O ministro da Secretaria de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, afirmou ontem que considera inaceitável a versão dada pelas Forças Armadas de que os arquivos secretos dos órgãos militares referentes à repressão política no período da ditadura não existam mais. “Trabalho há 40 anos com direitos humanos e não aceito a tese de que todos os arquivos em poder das Forças Armadas tenham sido destruídos”, disse.
As afirmações de Vannuchi foram feitas durante a sessão de abertura da Conferência Internacional sobre o Direito à Verdade, organizada pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP). Um dos objetivos do evento, que conta com o patrocínio da secretaria de Vannuchi, é discutir a criação de uma comissão nacional de verdade, com a tarefa de esclarecer violações de direitos humanos ocorridas no período da ditadura militar e apontar os responsáveis pelos crimes.
Vannuchi defende a criação do grupo. Com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele tem estimulado iniciativas para tentar resgatar informações ainda ocultas do período da ditadura. Uma de suas metas é esclarecer as histórias de 140 opositores do regime militar que, depois de terem sido detidos pelos órgãos de repressão, desapareceram e nunca tiveram os corpos localizados.
Porém, as iniciativas de Vannuchi esbarram quase sempre nas Forças Armadas, cujos arquivos, que poderiam conter informações sobre os desaparecidos, nunca foram abertos. Segundo informações oficiais, já teriam sido destruídos. “Quem decidiu destruir os arquivos? Quando isso ocorreu? Como foi feito? Não há nenhum registro sobre isso, o que é estranho, pois se sabe que tudo que ocorre nas Forças Armadas é cuidadosamente registrado”, afirmou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Comento:
É difícil concordar com qualquer coisa que Vannuchi pense, fale, escreva ou faça, mas é inegável que seus “quarenta anos de trabalho com direitos humanos” (claro, muitíssimo bem remunerado pelo bolsa ditadura nos últimos anos) deram ao ministro um know-how sobre os métodos utilizados pela burocracia militar.
Sim, na ótica castrense, essa é uma questão muito mais burocrática do que qualquer outra coisa. Ceertamente, originais ou cópias dos documentos permanecem nos arquivos militares, enfiados num cafofo esquecido embaixo de uma escada de algum quartel antigo, ou num velho cofre do qual se perderam as chaves e há muito se esqueceu o segredo.
Aliás, considero positivo que tais informações venham à tona, e que nada fique por revelar.
Que se mostre tudo! Que se revele tudo! Que não fique ficha sobre ficha, informe sobre informe!
Certamente, o que virá a tona será muito esclarecedor, pois se, de um lado, a nação conhecerá o destino dado aos desaparecidos, de outro, saberá de fatos que emporcalharão a biografia impoluta de muitos “maoistas defensores da liberdade” (como se tal composição ideológica fosse viável), que hoje posam de heróis da resistência.
Abram os arquivos, já!