Governo Bolsonaro fez 16 nomeações de generais de quatro estrelas em cargos ligados à máquina federal; no atual mandato, só houve um nomeado
Bernardo Mello
Depois de quatro anos em que ampliaram presença no governo federal sob a administração de Jair Bolsonaro (PL), generais que compuseram o Alto Comando do Exército, o mais alto degrau da hierarquia militar, perderam espaço sob a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Levantamento do GLOBO com portarias do Exército e do Diário Oficial da União aponta que, entre os generais promovidos à quarta estrela desde 2011, após a primeira passagem de Lula pela Presidência, apenas um obteve um cargo de confiança na atual administração: o general Marcos Antonio Amaro dos Santos, atual ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Já o governo Bolsonaro fez 16 nomeações de generais de quatro estrelas em cargos ligados à máquina federal — a maioria (12) nos dois primeiros anos de governo, período equivalente ao atual mandato de Lula. A lista inclui militares nomeados mais de uma vez, caso do general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa na gestão Bolsonaro. Braga Netto foi preso pela Polícia Federal, no último dia 14, no inquérito que apura uma tentativa de golpe para impedir a posse de Lula.
Quarta estrela
O Alto Comando é composto por 16 generais de Exército, nomenclatura dada aos militares da ativa que foram promovidos à quarta estrela. Desde o início da última década, 62 generais atingiram o topo da carreira militar, e 20 deles obtiveram posteriormente cargos de confiança no Executivo federal, a maioria depois de ter passado à reserva. O cálculo do GLOBO desconsidera cargos em administrações estaduais, em outros Poderes e em estatais e autarquias que tenham finalidade militar.
Sob a gestão de Bolsonaro, Braga Netto foi um raro caso de general de quatro estrelas nomeado quando ainda estava na ativa: ele assumiu a Casa Civil em fevereiro de 2020, e só passou à reserva no fim daquele mês.
Além de Braga Netto, outros dois militares indiciados pela PF no inquérito da trama golpista compuseram o Alto Comando na última década: os generais Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, e Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira — cujo irmão, o também general de quatro estrelas Guilherme Cals Theophilo, foi secretário nacional de Segurança Pública no governo Bolsonaro.
Outro general de quatro estrelas com cargo na gestão Bolsonaro foi Mauro Cesar Lourena Cid, ex-chefe do escritório da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações) nos Estados Unidos. Ele é pai do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Barbosa Cid, que é tenente-coronel do Exército e foi apontado pelas investigações da PF como um dos operadores da tentativa de golpe.
— Houve uma aproximação excessiva desses generais de topo de carreira e o governo Bolsonaro através da ocupação de espaços. É claro que agora há uma diferença no governo Lula, o que também envolve um longo histórico de desconfianças entre os militares e o PT — avalia o historiador Carlos Fico, professor da UFRJ e pesquisador da história militar no país.
A primeira passagem de Lula pela Presidência, entre 2003 e 2010, teve atritos entre governo e caserna, principalmente após o Exército divulgar comunicados exaltando a ditadura militar de 1964. A dificuldade na relação com as Forças Armadas levou o petista a buscar nomes de maior peso político para o posto de ministro da Defesa, como o então vice-presidente José de Alencar, que ocupou o cargo entre 2004 e 2006, e o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim, que ficou de 2007 a 2011, já na gestão de Dilma Rousseff (PT).
Uma solução semelhante pode ser adotada no atual governo, depois de o atual ministro José Múcio ter sinalizado que pretende deixar o cargo. Entre os nomes cotados a substituí-lo estão o atual ministro da Justiça e ex-ministro do STF, Ricardo Lewandowski, e o vice-presidente Geraldo Alckmin.
Ex-diretor do Instituto de Estudos Estratégicos da UFF, o cientista político Eurico Figueiredo avalia que, além de ministros que melhoraram a interlocução com a caserna, o primeiro governo Lula conseguiu superar estranhamentos com as Forças Armadas ao desenvolver, com os militares, a primeira versão da Estratégia Nacional de Defesa (END). Para Figueiredo, que participou de pesquisas em cooperação com os militares, tratou-se de um momento em que as Forças Armadas ampliaram sua participação “político-estratégica” no governo federal, em diálogo com lideranças civis.
O pesquisador contrapõe esta participação à ocupação de cargos registrada no governo Bolsonaro, a qual ele enxerga como aprofundamento de um processo iniciado na gestão de Michel Temer.
Após o impeachment de Dilma, em 2016, Temer nomeou seis generais de quatro estrelas em cargos de confiança, inclusive o de ministro da Defesa, posto assumido em 2018 pelo general Joaquim Silva e Luna — que depois se tornou diretor de Itaipu e presidente da Petrobras sob a gestão Bolsonaro.
‘Politização deletéria’
Para Figueiredo, a quase ausência de generais em cargos de confiança no governo Lula reflete uma tentativa de “desmontar” um desvirtuamento da atividade militar, com o objetivo de “retornar ao que havia antes” da atual politização da caserna.
— A politização das Forças Armadas no governo Bolsonaro foi extremamente deletéria, porque transformou os militares em agentes políticos, logo, também em vidraças políticas. É preciso retomar um relacionamento harmonioso entre as Forças Armadas e o governo federal, e me parece que os atuais comandantes estão interessados em despolitizar as Forças e engajá-las nas suas atividades-fim, de defensoras da soberania e da integridade nacional — apontou Figueiredo.
O GLOBO – Edição: Montedo.com
11 respostas
Como se eles se preocupassem com “espaço no governo”.
Geração hedonista e utilitarista se preocupa apenas com o resultado das “sinecuras”, ou seja, dindin.
Ótimo! Se não tivessem se abraçado com o falso messias, não estávamos nesse beco sem saída, carreira desvalorizada, desmoralização perante a sociedade e odiado pela esquerda e direita.
passou a vida na caserna? se aposenta e presta concurso se quiser entrar na vida publica. Como exemplo e como regra, todos deveriam ser assim.
Isto é maravilhoso!
o pior lobby ocorreu em 2019, em proveito próprio, porém Deus não dorme, a conta virá, mais cedo ou mais tarde.
Sinceramente, analisando de forma desapaixonada, não tem justificativa nenhuma para generais – ou qualquer outro militar – ocupar cargos nos Governos.
Militar é no quartel, é preocupado com as atribuições do seu cargo de militar.
Essa de general fazer parte de Governos só existe em Republiquetas ou ditaduras.
Aqui, herdamos isso dos caudilhos ainda da época da colônia.
República não exige e não necessita de militares em seus cargos públicos.
O militar que almeja algum cargo público na Administração Pública civil que faça concurso público ou peça demissão/licenciamento e se condidate a algum cargo político.
Simples assim.
Em complemento ao meu comentário anterior:
Nessa de general ocupar cargo público fora da caserna, tivemos o exempo mais emblemático do general de Intendência que foi alçado ao cargo de Ministro da Saúde?!
E o mais hilário foi ele ter justificado a sua “competência” para esse Ministério porque quando comandante de uma Região Militar tinha hospitais militares subordinados ao seu comando?!
Sem mais comentários…
Jose serra foi um bom ministro da saude mesmo nao sendo da area de saude o cara era competente.
Vai ter aumento?
Vai ter aumento do dolar.
Vai ter aumento da inflacao.
Faz o L