Soldado registra ocorrência por agressão no Arsenal de Guerra de São Paulo, após perder fivela do cinto; Exército abriu sindicância

Entrada do Arsenal de Guerra do Comando Militar Sudeste, em Barueri (Grande SP); no local foram furtadas 21 metralhadoras do Exército - Paulo Eduardo Dias/Folhapress

Militar registrou boletim de ocorrência e diz que foi levado a sala escura, forçado a fazer flexões e agredido com chutes após informar perda de item do uniforme. Exército informou que vai apurar a denúncia, mas que não há indícios de crime.
Carlos Henrique Dias, TV Globo — São Paulo

Barueri (SP) – Um soldado do Exército afirma ter sido agredido dentro de um quartel em Barueri, na Grande São Paulo, após perder a fivela do cinto do uniforme. O caso ocorreu em 10 de março e foi registrado um boletim de ocorrência. Segundo a defesa, o jovem está em casa, acamado e apresenta sequelas físicas.

O Exército enviou duas notas ao g1. Em ambas, afirmou que o caso está sendo apurado. Na segunda versão, afirmou que, “até o momento, não há qualquer indício de ocorrência de crime no interior daquela Organização Militar” (leia a íntegra da nota abaixo).

O soldado Valdir de Oliveira relata que informou um oficial que havia perdido a fivela, peça fornecida pelo almoxarifado, ao receber o novo uniforme. Em seguida, ele teria sido levado para uma sala sem iluminação, câmeras ou janelas. No local, conta que foi forçado a fazer flexões enquanto recebia chutes e era questionado sobre “quanto custava” a fivela.

“Nesse dia aconteceu a troca de farda. Eu entrei no almoxarifado, na parte que tinha lá na salinha e que estava o tenente. Ele pegou os tamanhos da roupa. Quando fui para dentro do almoxarifado mesmo, onde ficavam as roupas, eles pediram para eu bater continência três vezes para eles. Começaram a falar assim: ‘A gente vai jogar farda, e você pega’. Aí eles começaram a jogar a farda e batia na cabeça, nas costas. Não estavam nem aí”, relatou.

E emendou: “Até que eu peguei todo o kit da farda e estava indo para a porta, quando ele olhou para mim e perguntou sobre o cinto. Eu virei e falei assim: ‘O cinto eu tenho, eu só não tenho a fivela que eu acabei perdendo’. Aí ele falou: ‘Eu tenho uma fivela aqui. Quanto custa para você?’. Eu falei: ‘Não sei, senhor’. Ele falou: ‘Então, 10 flexões’. Fui me abaixar no meio do almoxarifado, e ele falou: ‘Não aqui’. Me levou num quarto que tem dentro do almoxarifado, bem escuro. Na hora em que eu me abaixei para fazer as flexões, ele começou a me bater”.

O jovem relatou à polícia que, mesmo após as agressões e com dores intensas na cabeça, foi obrigado a retornar ao treinamento físico naquele dia. À noite, ele conta ter sido trancado em um quarto e, na sequência, novamente levado para mais atividades físicas.

Segundo o boletim de ocorrência, o militar foi levado ao Hospital Municipal de Barueri (Sameb). Após o atendimento, foi obrigado a comer em apenas três minutos.

Ao passar mal, vomitar sangue e retornar ao hospital, recebeu recomendação médica de três dias de repouso, o que, segundo ele, não foi respeitado pelo quartel.

“Ainda estou com fraqueza nas pernas, vômito de sangue e dores na coluna”, ressaltou o soldado.

Defesa fala em ‘tortura’
Para o advogado de defesa do soldado, ele foi submetido a situações incompatíveis com a atividade militar.

“Tenho a dizer que meu cliente viveu dias de tortura no alojamento do Exército, para o qual se apresentou para cumprir um dever cívico. Sofreu agressões físicas e psicológicas que deixaram sequelas para o resto da vida”, afirmou Eduardo Lemos Barbosa.

Soldado diz que foi agredido em quartel do Exército em Barueri após perder fivela do cinto — Foto: Arquivo Pessoal

O que diz o Exército
Em nota, o Comando Militar do Sudeste (CMSE) informou que instaurou uma sindicância para apurar o caso.

“O Centro de Comunicação Social do Exército esclarece que durante o expediente do dia 12 de março de 2025, o Soldado Valdir de Oliveira Franco Filho apresentou um mal-estar e, prontamente, foi encaminhado ao Posto Médico do Arsenal de Guerra de São Paulo e, em seguida, foi transferido para o Serviço de Assistência Médica de Barueri (SAMEB), onde recebeu atendimento, recebeu alta e retornou à Organização Militar.

