Por ano, cerca de 70 mil militares brasileiros deixam as Forças Armadas. Conheça a ação social que ajuda a aproveitar esse perfil no mercado de trabalho civil
Layane Serrano
Repórter
A transição do serviço militar para o mercado de trabalho civil pode ser um desafio para muitos ex-militares, especialmente devido à falta de networking e ao desconhecimento dos recrutadores sobre as competências desenvolvidas dentro das Forças Armadas. Foi ao perceber essa lacuna que o ex-tenente do Exército, César Galdino Filho, criou a ação social Contrate Veteranos, que auxilia militares temporários a se recolocarem no mercado de trabalho após o período de serviço.
Galdino, mais conhecido como Tenente Galdino, nasceu em São Paulo e seguiu os passos do pai ao ingressar no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR). “Para quem tem interesse e curiosidade, o alistamento aos 18 anos é a porta de entrada para o trabalho limitar. Quis aproveitar a oportunidade, mesmo sabendo que não queria seguir carreira no futuro”.
O serviço militar temporário tem um limite de oito anos. Os militares precisam estar cientes de que, ao fim desse período, terão que buscar uma nova carreira no mercado civil, a menos que consigam ingressar na carreira militar de longo prazo por meio de concursos. O mercado civil foi o destino de Galdino. Durante sua trajetória no Exército, ele se especializou na área de logística e, paralelamente, cursou Direito na USP, e após o prazo máximo de oito anos nas Forças Armadas decidiu sair do Exército – mal sabia ele a dificuldade que enfrentaria para se recolocar no mercado de trabalho.
“Eu mandava muitos currículos, mas nada acontecia. A grande maioria dos recrutadores não nos conhece. Eles olham para um perfil militar e não sabem como traduzir essa experiência para o mundo corporativo”, conta Galdino.
Foi essa experiência que o motivou a criar a iniciativa Contrate Veteranos, que começou de maneira informal em 2013 e se tornou uma plataforma online de apoio à transição de militares para carreiras civis.
A plataforma que conecta veteranos ao mercado
A principal ferramenta do programa é a plataforma Plano de Chamadas, um banco de dados onde ex-militares pode se cadastrar informando suas áreas de interesse e formação. Diferente de sites tradicionais de vagas, como InfoJobs e LinkedIn, a plataforma não apenas disponibiliza perfis para empresas, mas também oferece um suporte estratégico para os veteranos, conectando-os diretamente a recrutadores interessados no perfil militar.
“Eu faço a ponte direta entre o candidato e o recrutador. Vou até as empresas, explico quem são os militares, quais são suas competências e o que eles podem oferecer para o mercado. O que mais falta para esses profissionais não é capacitação, mas sim conexões estratégicas”, diz Galdino.
A iniciativa já impactou mais de 50 ex-militares, garantindo que eles encontrassem vagas compatíveis com suas habilidades. Além disso, o programa também estende seu suporte a familiares dos militares, ajudando cônjuges e parentes próximos a se recolocarem no mercado de trabalho.
O downgrade salarial
Para quem deseja se qualificar, as Forças Armadas oferecem capacitações internas dentro da carreira militar, mas a graduação acadêmica é de responsabilidade do próprio militar. “Se ele quiser cursar uma faculdade, precisará arcar com os custos ou buscar alternativas como universidades públicas ou bolsas de estudo”, afirma.
Os salários dos militares temporários, segundo Galdino, variam de acordo com a patente, que podem ser de um salário mínimo para o soldado até R$ 9 mil para um tenente.
“Ao deixar o Exército, muitos militares enfrentam também um downgrade salarial, porque os salários do setor privado podem ser mais baixos para funções equivalentes”, diz Galdino. Ele mesmo saiu de um salário de R$ 6 mil no Exército para ganhar R$ 3 mil no mercado civil até conseguir estabilidade no serviço público.
O perfil diferenciado dos veteranos e o interesse das empresas
O aumento da demanda por profissionais comprometidos e disciplinados fez com que grandes empresas brasileiras começassem a olhar para os veteranos como uma alternativa valiosa para preencher vagas operacionais e administrativas. JBS, Azul Linhas Aéreas e Suzano são algumas das empresas que já criaram programas internos para contratar militares.
“As empresas começaram a enxergar os veteranos como uma fonte de talentos com soft skills valiosas, como resiliência, pontualidade e espírito de equipe. Hoje, muitas empresas me pedem para indicar candidatos que tenham comprometimento e valores sólidos. Elas estão mais dispostas a treinar um bom profissional do que encontrar alguém pronto, sem essas características”, afirma Galdino.
