Andrei Rodrigues afirma que relação com os comandos de Exército, Aeronáutica e Marinha é de ‘alto nível e harmoniosa’
Eduardo Gonçalves
Brasília – O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou nesta quarta-feira que o indiciamento de 25 militares no inquérito sobre a trama golpista comprova que não houve nenhuma pressão externa para blindar membros das Forças Armadas. Andrei ressaltou que mantém atualmente uma “relação de alto nível” com os atuais chefes do Exército, Aeronáutica e Marinha e o contato entre eles “funciona absolutamente de maneira harmoniosa”.
— Não houve nenhuma questão política que obstasse medidas que nós deveríamos tomar, tanto que há pela primeira vez na história do Brasil um general preso — afirmou o diretor-geral, referindo-se à prisão preventiva do general Mário Fernandes, que foi ex-secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência durante o governo Bolsonaro. Ele foi alvo da Operação Contragolpe deflagrada em novembro.
— A PF não investiga nenhuma patente, nenhum cargo. A gente investiga fatos. Se o sujeito é médico, coronel, jornalista, pedreiro ou empresário, isso não muda a investigação — acrescentou o diretor-geral.
Questionado sobre a possibilidade de prisão do general Braga Netto, que foi ministro da Defesa e da Casa Civil do governo Bolsonaro, Andrei afirmou que a equipe de investigação não viu motivos para essa medida. Braga Netto foi um dos indiciados por tentativa de golpe, abolição violenta do estado democrático de direito e organização criminosa junto com o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 35 pessoas. Eles negam que tenham atuado por uma ruptura democrática.
— Nós não agimos com emoção, não agimos por deleite, por vontade individual. Nós agimos com a Constituição e a lei. Na avaliação da equipe de investigação, os pré-requisitos de prisão preventiva não eram aplicáveis para esse cidadão (Braga Netto) — disse Andrei.
Por outro lado, o diretor explicou que a prisão preventiva de quatro militares na Operação Contragolpe ocorreu porque alguns deles iriam trabalhar na segurança do evento do G20 no Rio de Janeiro, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva marcaria presença. Segundo as investigações, esses militares são suspeitos de envolvimento em um plano para matar Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
— É importante sempre agir por precaução. Faço um paralelo com a lei antiterrorismo, que atos preparatórios já são considerados crimes. Não podemos pagar para ver. Temos que atuar com prevenção — disse ele.
O diretor-geral também fez uma análise sobre o relatório de 884 páginas, que pediu os 37 indiciamentos e foi remetido à Procuradoria-Geral da República (PGR) na semana passada.
– Nunca se fez isso no nosso país. É difícil ver algum país que tenha avançado nessa profundidade, nesse conteúdo de trazer toda essa trama golpista, de maneira técnica, sóbria, de maneira comprovada – avaliou o diretor-geral.
Andrei destacou ainda o trabalho coletivo realizado entre a PF e as Forças Armadas na segurança do G20, que aconteceu em novembro. O evento reuniu diversas autoridades estrangeiras, como os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da China, Xi Jinping, e não registrou nenhum incidente grave.
O GLOBO – Edição: Montedo.com