Imagens de satélite mostram cerca de 100 veículos militares de Israel na fronteira com o Líbano antes de possível invasão

Visão geral da cidade de Tiro, no sul do Líbano, mostra uma nuvem de fumaça surgindo após um ataque aéreo israelense na vila de Qlayleh em 30 de setembro de 2024 — Foto: Kawnat HAJU / AFP

 

Segundo o Ministério da Saúde libanês, 95 pessoas morreram e 172 ficaram feridas em ataques israelenses no país nesta segunda, em meio aos rumores de incursão
O Globo e agências internacionais
Tel Aviv e Beirute – Cerca de 100 veículos militares israelenses, de tanques a caminhões e blindados, podem ser vistos em imagens de satélite num local de concentração improvisado a cerca de 8 km da fronteira com o Líbano, publicou a CNN nesta segunda-feira. As imagens foram feitas no domingo, e registros adicionais mostram que veículos das Forças Armadas de Israel começaram a chegar ao local após o dia 26 de setembro. As fotos de satélite não foram divulgadas pela rede americana para proteger o anonimato da fonte que as forneceu. Segundo o Ministério da Saúde libanês, 95 pessoas morreram e 172 ficaram feridas em ataques israelenses no país nesta segunda-feira, em meio aos rumores de incursão.

Os registros mostram que os veículos do Exército ainda estão chegando ao local, e autoridades israelenses relataram aos Estados Unidos que estão conduzindo “operações limitadas focadas na infraestrutura do Hezbollah perto da fronteira” entre o Estado judeu e o Líbano. Segundo sete oficiais e autoridades israelenses e um alto funcionário ocidental ouvidos pelo New York Times, unidades de comando israelenses fizeram breves incursões no Líbano nos últimos dias para se preparar para uma possível invasão terrestre mais ampla.

As fontes disseram que as incursões se concentraram na coleta de Inteligência sobre as posições do grupo xiita na região, além de trabalhar na identificação de túneis e de infraestrutura militar da organização político-militar libanesa, apoiada pelo Irã. Nesta segunda-feira, o gabinete de Israel se reuniu para discutir se — e quando — lançar uma grande operação terrestre no sul do Líbano. Se confirmada, esta será a primeira incursão israelense na área em quase 20 anos. O Estado judeu já ocupou o sul libanês de 1982 a 2000 e invadiu brevemente o local em 2006, durante uma guerra de um mês com o Hezbollah.

Outras fontes israelenses ouvidas pelo Wall Street Journal afirmaram que soldados das forças especiais participaram de “missões direcionadas”, tendo inclusive adentrado nas redes de túneis utilizadas pelo Hezbollah para movimentação e ataques. As operações estariam acontecendo “há meses”, de acordo com as mesmas fontes (ouvidas em anonimato), mas teriam ganhado intensidade nos últimos dias. À Associated Press, um residente do norte de Israel disse que o Exército posicionou dezenas de tanques ao longo da fronteira nos últimos dias.
— Eles certamente estão se preparando para entrar — disse.

Sinais mistos
Os Estados Unidos perceberam alguns sinais de que Israel estava se preparando para avançar no Líbano, e alguns oficiais americanos e egípcios disseram acreditar que uma grande operação terrestre era iminente. Autoridades dos EUA, porém, afirmaram nesta segunda-feira que acreditam ter conseguido persuadir as forças israelenses a não realizar uma grande invasão por terra no país vizinho. Após discussões com lideranças do Estado judeu, as mesmas fontes disseram que Israel possivelmente planeja apenas incursões menores na área da fronteira.

Até o momento, porém, os sinais permanecem mistos. Em declaração divulgada pelo escritório do ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, o israelense sugeriu que poderia enviar tropas terrestres ao Líbano. E, nesta segunda-feira, ele disse a prefeitos de cidades próximas à fronteira com o território libanês que “a próxima fase da guerra contra o Hezbollah começará em breve” e “constituirá um fator significativo na mudança da situação de segurança”, permitindo que os mais de 60 mil israelenses que fugiram dos ataques do grupo no ano passado voltem para as suas casas.

— Usaremos todas as capacidades que temos e, se alguém do outro lado não entendeu o que “todas as capacidades significam”, são todas as capacidades. E vocês são parte desse esforço, confiamos que vocês serão capazes de realizar qualquer coisa — afirmou Gallant em visita a tropas no norte do país. — Tudo o que precisa ser feito, será feito. Usaremos todas as forças do ar, mar e terra.

