Orçamento: reações à ameaça de Maduro e à tragédia no Sul colocam a corda no pescoço do Exército

Veículo blindado do Exército deixa Manaus para ir a Roraima - Bruno Kelly - 2.fev.2024/Reuters

 

Dados inéditos mostram o tamanho da ação da Força em Roraima, que já empenhou meio bilhão de reais em equipamentos e recursos; Rombo nas contas era de R$ 900 mi antes da operação no Sul

Marcelo Godoy 

O Brasil empenhou quase meio bilhão de reais para enfrentar a ameaça da Venezuela de invadir Essequibo e se apropriar de 70% do território da Guiana, passando pela savanas do norte do País. Ao todo, foram gastos R$ 217 milhões nas três fases da operação logística, iniciada em 22 de novembro de 2023. Além disso, foram enviados a Roraima equipamentos avaliados em R$ 228 milhões. E isso tudo em um momento em que a Força Terrestre recebeu o pior orçamento em uma década para cobrir suas despesas discricionárias e terá de enfrentar os gastos com a operação no Rio Grande do Sul.

Balsas de transporte levam pela Amazônia equiupamento do Expercito até a 1ª Brigada de Infantaria de Selva, em Roraima
Balsas de transporte levam pela Amazônia equiupamento do Expercito até a 1ª Brigada de Infantaria de Selva, em Roraima Foto: Exército Brasileiro

Os dados do Exército mostram pela primeira vez a dimensão da operação de guerra montada para dissuadir Nicolás Maduro e seu ministro da Defesa, o general Vladimir Padrino López, antes e depois do plebiscito convocado pelos dois sobre Essequibo. A Força Terrestre já enviou para Roraima 32 viaturas blindadas leves multitarefas (VBLMT) Guaicuru, oito blindados Guaraniseis blindados Cascavel, 22 viaturas não blindadas, além de dezenas de mísseis RBS 70 antiaéreos e Mísseis Superfície-Superfície 1.2 AntiCarro (MSS 1.2 AC), munição de armamento pesado e leve, morteiros 81 mm, metralhadoras Minimi MK3, metralhadoras de calibre .50 M2 HB e metralhadoras de calibre 7,62 mm.

O material foi usado para a ativação do 18.º Regimento de Cavalaria Mecanizado, em Boa Vista, e para reforçar outras unidades da 1.ª Brigada de Infantaria de Selva. Além de dissuadir Maduro, a Operação Roraima evitou que a ausência brasileira fosse usada como justificativa para os EUA ampliar a presença na Guiana. Para o Exército, a ação serviu ainda para “avaliar e definir estratégias mais adequadas ao Sistema Logístico Militar Terrestre (SLMT) para garantir o abastecimento das tropas, o transporte de equipamentos e o incremento da prontidão logística do Comando Militar da Amazônia (CMA)”.

Na ausência de estradas de ferro, o material militar foi levado por aviões, por rodovias e pelos Rios Amazonas e Madeira. Foram usados dois eixos de transporte. O primeiro saiu de Cascavel, no Paraná, e passou pelas estradas BR-153 e BR-010, usando, em seguida, a calha do Amazonas, entre Belém e Manaus. A distância de 5.086 quilômetros percorrida para levar os primeiros blindados a Roraima equivale à que separa Lisboa de Moscou. Essa primeira fase da operação, ocorrida entre 22 de novembro e 2 de janeiro, custou R$ 6,5 milhões, liberados pelo Estado-Maior do Exército para o Comando Logístico (COLOG).

Blindado Cascavel sendo transportado para Roraima durante a Operação Roraima
Blindado Cascavel sendo transportado para Roraima durante a Operação Roraima Foto: Exército Brasileiro

Na segunda fase da Operação, o eixo de progressão das tropas foi do Pantanal em direção ao Rio Madeira, por meio das rodovias BR-163 e BR-364, além da calha do Rio Madeira no trecho entre Porto Velho (RO) e Manaus. De 10 de janeiro a 4 de fevereiro, foi feito o transporte do Esquadrão de Cavalaria Mecanizado do Comando Militar do Oeste (CMO) para o Comando Militar da Amazônia (CMA). As organizações militares envolvidas nessa fase da operação receberam outros R$ 2,7 milhões.

