Como Putin ‘obrigou’ Polônia a formar o terceiro maior exército da Europa

Tanques de guerra poloneses; o país está adquirindo novos tanques da Coreia do Sul, além de obuses e sistemas de foguetes
Imagem: Divulgação/Republic of Poland

 

Atuação do presidente Vladimir Putin contra a Ucrânia ameaça a segurança da Polônia e da OTAN

Giovanna Arruda
Colaboração para o UOL*
Participante da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e com influência nas decisões da União Europeia, a Polônia tem aprimorado significativamente a artilharia de seu Exército, que já é o terceiro maior entre os membros da Organização. O principal motivo para a ampliação das forças armadas polonesas vem da Rússia: a atuação do presidente Vladimir Putin contra a Ucrânia ameaça a segurança do bloco.

Os poloneses são vizinhos de fronteira da Ucrânia.

Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, e Vladimir Putin, líder russo: conflito armado que completará três anos no final de fevereiro segue ameaçando a segurança europeia Imagem: Reprodução

No início de 2025, a Polônia assumiu a liderança temporária da União Europeia. No cargo pelos próximos seis meses, conforme a presidência rotativa do bloco, o governo polonês tem como prioridade a segurança das nações que fazem parte da UE. De acordo o jornal The Economist, as autoridades polonesas têm aumentado os gastos com defesa e pode se tornar a nova “âncora de segurança oriental” da Europa.

Estamos enfrentando uma ameaça enorme. Se não aproveitássemos esta oportunidade [a presidência da UE] para desenvolver nossa segurança, seria um fracasso histórico e trágico.Wladyslaw Kosiniak-Kamysz, ministro da Defesa e vice-primeiro-ministro da Polônia ao The Economist

Entre os membros da Otan, as forças armadas polonesas ocupam o terceiro lugar. À frente, estão somente as forças dos Estados Unidos e da Turquia. Atualmente com mais de 200 mil membros, o exército da Polônia tem um orçamento de US$ 35 bilhões (cerca de R$ 206 bilhões na cotação atual), segundo o The Economist.

No continente europeu, somente Reino Unido, França e Alemanha investem mais em suas respectivas forças armadas. Em relação PIB, no entanto, o investimento da Polônia é maior do que o orçamento destes países.

Para as autoridades polonesas, eventuais decisões e cortes de Donald Trump podem representar uma potencial ameaça à segurança da Europa. Ao assumir o segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, Trump questionou o aporte financeiro do país para a Otan. “Não sei se deveríamos estar gastando alguma coisa [com o grupo]”, disse na última semana. Segundo Trump, os membros da Otan deveriam direcionar 5% de seus PIBs ao bloco. Visando ser uma “ponte” entre a UE e os EUA, a Polônia aumentará de 4,1 para 4,7% de seu PIB reservados à OTAN em 2025. “Fizemos o que Trump esperava […] Sem os EUA, a Otan não funciona”, declarou Kosiniak-Kamysz.

Para o The Economist, “a fronteira oriental da Europa parece instável”. Além da incerteza em relação ao compromisso de Trump com a Otan, o avanço das forças armadas comandadas por Vladimir Putin na Ucrânia, em um conflito que perdura há quase três anos, também ameaça parte do continente.

Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, e Vladimir Putin, líder russo: conflito armado que completará três anos no final de fevereiro segue ameaçando a segurança europeia – Reprodução – Reprodução
Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, e Vladimir Putin, líder russo: conflito armado que completará três anos no final de fevereiro segue ameaçando a segurança europeia
Imagem: Reprodução
Na tentativa de se proteger contra estas eventuais ameaças, a Polônia segue aumentando seu poder bélico. Segundo o The Economist, as forças armadas do país estão negociando com a Coreia do Sul a compra de centenas de novos tanques, obuses [peça de artilharia destinada a lançar projéteis com trajetórias curvas] e sistemas de foguetes de lançamento múltiplo. Em acordos bilionários com os Estados Unidos, a Polônia adquiriu, ainda, 96 helicópteros de ataque Apache e US$ 2,5 bilhões (mais de R$ 14 bilhões) para aprimorar seus sistemas de defesa aérea.

A Polônia e o conflito Rússia x Ucrânia
Segundo a análise do The Economist, a “hesitação da Polônia tem sido mais clara na questão de receber tropas da Otan na Ucrânia, se um cessar-fogo puder ser alcançado”. A sugestão, levantada pelo presidente da França Emmanuel Macron, ganhou força em dezembro, quando Trump prometeu acabar com a guerra entre as tropas de Putin e do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.

Soldados ucranianos disparam sistema de foguetes em direção às tropas russas em imagem de julho de 2023 – REUTERS/Oleksandr Ratushniak – REUTERS/Oleksandr Ratushniak
Soldados ucranianos disparam sistema de foguetes em direção às tropas russas em imagem de julho de 2023
Imagem: REUTERS/Oleksandr Ratushniak
Segundo Donald Tusk, primeiro-ministro da Polônia, o país “não estava planejando” enviar soldados ao conflito. A atitude de Tusk, conforme o The Economist, é um “desacordo” com as intenções nacionais por maior peso nas questões de segurança da UE. Para o ministro da Defesa Kosiniak-Kamysz, qualquer decisão em relação à participação da Polônia na guerra contra Putin teria que ser tomada pela Otan como um todo. Segundo Zelensky, se a Polônia se opuser à adesão da Ucrânia à Otan, as autoridades polonesas devem começar o “treinamento militar para se preparar para uma guerra com a Rússia”.

Mais importante é a sensação de que, ao lidar com aliados, a Ucrânia ignora a Polônia. Volodymyr Zelensky prefere falar com os EUA, Reino Unido, França, Alemanha e a Comissão Europeia. Seu governo entende pouco seu vizinho ocidentalThe Economist sobre a relação entre Ucrânia e Polônia na guerra contra a Rússia

Putin declarou, na última terça-feira (28), que o conflito com a Ucrânia terminaria rapidamente sem apoio do Ocidente. “[As forças armadas ucranianas] Não resistiriam um mês se o dinheiro e, em um sentido amplo, as balas acabassem. Tudo terminaria em um mês e meio ou dois”, disse Putin a um repórter da televisão estatal russa.
*Com informações da AFP.
BOL – Edição: Montedo.com

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