Filhos e netos de alemães, brasileiros foram convocados por uma questão de jurisprudência
Da Redação com Deutsche Welle
Você sabia que centenas de brasileiros na Alemanha foram recrutados pelo exército nazista na Segunda Guerra?
Primeiro, é importante lembrar que soldados brasileiros também lutaram contra os nazistas. O Brasil enviou uma Força Expedicionária com mais de 25 mil oficiais para apoiar a campanha dos aliados na Itália.
Foi uma parte importante do esforço para derrotar o nazifascismo na etapa final do maior conflito bélico da história, que terminou há 80 anos na Europa.
Pois bem. Mas o lado oposto da guerra também teve participação brasileira. Eram filhos e netos de alemães, que se viram implicados em uma questão de jurisprudência.
É que a legislação da Alemanha define a cidadania não com base no local de nascimento, mas sim pela ascendência. E, se eram cidadãos alemães, tinham que lutar na guerra, já que o serviço militar era obrigatório.
“Então, a gente estima que várias centenas de nascidos aqui no Brasil, elementos descendentes de famílias alemãs que nasceram aqui no Brasil, voltaram para a Alemanha antes de a Segunda Guerra Mundial começar. E os seus jovens foram recrutados à força, porque o serviço militar era obrigatório, foram recrutados para lutar pelas Forças Armadas de Hitler”, afirma Dennison de Oliveira, professor do Departamento de História da UFPR.
O professor que você acabou de ouvir conseguiu entrevistar alguns desses veteranos muitas décadas depois para o livro “Os soldados brasileiros de Hitler”. Ele conta que muitos enfrentaram um conflito de identidade e fizeram de tudo para escapar da guerra.
Um deles argumentou que, se fosse enviado para a Itália, poderia se deparar com brasileiros e ser acusado de espionagem.
“Então, com base nesse argumento, ele consegue o duvidoso privilégio de não ser enviado para a Itália, de ser enviado para a Frente Russa, onde passou por muitas vicissitudes, mas acabou sobrevivendo à guerra”, conta Dennison de Oliveira.
Depois da guerra, uma parcela significativa desses soldados foi repatriada para o Brasil. No geral, esses veteranos tinham sido oficiais de baixa patente, sem nenhum tipo de poder de decisão administrativo.
Mesmo assim, com medo de represália, eles esconderam todos os rastros de associação com o exército nazista. É que, naquela época, um sentimento coletivo de vingança havia tomado conta do país.
Há relatos de saques a lojas de imigrantes alemães, invasão de casas e perseguição a elementos da cultura germânica, principalmente no Sul do Brasil.
“E aí, quando, talvez pelo fim da Guerra Fria, queda do Muro de Berlim, o protagonismo americano como superpotência mundial… aí talvez tenha levado essas pessoas a baixar um pouquinho a guarda e consentir que eu os entrevistasse. Infelizmente, acabou sendo, então, o único registro, limitado e parcial como possa ser, de alguém que entrevistou esses que eu chamo de os soldados brasileiros de Hitler”, acrescenta Dennison de Oliveira.
Planeta – Edição: Montedo.com
Uma resposta
Existe um livro que relata essa questão de teuto-brasileiros do outro lado na WWII: A Hora Verde-Amarela.