Nesse período, um dos problemas enfrentados pelo Exército foi a impossibilidade de a Força Aérea pousar com o KC-30 (Airbus A330-200), em Boa Vista, em razão das limitações da pista de seu aeroporto. Isso a obrigou a redirecionar os voos para Manaus, o que obrigou a deslocar suprimentos por meio de rodovias, aumentando o tempo necessário para se chegar a área de concentração final da tropa e do material militar.

ESTADÃO

Respostas de 11

  1. Os fatos ocorridos no estado do RS demonstrou quão carentes estão as nossas FA. o comandante da Marinha já declarou a desativação de vários navios.

  2. Acho engraçado o exército se vitimizar com a crítica dos civis e jogando a culpa em um suposto rancor do 8 de janeiro.

    Querem o quê? Teve um general que admitiu que esperou os manifestantes dormirem para prendê-los. Emboscaram as pessoas ordenando que elas entrassem em ônibus e as levaram para o pátio da PF, no qual morreu uma idosa.

    O que os acampados buscavam era evitar o Estado de coisas atual. É fato conhecido que as eleições foram manipuladas pelo TSE, privilegiando um lado específico. Houve perseguições de perfis críticos. Isso é de conhecimento atualmente no Brasil e no mundo.

    Agora que o bicho tá pegando, querem que essas mesmas pessoas que se decepcionaram profundamente com o Exército Brasileiro o defendam? É muita cara de pau.

    Chorem mais que tá pouco. Chorem na cama que é mais quente.

    Os pobres dos praças e até oficiais subalternos, seja de carreira ou temporários e que estão na linha de frente cumprem ordens, não têm culpa. Mas o Exercíto não merece pena nem dorzinha.

    Para de Mi mi mi e vão trabalhar.

      1. As frustrações eu vejo é aqui no comentário dos militares todos os dias. Achando que o Lule seria uma presidente melhor que o Bozo… Huahuahua

        Se deram mal. Agora a sociedade está se vingando do Exército Brasileiro. Falo a sociedade porque a esquerda nunca gostou das Forças Armadas.

        É quem gostava e ia ao dia da Independência, por exemplo, que está com raiva.

    1. É complicado demais para sua mente simplista entender, né? É fácil jogar a culpa em um suposto rancor e tá tudo certo.

      Plantaram, agora a instituição exército que colha.

  3. Segundo o Comandante da Marinha do Brasil o presidente Lula tem uma visão Geoestratégica. SQN.
    E o salario ó!

  4. Nesses tempos “tristes” e estranhos, precisamos separar duas coisas: críticas a erros e incompetência da Administração Pública e as chamadas “fake news”.

    Como todos sabem, “fake news” é simplesmente mentir. Seja criando um fato que não existiu ou distorcendo fatos reais.

    O objetivo das fake news” é manipular a opinião pública para interesses de quem as dissemina, fazendo acreditar que algo aconteceu como narrado.

    A crítica aos erros e incompetências da Administração Pública é direito do cidadão num regime democrático de Direito. Faz parte do controle da Administração por parte de seus verdadeiros “donos”: os cidadãos.

    Inclusive, temos um instituto jurídico para as consequências de erros e incompetências na Administração pública: Ação Popular.

    E o que acontece nos dias atuais é que se confundem as críticas com “fake news”.

    Criticou, já tacha o cidadão de “criminoso”, que espalha “fake news”, atrapalhando as ações da Administração.

    “Fake news” devem ser severamente punidas. Já tivemos uma senhora assassinada sob linchamento por “fake news” disseminada em “zap” no Estado de São Paulo. Não podemos permitir, compartilhar, divulgar, “fake news”.

    Mas a crítica aos erros da Administração devem ser estimuladas. Se o cidadão não fiscaliza, se não aponta os erros, se não critica, continuaremos uma sociedade corrupta e com Agentes Políticos “perdulários” com o já escasso dinheiro público.

    Portanto, cidadão, continue a criticar, aponte os erros, chame a atenção para a incompetência dos nossos agentes públicos em geral.

    É assim que o povo – numa democracia – demonstra que uma República é do povo e para o povo.

    Em suma: separemos as críticas das “fake news”.

  5. Se todo equipamento enviado à Roraima no valor de R$ 228 milhões citados na matéria ainda não foi pago, certamente há o EMPENHO. Se já foi pago, não há EMPENHO. A duvida são esses R$ 217 milhões: se gastos apenas em transporte e logística dos equipamentos a contabilidade apresentada pelo repórter não fecha. Se inclui despesas de pessoal, diárias, alimentação, hospedagem, armamentos leves e outras despesas acessórias, pode até ser que seja coerente.

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