Outro fator que impulsiona a ação social é a alta rotatividade no mercado de trabalho. Além disso, há um aspecto social relevante: os militares temporários são, em sua maioria, jovens de baixa renda, vindos de comunidades carentes, que encontram no serviço militar uma oportunidade de aprendizado e desenvolvimento.
A crescente participação feminina na carreira militar
As mulheres têm conquistado cada vez mais espaço nas Forças Armadas. Segundo Galdino, há mais de 20 anos elas já atuam no Exército, mas a presença feminina tem crescido significativamente nos últimos anos. “Em 2024, por exemplo, o alistamento voluntário para mulheres registrou mais de 21 mil inscrições, um marco importante para a inclusão de gênero na carreira militar”, afirma.
Além disso, o perfil das mulheres militares tem chamado a atenção das empresas parceiras do Contrate Veteranos. Muitas recrutadoras enxergam nesse público uma oportunidade de promover diversidade e inclusão dentro de suas corporações, afirma Galdino. “Além de serem veteranas, muitas dessas mulheres são mães ou vieram de comunidades carentes. As empresas veem nelas não apenas a experiência militar, mas também um potencial para ocupar posições estratégicas e operacionais”.
Uma transição desafiadora, mas necessária
Atualmente, cerca de 70 mil militares deixam as Forças Armadas todos os anos no Brasil. A maior parte dessas saídas ocorre entre janeiro e março, tornando esse o período de maior demanda pelo serviço prestado pelo Contrate Veteranos. Para preparar os ex-militares, Galdino realiza palestras dentro dos quartéis sobre currículos, LinkedIn e soft skills.
A busca por reconhecimento para esses profissionais também tem um viés econômico e social. “A formação militar não é barata. São anos de investimento público para treinar esses jovens. Se, ao saírem, eles não conseguirem se recolocar no mercado, isso representa um desperdício de recursos para a sociedade”, conta.
Segundo o Portal da Transparência da Controladoria-Geral da União, o total de despesas destinadas para a defesa nacional é de R$ 73,21 bilhões.
Planos para o futuro
Atualmente, Galdino mantém o projeto sem patrocínio oficial, dedicando seu tempo livre para fazer as conexões entre militares e empresas. Entretanto, ele busca apoio de empresas interessadas em contribuir com a expansão da iniciativa.
“O meu sonho é cadastrar anualmente esses 70 mil militares e conectá-los às empresas que precisam de profissionais qualificados. Mas, para isso, eu preciso de apoio para ampliar a estrutura e a divulgação”, afirma.
Com a crescente adesão de empresas ao programa, o objetivo de fortalecer a inclusão de veteranos no mercado parece cada vez mais próximo. Afinal, como Galdino bem resume: “As empresas só precisam conhecer melhor esses profissionais para perceberem o valor que eles trazem”.
exame. – Edição: Montedo.com
Respostas de 17
A questão não recolocar os militares no mercado de trabalho e sim achar militares especializados ( motoristas, cozinheiros, etc)..Tenho 28 trabalhando em seção de transporte de unidades. E semana passada foram embora praticamente todos os Cb/sd categoria D. Não é mais interessante. Com o salário de 3500,00 um militar com especialização não fica no EB. Um garoto bom de trabalho não fica mais na instituição. Critiquei no começo, mais acho que a ida das mulheres na serviço militar inicial será um tentativa de tentar melhorar a falta de pessoal.
Exatamente, anônimo como citou, por exemplo uma vaga para “cabo eletricista”, muitos civis com a formação técnica não irão querer ser cabo temporário, também muitos(a) mesmo sendo temporário, saem antes, basta ter uma oferta melhor, ou estar atuando em dois empregos, exemplo médico militar, atuando em hospital, as vezes cumprem apenas um ou dois anos e saem… inclusive sgt Temp que pode puxar 8 anos, depende da qualificação, irão procurar um serviço com menos burocracia.
