Em carta a deputados, almirante Olsen pede que líder da Revolta da Chibata não seja reconhecido como herói da pátria Bernardo Mello Franco
Em carta enviada à Câmara, o comandante Marcos Sampaio Olsen pediu que os deputados rejeitem a inclusão do marinheiro João Cândido no Livro de Heróis da Pátria.
A homenagem ao líder do levante de 1910 já foi aprovada no Senado. Agora é debatida na Comissão de Cultura da Câmara.
Na mensagem aos deputados, o almirante definiu João Cândido como um mero “insurgente”. Ele classificou a revolta como “deplorável página da história nacional”.
“Manifesto que a Força Naval não vislumbra aderência da atuação de João Cândido Felisberto na Revolta dos Marinheiros com os valores de heroísmo e patriotismo, e sim flagrante que qualifica reprovável exemplo de conduta para o povo brasileiro”, escreveu.
O comandante ainda se referiu aos participantes da revolta como “abjetos marinheiros que, ferindo hierarquia e disciplina, utilizaram equipamentos militares para chantagear a nação”.
Autor de seis livros sobre o levante, o historiador Álvaro Pereira do Nascimento, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, criticou a carta de Olsen.
“É um erro grave. A Marinha tem que reconhecer seus erros, porque não haverá como apagá-los da História”, afirmou, em audiência pública nesta quarta.
Fora dos círculos militares, João Cândido é reconhecido há décadas como um símbolo da luta contra o racismo.
O motim que ele liderou foi uma resposta às punições físicas que eram aplicadas aos marinheiros, na maioria negros. A rotina de maus-tratos não foi interrompida com a assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravidão em 1888.
Mesmo proscrito pela Marinha, João Cândido inspirou peças de teatro, desfiles de carnaval e músicas populares. Ele é o almirante negro de “Mestre-sala dos mares”, composição de João Bosco e Aldir Blanc censurada na ditadura militar.
Em 2021, durante o governo de Jair Bolsonaro, o comando da Marinha divulgou um documento com críticas ao líder da Revolta da Chibata. A carta de Olsen mostra que a opinião da Força não mudou após a posse do presidente Lula.
O que foi a Revolta da Chibata
Filho de escrava, João Cândido liderou a Revolta da Chibata, movimento de marinheiros que parou o Rio em 1910. Os rebeldes tomaram quatro navios na Baía de Guanabara e apontaram os canhões para a cidade. Ameaçavam abrir fogo se as punições físicas não fossem abolidas.
Às vésperas do motim, o marujo Marcelino Rodrigues Menezes havia sido castigado diante da tripulação do encouraçado Minas Gerais. Foi amarrado ao mastro e levou 250 chibatadas.
A rebelião mobilizou 2.379 praças aos gritos de “Viva a liberdade” e “Abaixo a chibata”. Em mensagem ao presidente Hermes da Fonseca, eles protestaram contra a rotina de maus-tratos:
“Pedimos a V. Exª. abolir a chibata e os demais bárbaros castigos pelo direito da nossa liberdade, a fim de que a Marinha brasileira seja uma Armada de cidadãos, e não uma fazenda de escravos que só têm dos seus senhores o direito de serem chicoteados.”
A Lei Áurea, assinada em 1888, ainda não havia chegado aos navios de guerra. Os marinheiros, quase todos negros, continuavam a ser açoitados pelos superiores, quase todos brancos.
O motim instalou o pânico na então capital da República. Os rebelados mataram seis oficiais que tentaram reprimi-los. Um tiro de advertência matou mais duas crianças no Morro do Castelo.
A imprensa defendeu os marujos e apelidou João Cândido de Almirante Negro. No Senado, Ruy Barbosa cobrou o fim dos castigos e exaltou “o homem do povo, preto ou mestiço, que veste a nobre camisa azul da nossa Marinha”.
O governo ofereceu uma anistia para encerrar o movimento, mas descumpriu o trato e expulsou a maioria dos rebeldes.
João Cândido foi preso e confinado numa solitária. Absolvido, passou a sobreviver como estivador e vendedor de peixes na Praça XV.
Na velhice, morava numa rua sem luz e sem asfalto na Baixada Fluminense. Morto em 1969, viraria herói popular, inspirando músicas, peças de teatro e desfiles de carnaval.
20 respostas
Grande Herói Marinheiro João Cândido, o Almirante Negro. Livrou marinheiros dos castigos físicos.
Marinha do Brasil concede medalhas aos Deputado federal Capitão Cueca José Guimarães e ao senador Randolfe Rodrrigues.