Mais cedo, as Forças Armadas de Israel declararam que algumas áreas no norte de Israel, perto da fronteira com o Líbano, foram declaradas uma zona militar fechada, cuja entrada foi proibida. Após a declaração, segundo o Guardian, o Exército libanês iniciou o processo de retirada da região. Ao contrário do Hezbollah, o Exército do Líbano faz parte das Forças Armadas oficiais do país, sob controle do governo central, e não conduz uma ofensiva militar contra o Estado judeu. O grupo xiita é uma entidade separada, com sua própria ala militar, conhecida por ser mais poderosa que as forças libanesas.

Ainda nesta segunda, o Hezbollah afirmou que suas forças enfrentariam as tropas israelenses se o Estado judeu realizar uma invasão completa. Em declaração televisionada, o xeique Naim Qassem, vice de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah morto na última sexta-feira, disse que o grupo lidará com “qualquer possibilidade”. Ao The Times, autoridades americanas afirmaram que, se uma operação mais ampla avançasse, era esperado que Israel tentasse destruir a infraestrutura militar da organização libanesa perto da fronteira.

— Enfrentaremos qualquer possibilidade, e estamos prontos se os israelenses decidirem entrar por terra. As forças da resistência estão prontas para um confronto terrestre — afirmou Qassem, na mesma manhã que a diplomacia iraniana afirmou que não enviaria homens para reforçar as forças do Hamas ou do Hezbollah, afirmando que eles teriam a capacidade de se defenderem sozinhos.

Enquanto o vice-líder discursava, novos ataques foram lançados contra o Estado judeu. Dois comunicados separados divulgados pelo grupo apontaram que os bombardeios atingiram uma base militar a leste de Haifa, a cerca de 50 km da fronteira, e a cidade de Safed, no norte de Israel, localizada a 12 km da chamada Linha Azul, que divide os dois países. Horas mais tarde, as Forças de Defesa de Israel convocaram moradores de três áreas no sul de Beirute a saírem da região antes de um possível ataque a alvos do Hezbollah na região.

— Vocês estão localizados perto de interesses e instalações pertencentes ao grupo terrorista Hezbollah, e, portanto, as Forças Armadas de Israel agirão contra eles de forma contundente — disse o porta-voz militar israelense Avichay Adraee em um vídeo publicado nas redes sociais.

Nas primeiras horas de segunda-feira (domingo no horário de Brasília), Israel lançou um ataque aéreo com drones perto do cruzamento de Kola, no centro de Beirute, marcando a primeira vez que atingiu a capital libanesa fora dos subúrbios do sul desde o início da guerra e da recente escalada contra o Hezbollah. A Frente Popular para a Libertação da Palestina anunciou que três de seus principais membros foram mortos em um ataque israelense em Beirute.

O sul do Líbano é uma área acidentada, repleta de vales íngremes, onde os defensores podem facilmente emboscar um exército invasor, um fator que pode ter moldado o planejamento militar israelense. As incursões e os planos sugerem que Israel está tentando capitalizar a desorganização do Hezbollah, após ter matado grande parte da liderança sênior do grupo nas últimas semanas. Analistas ressaltam, contudo, que o grupo ainda controla grande parte do lado libanês da fronteira, onde construiu uma extensa rede de instalações militares, lançadores de foguetes e túneis que representam uma ameaça para civis do norte de Israel.

Matthew Miller, o porta-voz do Departamento de Estado americano, disse a repórteres nesta segunda-feira que “Israel tem o direito de se defender contra o Hezbollah”, mas que os EUA desejam ver “uma resolução diplomática” para o conflito. Ele culpou o grupo xiita por iniciar o conflito atual ao lançar ofensivas quase diárias contra o território israelense desde 7 de outubro, quando a guerra na Faixa de Gaza teve início, e reforçou que a proposta de 21 dias de cessar-fogo no Líbano, liderada por Washington e revelada na semana passada, continua sendo uma opção. Os EUA ainda buscam uma resolução diplomática de longo prazo que exigiria que o Hezbollah retirasse suas forças da fronteira, seguindo as exigências da ONU.

— Devemos deixar claro que o ônus dessa resolução diplomática não recai apenas sobre Israel, mas também sobre o Hezbollah — disse ele.

Alguns países europeus começaram a retirar seus diplomatas e cidadãos do Líbano nesta segunda-feira. A Alemanha enviou um avião militar para repatriar parentes de diplomatas e outros, e a Bulgária direcionou um jato do governo para retirar o primeiro grupo de seus cidadãos. No Brasil, o Sinditamaraty, entidade que representa os servidores do Itamaraty, manifestou “extrema preocupação” com a segurança dos servidores do órgão e seus familiares na região, acusando o governo brasileiro de “inércia” diante da elevada tensão no território libanês.
(Com AFP e New York Times)
O GLOBO 

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