No dia seguinte, 13 de março, o soldado voltou a apresentar os mesmos sintomas e foi encaminhado ao Hospital Militar de Área de São Paulo (HMASP), onde foi submetido aos exames pertinentes e permaneceu internado até o dia 21 de março. Desde então, encontra-se em recuperação em sua residência, seguindo o tratamento prescrito pelos médicos responsáveis.

Desde o momento em que foi constatado que não se encontrava em plenas condições de saúde, o militar vem recebendo do Exército Brasileiro a devida assistência médica.

Assim que tomou conhecimento do relato narrado na solicitação, em 17 de abril de 2025, o Arsenal de Guerra de São Paulo instaurou uma sindicância para apurar os fatos. Até o momento, não há qualquer indício de ocorrência de crime no interior daquela Organização Militar.

Por fim, o Exército Brasileiro reitera seu compromisso com a observância rigorosa dos preceitos legais, dos princípios éticos e dos valores morais que norteiam a conduta de todos os seus integrantes.”

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo foi procurada, mas não se manifestou até a última atualização desta reportagem. Leia mais.
g1 – Edição: Montedo.com

Respostas de 30

    1. Estranho um relato tão intenso como esse, Como diria um Sub véio “QAO”, temos instrutores treinados para isso, nós nunca erramos, porém eu digo que, qualquer exagero, “contra quem quer que seja, todes, seja “Enzo ” ou baita macho igual eu, sem instrutores qualificados ou “pagação” com agressão física, isso é errado em qual instituição. Portando, neste caso, caberá a justiça brasileira verificar a veracidade dos fatos, o resto é mera especulação de ” jornalista”.

  1. Justiça neles! Tortura, assédio moral, abuso de autoridade, Dano Moral e e mais outros enquadramentos que o MPM e MPF achar. Em certo lugar uma Capitã Médica Perita não deixa os familiares acompanhar o paciente na consulta. Paciente inválido com várias tentativas de Suicídio, totalmente depende de sua mãe esta médica Proíbe de entrar na consulta. Isto na Área do Comando Militar do Sul. Tudo gravado só divulgar para ela aprender a tratar os pacientes com carinho que precisam.

  2. Graças à Deus meus dois filhos querem distância de forças armadas.
    Estão estudando pra ser algo na vida , um fisioterapia e outro direito.

      1. Parece que o anônimo não sabe o real significado de uma faculdade de direito, sem a faculdade vc será apenas “Uber”, com faculdade de Direito ele poderá ser qualquer ” coisa”, do judiciário, chefe integrante das Forças Polícias, ir para o jurídico das forças armadas, etc. Certamente que pela tua certeza de ser ” Uber” e fraqueza motivacional, não faça faculdade de direito e nem incentive filhos e netos, pois a sua fraqueza vai contaminar eles e irão estar entre esses 2 milhões “no Uber”, já se um filho(o) meu fizer faculdade de direito será delegado (a) , policial federal, civil, militar , oficial de justo, advogado conceituado. Hoje em dia muitos concursos exigem nível superior, exemplo Polícia Penal, mas os mais concorridos na área jurídica, exigem somente direito. Por exemplo para ser capitão da PM é exigido faculdade de direito, salário de 20 mil, e o soldado PM, caso não tivesse feito faculdade de direito não teria sido promovido a capitão, após passar em um dos concursos mais concorridos do Estado. Nem outros tantos, como o soldado que passou na PF. Ou o 3° Sgt que virou policial federal, e outro capitão. Logicamente que vc será Uber …ânimo anônimo.

  3. Quem bateu: um Tenente (Oficial) – Sindicância sem indícios de crime
    Se fosse uma praça já estava presa com IPM ROLANDO.

    1. Os jovens tem que denunciar no MPM ou MPF. On-line. Funciona mesmo. Gravem as conversas, façam fotos, tirem prints de grupos. Não fique calado. Uma médica Perita maltratou uma idosa e vai se enrolar

      1. Essa situação gramatical crítica, não é inerente apenas ao ” nosso exército”, por isso jamais critique “nós”, Maquiavel já sabia…o que se fazemos depende do sentido, mas ser leão para rugir quando der vontade, isso não é totalmente errado, e acredite, no meio militar poucos são professores de português, por isso não de muita importância para a ortografia, concordância verbal, semântica e minhas prosopopéias…. KKK

    1. O MPM e MPF tem que fazer uma pesquisa dentro dos quartéis. Principalmente com os Soldados recém incorporados. Palavras tipo: lixão, bisonho, mocorongo, raro, fraco, louco, Diabo, isto é crime.