Bravo zulu.
General Cândido.
os praças daquela época para os de hoje, são iguais, continuam sendo tratados como um ser de segunda classe, um serviçal.
Até hoje os ofs generais na maioria brancos do rio de janeiro e Área do sudeste; do nordeste e do interior do Brasil saem os praças.
São famílias que a geração comando a marinha, posto de general é passado de pai pra filho.
Que seja reconhecido o valor desse Marinheiro.
Nenhum navio da esquadra brasileira foi batizado com o nome do militar que pôs fim aos castigos físicos na Marinha. Em compensação, Custódio de Melo e Saldanha da Gama, oficiais que promoveram revoltas visando interesses políticos, portanto rebeldes, tiveram seus nomes lembrados; transporte de tropas Custódio de Mello e navio – escola Saldanha da Gama.
Pobre Brasil.
Dois pesos e duas medidas, apenas. Se Alm. João Candido fosse na época, oficial, branco e abolicionista, certamente já estaria no livro de heróis da nação.
Diferente de Marcílio Dias que faleceu em combate. Sangue dos Praças, Glórias dos Oficiais.
Fácil chamá-lo de insurgente, quando se está com o chicote na mão, né Cmt MB?
Se não fosse o Almirante João Candido, os castigos físicos iriam acabar quando!? Com certeza o Almirante Olsen deve ser um oficial frustrado, uma vez que quando entrou na marinha, o castigo físico já não existia e ele não pode usar esse método de coação contra o subordinado. Viva João Candido!
Ser disciplinado = aceitar a chibata no lombo !
Se dependesse da vontade desses oficiais generais, a Chibatada voltaria a ser empregada.
Bom exemplo é o Jair minto Minto Minto
Palmas para João Cândido, o Almirante Negro! O que ele fez, foi bater de frente com superiores sem escrúpulos da época. 👏👏👏
Se fosse oficial e tivesse ameaçado colocar bomba em quartel, seria chamando de mito
Esse comandante da Marinha não conheço, mas quem já serviu com ele disse que adora uma bebida. vergonha nssas forças. Tem dois navios polares que todo ano fazem comissão para Antártica , precisa ver o quanto de pessoas indicadas embracam neste navio, inclusive indicação do Comte da MB. Nada muda. Querem cobrar exemplos mas como ? Esses navios polares da Marinha do Brasil que embarcam Oficiais e praças pontuadas que sempre se dedicaram a viajar para buscar uma comissão dessa,mais da metade da tripulação deste navio são indicações de gabinte. Quer fazer o certo, dê exemplo primeiro para depois cobrar.
Custódio de Mello, Saldanha da Gama e Wandenkolk, por exemplo são Heróis navais e ate são nomes de Organizações Militares da Marinha do Brasil, ressalte-se amotinados contra a República. Qual a Diferença entre todos? Uns são Lordes Navais e o outro um Marinheiro, negro e pobre (literalmente) e diga-se de passagem enquanto os oficiais queriam manter seus privilegios o movimento de João Cândido visava p bem de todos de sua classe, respeito ao ser humano.
ótimas palavras, camarada.
Você fez uma síntese excelente.
só o Cmt MB não entende ou, o mais provável, não quer entender…
Agora danou-se.
Imbróglio logo com o novo amigo do Barba? Aquele que o levou para a própria residência para um jantar intimista?
Quero ver onde essa “amizade” vai dar…
P.S.: que o EB se prepare para aceitar homenagens ao capitão lamarca (quem sabe até será transformado num Patrono?!).
O Brasil tem que parar com essa mania de fabricar heróis.
Hoje, nos grandes periódicos, a manchete é: Presidente de Portugal reconhece culpa por escravidão no Brasil.
Passa da hora da Marinha do Brasil reconhecer o racismo escancarado, materializado na chibata no lombo de praças em sua maioria negros.
Passa da hora de reconhecer a grandeza da liderança de João Candido, sua coragem e senso de justiça.
Mas, se ainda hoje a Marinha se vê contaminada pela defesa do racismo. Passa da hora do Governo civil fazer cessar esses contatos institucionais da Força, restringindo a comunicação ao Ministério da Defesa, e que os incapacitados moral se restrijam ao serviço intramuros da caserna.
Vivas a João Cândido! Vivas ao Almirante negro!
Bravo Zulu João Cândido!
Todos os praças tinha que fazer o mesmo que cândido fez. Assim esses sábados desses oficiais esses dep bolsonaristas iriam corrigir a lei do mal. Assumsm as unidades prendam todos esses oficiais Assim seremos ouvidos.