Médicos e dentistas (entre outros) fazem 6 horas por dia e tem suas clínicas lá fora. E com salário de oficial.subalterno. agora Cb cet e sgt especialista (STT) o camarada não fica. Outra questão que nas unidades de tropa pegam um militar com 45 dias de formação Cb cet, sgt Stt e of OTT) e combram habilidades que não possuem. Ex tirar guarda, ordem unida STT perfeita, sindicância. Já tive um sgt que tinha 10 de concessionária Fiat no curriculum. Só que não era aquele primor esperado na guarda do quartel..Findou que ele foi embora no 1 ano. O que queremos??? Um mecânico, Soldador, pedreiro ou um ótimo tirador de SV. Pensaremos. Pois os dois num pacote só eu já vi no passado. Mas no mundo de hoje . Jamais
Oficial de AMAN estão saindo para ser Sd PM. Na PM a escala é melhor, tem folga e com o Curso de Direito faz direto para Capitão. Um Capitão PM recebe maias que um Cel EB. Agora na Operação Verão o salário deles dobra por causa das diárias. Tem Oficial fazendo UBER
Cap QAO de UBER no aeroporto. Coitado turma de 87 não teve o Direito de Fazer CHQAO
Se na MB que a maioria é CB de “carreira” não quer mais ficar, imagina temporário, a carga horária é ridícula com relação ao salário, atualmente é MUITO melhor ser CLT em comparação a SD/CB
Não sei como está no EB, mas na MB beira a escravidão um CB embarcado
O que eu passei dentro do quartel do exército por eu ser negra, mulher e por eu ter me posicionado em dizer NÃO para favorzinho de superiores. Em 2020 só tinha uma vaga para tsb e essa foi minha. Conquistada em processo seletivo( inscrição, experiência atuada, prova, exames odontológicos e médicos em perfeitas condições, exercícios físicos e adaptação). Hoje me encontro com problemas de saúde, lutando na justiça por ter sido desligada em tratamento e sem motivação do desligamento.
Sofri abuso, constrangimento e racismo ( a fala do abusador foi que meu tipo não sobe e que não era nem para eu estar naquele lugar).
Tenho total condição de falar com detalhes tudo que eu passei dentro do ambiente militar. Quero justiça e reparo dos danos que me causaram. Eu quero a minha saúde de volta.
Pegue uma boa advogada. Processe o Militar e o Cmt. Também processe a União.
Lamento pelo que passou, minha Esposa deve ter passado no mesmo processo seletivo que vc em 2020, onde os testes foram feitos na capital, filmados., etc, mas no decorrer dos anos, ela não teve problemas específicos com superiores, e pode optar por sair a qualquer tempo de baixa, sem ter problemas psicológicos ou de saúde.🙏🏻🙏🏻🙏🏻🫡
Muitas incoerências. Salário melhor nas Forças Armadas ??? Soldado ganha Salário Minimo. Lógico, se pegar um 2o. Ten CPOR que só tem Ensino Medio, não achará nada na iniciativa privada com seus 11 mil brutos mensais de oficial- sem especialidade civil.
Capitão Uber ??? Ganha 15 mil brutos. Agora, o sujeito tem duas ou três famílias, um ou dois divórcios, aí fica ruim de dinheiro. Enquanto a ir para polícias: Gente, todos os dias policiais se arriscam; tem que se envolver em encrencas dos outros e lidar com cenas de acidentes, pessoas montas e se sujeitarna contaminações.
Não sei quanto a questão de ” querer sair da AMAM” para tentar entrar na academia da Polícia Militar, mas vamos as considerações, aluno da AMAM entram com 18 ou 19 anos, não possuem curso superior, nan tem vantagem em.entrar na PM, então não sai, mas em caso de quem está fazendo faculdade de direito, concluir, será mais vantajoso tentar passar na PM, até porque na AMAM, quanto tempo pô ganha como aluno, como SOLDADO? 5 anos? Quanto tempo fica como aspira? 2° Ten? 1° Ten até sair capitão?? Se o jovem tendo curso superior e capacidade para passar em concurso da PM ( CSPM) é como tivesse passado em concurso de delegado, salário quase que equivalente, em 1,5 ano já estará formado capitão e com um bom salário. Isso posto digo sair de uma academia de formação para outra como oficial, logicamente que não é vantagem sair da Acadêmia Top, para continuar sendo soldado ( mesmo que seja da PM), agora o sulino gay deve ter um retardado mental ao falar em “masoquismo, ou pelo menos seguer sabe a função real das instituições.
Tipo assim
..amor e carinho.
https://www.instagram.com/reel/DG8hlEDRVai/?igsh=MWF4aW00cDRpNzhyYQ==
Heitor F, quem lida com pessoas mortas é o SAMU, quem coloca as pessoas nesta situação são os acidentes ou o BOPE… contaminação?? Existe os chamados EPI e procedimentos Operacionais Padrão… logicamente que nem todos das Forças Armadas teriam coragem de ir para a PM, o sulino gay é desses sem coragem….kkkk
Quanto à discussão acima, não sei se tem oficial saindo para a PM, mas praça, de soldado à Sargento, tem sim. Na maior parte dos estados, o salário da PM é muito melhor do que nas FA.