tem mais dificuldades que as operações no Haiti, acreditam militares
Foto: Reinaldo Marques/Terra
Foto: Reinaldo Marques/Terra
O general Fernando Sardenberg, da Brigada de Paraquedistas de Infantaria, que dá apoio à ação policial no Rio de Janeiro contra o tráfico, e que integrou o grupo brasileiro que atuou pela estabilização do Haiti, diz que as quadrilhas do país caribenho não são tão organizadas como no Rio de Janeiro. Integrante da operação no Complexo do Alemão, ele também afirma que a geografia da cidade dificulta o trabalho do conjunto de forças que atua contra os traficantes.
“No Haiti enfrentamos quadrilhas que não eram tão estruturadas em termos de poder de fogo, de ousadia, em termos numéricos”, como os grupos criminosos que controlam algumas das maiores comunidades carentes do Rio, disse à AFP Sardenberg.
“No Haiti, o terreno não era tão difícil quanto o que temos aqui, por sua geografia e porque o Rio é densamente povoado”, afirmou Sardenberg, comparando as acidentadas ladeiras das favelas aos bairros planos e inundáveis da capital haitiana, onde se concentrou a ação das tropas brasileiras da ONU.
“Aqui, o ambiente em termos de condições (de vida) é muito melhor. No Haiti as pessoas não saem para a rua. Há corpos jogados. Nada funcionava”, lembrou, descrevendo o cenário dantesco que se instalou no país caribenho depois da queda do governo de Jean Bertrand Aristide, em meio a sangrentos enfrentamentos.
No Haiti, as tropas brasileiras combateram na linha de frente contra bandos que promoviam linchamentos em praça pública e aterrorizavam bairros inteiros. Naquele país, a Brigada levou cerca de 1.300 homens que, desde 2004, atuam com os capacetes azuis da ONU, na Força de Estabilização das Nações Unidas.
Pouco depois de sair deste caos, o país viu-se mais uma vez em estado de calamidade com o terremoto que deixou 250 mil mortos em janeiro de 2010. Agora, sofre com uma devastadora epidemia de cólera que já fez mais de 1.700 vítimas fatais.
O Haiti continua sendo a nação mais pobre das Américas, com 80% da população vivendo com menos de US$ 2 por dia. No Rio de Janeiro, a violência em um cenário de falta de oportunidades para os jovens tem sua origem em “um Estado que esteve ausente durante anos” do controle das favelas e abriu espaço para que os traficantes de drogas agissem impunemente, apontou o militar.
Como outras favelas, o Alemão “é um lugar isolado dentro do Rio, e os delinquentes, sabendo disto, realmente (o transformaram) em um bunker”, disse o general. Agora, o projeto do governo é que os militares permaneçam no Complexo do Alemão por tempo indeterminado.
Dos 800 membros que fazem parte da operação no Rio, 60% estiveram no Haiti, cumprindo funções de segurança pública como o patrulhamento da capital Porto Príncipe.
TERRA
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