      1. Pois é, por isso que na minha última turma de EV eu chama de “meu amor, meu anjo, meu consagrado, meu doce de côco”…

        E o 01 e 02 do EB preocupados com 3° guerra mundial.

  4. Ja era hora de acabar com esse negocio de recuta em quarteis, Criar uma forças, só de soldados profisional, com concurso, e ter um Vencimentos, como tem a Policia Estaduais. chega de recruta, não acabam porquê.será que não há interesse,

  5. São tão bons em agredir recruta, mas não conseguem cuidar das suas metralhadoras e nem fazer um pesquisa social decente, haja vista que o motorista do comandante (função de confiança) estava envolvido no referido furto de armamento. Patéticos.

  6. O recruta não reage por respeito à autoridade que lhe falta com respeito. Qualquer hora teremos outro tipo de noticia e aí, essas notas do EB, terão outro tipo de informação.

    1. Provavelmente não reagiu porque estava apenas com a pistola funcional com pouca munição e sem o fuzil particular ” ADSMUS Staduales! Sun TZU já dizia ” trate seus soldados como filhos e eles seguirão a qualquer lugar, trate-os como filhos queridos e eles darão a vida por vc…Não entendo como esse tenente foi entrar numa trouxisse dessas…sou Tenente e trato meus subordinados como seres humanos, com base na hierarquia e disciplina, desenvolvendo as ações de rotina, serviço e treinamento de acordo com os protocolos exigidos pela organização militar, usando a sabedoria e discernimento e sabendo que antiguidade é posto e inteligência é dom.

  7. Estamos lidando hoje com uma tropa de jovens frouxos e mimados, que se porventura tiverem que defender a pátria, irão borrar as cuecas.

  8. Nesses casos de possíveis torturas e maus-tratos a recrutas ainda no período básico a essência do problema reside na percepção totalmente equivocada do que vem a ser o militar em formação.

    E essa percepção equivocada é independente da natureza militar de quem a possua: seja de carreira, temporário, “antigão”, “moderno”, graduado, oficial, etc, etc.

    Sim, mas por que isso ainda se perpetua nos quarteis?

    Porque existe uma falsa percepção de que o militar é um autômato, robotizado, insensível à dor, ao sofrimento. Quem assim pensa, acredita que somente os que “não sentem dor” ao serem torturados são capazes de enfrentar a guerra. Seguem aquele jargão: “o militar é superior ao tempo”.

    Ledo engano.

    Vejam os especilistas em Forças Especiais, Comandos, etc. Militares que passaram por provas físicas muito difíceis em seus cursos e que choram copiosamente ou desmaiam ao receber a notícia de que poderão ser presos ou sofrer busca e apreensão de materiais e documentos em suas residências.

    Do contrário, já vi muitos militares calados, tidos como “fracos”, transformarem-se em verdadeiros guerreiros ao enfrentar situações estressantes e com risco de morte de forma serena, no “12 por 8”.

    O recruta deve ser instruído de acordo com o previsto nos PPB de instrução. De forma paulatina, crescente, a sua resistência e rusticidade vai sendo moldada com o tempo.

    Apenas gritar, humilhar com brincadeiras ridículas (como aquele vídeo de instruendos dentro de um pequeno lago sendo chamados de “capivarinhas” ou outro termo, não me lembro agora o termo exato); bater, quando se tem a certeza da não reação, isso tudo não é instrução, não vai bem formar o soldado.

    Essas práticas não passam de incompetência (quando não se sabe discorrer sobre o assunto, passa-se a “ralar” o instruendo) e também covardia.

    Enfim, é muito mais um problema individual de caráter do que de prática institucionalizada.

    P.S.: outra situação ridícula e caricatural de mau gosto, agora comum em quarteis, é o chefe de turma fazer a apresentação do seu pelotão gritando, inclinando o corpo todo para trás e “declamando” um texto mais que imbecil.

    1. Concordo plenamente. Agora convenhamos, aquele negócio de proferir uma oração ridícula com voz de funkeiro e entortando o corpo feito o Neo do Matrix é algo de péssimo gosto. Já parecemos um circo, mas aquilo é a coisa mais horrenda que vi nos últimos anos.

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