Jovens se dividem entre servir ou não ao Exército
André Moraes
O atirador Marvyn (nome de guerra), de 19 anos, tinha vontade de servir ao Exército brasileiro e disse que fez de tudo para ser convocado: Fui me preparando para chegar no dia e ter a sorte de ser chamado. Para mim é um orgulho estar no serviço militar, afirma
Quando um jovem chega aos 18 anos, muitas são as preocupações que surgem em sua cabeça. A maioridade traz alguns privilégios, mas também indagações sobre como levar a vida adiante, depois de um passo tão importante. Uma questão que é inerente a essa estapa é sobre o alistamento militar. No Brasil, todos os homens que irão completar ou já completaram 18 anos são obrigados a se alistar no Exército brasileiro, previsto em lei desde 1908. Dentro desse assunto, existem opiniões diversas sobre o serviço militar. Enquanto alguns já possuem o sonho de servir ao Exército, outros preferem se dedicar à faculdade ou ir atrás do que realmente desejam nesse momento.
A busca de desafios foi o que motivou o funcionário público Edgar Luiz de Souza Júnior, 23 anos, quando serviu ao Tiro de Guerra de Sorocaba em 2006. O jovem afirma que não esperava ser chamado por causa de sua baixa estatura (1,64m), mas acabou descobrindo que a altura mínima para o serviço militar é de 1,60m. Ergueu a cabeça e encarou de frente essa nova etapa. Foi uma experiência interessante aprender coisas novas sobre nosso país, histórias que só ouvimos lá dentro, declara Júnior. A cidadania e o compromisso com o próximo foi o que Edgar tirou de mais importante dessa vivência no meio militar. Eu já levei isso de casa, mas lá eu reforcei os valores que um cidadão de bem deve ter, constata.
A convivência com jovens de todos os tipos foi bastante interessante, segundo Júnior, e com isso, surgiram acontecimentos que ele nunca esquece. Durante a conversa com a reportagem da coluna Gente Jovem, Júnior contou que no dia em que estavam tendo instruções para a desmontagem de um mosquetão (espécie de fuzil), o sargento chamou um rapaz que era muito alto para demonstrar como isso era feito. Ele prendeu o dedão da mão em uma das peças do objeto e começou a gritar. Então Edgard foi chamado para a demonstração, que conseguiu fazer tudo direitinho, e o sargento não poupou a tiração de sarro dizendo: você desse tamanho não consegue e olha ele, levando todos aos risos.
Edgard ainda disse que pretendia seguir carreira no meio militar, quando, pouco antes de terminar o serviço no Tiro de Guerra, resolveu prestar a prova da ESA (Escola de Sargento das Armas). Mas, segundo o jovem, a baixa remuneração o desmotivou. Observei que podia ganhar mais dinheiro fora do Exército, revela.
A expectativa do alistamento
O estudante Carlos Henrique Machado tem 17 anos e precisará se alistar ao Exército no ano que vem, quando completará 18 anos. O entusiasmo ele diz que não existe, mas como é preciso passar por essa etapa, o jovem está na espera. Sendo bem sincero, nem queria ter que passar por isso, revela Carlos. Entrar no serviço militar iria atrapalhar o sonho do jovem, que é fazer faculdade de Educação Física. Caso eu tivesse que servir, esse meu sonho teria que ser deixado pra trás e não é o que eu pretendo neste momento, confessa.
A obrigatoriedade do alistamento é um fator que Carlos não concorda. Para ele, um jovem de 18 anos ainda tem muito o que viver e aprender na vida, não estando preparado para passar por essa experiência. De outro lado, Carlos pensa que se dependesse da escolha de cada um, muitos jovens não iriam querer passar por isso e poucos estariam no Exército, representando o País. Mas estando lá, temos muito o que aprender. Muita coisa que nos ensinam lá dentro poderemos utilizar aqui fora, como nos virar sozinhos, ter mais responsabilidade e, até mesmo, a cuidar de nossas coisas, reconhece o jovem.
A vivência de quem está lá dentro
O serviço militar entrou na vida do atirador Marvyn (nome de guerra), de 19 anos, no ano passado, quando precisou se alistar. O jovem já possuía a vontade de servir ao Exército brasileiro, portanto disse que fez de tudo para ser convocado. Fui me preparando para chegar no dia e ter a sorte de ser chamado. Para mim é um orgulho estar no serviço militar, afirma com convicção. No dia 1º de março seu sonho foi realizado, quando houve a convocação para atuar no Tiro de Guerra de Sorocaba. As principais experiências que Marvyn leva consigo são a união e a disciplina, conquistadas por meio de atividades e instruções que os jovens recebem no local.
A rotina de quem está servindo ao Exército começa bem cedo, às 6h. A partir desse horário, os atiradores – como são chamados os jovens que estão no Tiro de Guerra – recebem instruções, como atividades de tiro e treinamento, sendo liberados já às 8h. A cada nove dias, alguns concorrem a serviços de escala, em que precisam ficar 24h no Tiro de Guerra, realizando serviços como limpeza e guarda do prédio, se revezando na guarita em duas horas de vigilância, por outras duas de descanso.
O atirador certifica de que o trabalho é muito unido, e os jovens sempre procuram fazer juntos todas as atividades. É como se fôssemos uma família, comenta. O aprendizado que consegue tirar dessa experiência, Marvyn conta que é de grande valor: nós começamos a ver o mundo com outro olhar. Nós passamos a ter uma visão diferente daquela que possuíamos antes de estar no meio militar. Depois de tantas experiências vividas no Tiro de Guerra, ele afirma que pretende seguir carreira no serviço militar, mas, para isso, ainda precisa adquirir mais conhecimentos, pois os cargos são conseguidos por meio de concursos. Com tudo o que passamos e vemos aqui, sempre temos algo a aprender, completa.
Quantos são chamados?
Para os jovens que estão aflitos, imaginando se serão chamados ou não, o número de rapazes que são convocados pode trazer uma boa notícia aos que não pretendem servir ao Exército. De acordo com o chefe da Instrução do Tiro de Guerra, sargento Neves, menos de 1% dos alistados são chamados. Em Sorocaba, cerca de 4.000 jovens se alistam por ano no serviço militar, mas apenas 100 são convocados. De acordo com o sargento, 70% já são pré-dispensados no sistema, e os outros 30% realizam exames médicos e psicotécnicos. Desses, 300 são designados para comparecer ao Tiro de Guerra, em que realizam exames físico, cultural, psicológico e moral, que decidem quais jovens farão parte dos 100 que realizarão as atividades militares. Então, se você completa 18 anos em 2011, não se esqueça de procurar a Junta de Serviço Militar, que fica na rua Cel. José Tavares, 131, Vila Hortênsia, a partir do dia 2 de janeiro. Os documentos necessários são a Certidão de Nascimento, Casamento ou Carteira de Identidade; duas fotos 3×4 recentes e sem data; e um Comprovante de Residência. Mais informações pelo telefone (15) 3231-1102.
Gírias utilizadas no serviço militar
Bisu = um conselho ou algum ato bom praticado.
AM (Azar Militar) = qualquer coisa prejudicial ou ruim. Exemplo dado pelo sargento Neves: Trabalhar no Natal é um AM.
Brasil = o nome do país é utilizado quando querem concordar com algo dito.
SDS (Só Deus Sabe) e Só acaba quando termina = muito usadas para dizer quando alguma atividade irá ser completada.
Acochambrar = relaxar, fazer corpo mole.
Torar = dormir.