EUA e China disputam influência com tropas em exercício militar no Brasil

Tenente-coronel Brandon Ward, chefe da tropa da Marinha dos EUA em exercício militar em Formosa (GO) - Pedro Ladeira/Folhapress

 

Chefe de contingente americano diz à Folha que foco é estreitar laços com forças brasileiras e que ‘outros países têm objetivos diferentes’; Pequim não comenta

Cézar Feitoza
Brasília – A presença de tropas da China e dos Estados Unidos na Operação Formosa, exercício militar da Marinha do Brasil, teve rivalidade nos bastidores e esforço para evitar constrangimentos.

Essa é a primeira vez que militares das duas potências rivais participaram juntos de simulações de conflitos no Brasil.

O ineditismo se tornou viável diante da tentativa de Pequim de ampliar a cooperação militar com o Brasil desde o início do terceiro mandato de Lula (PT) —e da resposta dos EUA para tentar evitar o crescimento da influência chinesa na América do Sul.

Operação Formosa, em Goiás, reuniu pela primeira vez tropas dos EUA e da China – Pedro Ladeira/Folhapress
A China participou pela primeira vez da Operação Formosa em 2023, apenas como observadora. Era um contingente pequeno, sem tropas armadas.

Os americanos souberam com antecedência da vinda dos chineses e decidiram dar um passo à frente: enviaram parte de uma tropa para aumentar a participação na simulação do ano passado.

Numa disputa silenciosa, a China decidiu neste ano enviar uma tropa de 32 marinheiros especializados em operações especiais para o exercício. Washington, em reação, aumentou o efeito enviado a Formosa (GO) para 62 fuzileiros navais.

Chefe das tropas americanas na operação, o tenente-coronel Brandon Ward afirmou à Folha que o objetivo da participação dos EUA era reforçar a aliança com a Marinha brasileira.

“Entendemos que outros países têm objetivos diferentes. O nosso é estreitar os laços com a Marinha porque nós queremos ter uma relação forte da América do Norte com a América do Sul, para que possamos trabalhar juntos em qualquer crise que vier”, disse Ward.

Operação Formosa, em Goiás, reuniu pela primeira vez tropas dos EUA e da China – Pedro Ladeira/Folhapress

As autoridades chinesas que participaram da operação não tiveram autorização de Pequim para se manifestar.

A Marinha tentou não dar grande destaque para a participação de chineses e americanos. Almirantes ouvidos pela Folha sob anonimato falaram que foi preciso calcular a publicidade do fato para não gerar constrangimentos de americanos ou de chineses.

O comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, foi sucinto ao comentar o assunto. Comemorou a participação de todos os estrangeiros pelo “intercâmbio de conhecimentos” e pela presença de dez países como observadores. “Não há como não reconhecer: trata-se de instrumento de incremento de confiança”, afirmou Olsen, após o exercício desta quarta-feira (11).

A atual edição da Operação Formosa também foi marcada pela inédita participação de mulheres como soldados, embora fossem apenas 73 dos 3.000 militares envolvidos. Todas eram formadas neste ano no curso dos fuzileiros navais. Elas executaram as mesmas funções que os homens, como desembarcar de blindados, atirar contra alvos estáticos e explodir maquetes.

A Formosa é o principal exercício militar do Corpo de Fuzileiros Navais e envolve tiros com munições reais, atendimento pré-hospitalar, navegação de viatura blindada e reconhecimento de agentes nucleares e químicos. São feitas ainda simulações de desembarque anfíbio (blindado que anda em terra e na água), ataques aéreos, uso de foguetes e obuses.

A operação começou no último dia 4 e vai até dia 17 na cidade goiana a cerca de 80 km de Brasília.

O Campo de Instrução de Formosa tem cerca de 1.500 km², o equivalente ao município de São Paulo. O espaço pertence ao Exército, que o empresta para o treinamento.

A base está dentro de cerrado nativo e, pelas dimensões, permite operações de artilharia do Exército. Havia focos de incêndio na região durante a manhã de quarta, quando a Folha acompanhou parte do exercício.

Neste ano, após décadas, o lançador de mísseis da Marinha não foi utilizado. O motivo é a falta de munições da Avibras —empresa brasileira que produz mísseis e foguetes e está em recuperação judicial, com quase R$ 1 bilhão em dívidas.

FOLHA – Edição: Montedo.com

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