Para PF, financiamento de Mauro Cid para atos golpistas seria destinado a ‘kids pretos’

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Indivíduos foram filmados dirigindo a multidão durante as invasões das sedes dos Três Poderes e usando técnicas típicas das Forças Especiais

Malu Gaspar e Johanns Eller

Num dos episódios mapeados pela Polícia Federal (PF) a partir de mensagens encontradas no celular de Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro tratou da liberação de R$ 100 mil reais para levar um “pessoal” a Brasília, durante as tratativas para a realização de um golpe de Estado.

O “pessoal”, de acordo com os investigadores da PF que analisaram as diversas trocas de mensagem e documentos da operação Tempus Veritatis, era um grupo de oficiais das Forças Especiais do Exército, conhecidos entre os militares como “kids pretos”.

As Forças Especiais são a tropa de elite do Exército, formada para atuar em missões confidenciais de alto risco e nas chamadas “operações de guerra irregular” – como guerrilha urbana, insurgência e movimentos de resistência. O apelido de kid preto tem a ver com a cor do gorro usado por esses militares.

Vários desses indivíduos foram filmados dirigindo a multidão durante as invasões das sedes dos Três Poderes e usando técnicas típicas das Forças Especiais – conhecidas como FE.

São oriundos da FE vários militares que integraram a cúpula do governo Bolsonaro, incluindo os generais e ex-ministros Walter Braga Netto (Defesa e Casa Civil), alvo das buscas de hoje, Luiz Eduardo Ramos, que passou pela Casa Civil e a Secretaria-Geral da Presidência, além da de Governo, e por Eduardo Pazuello, que comandou o Ministério da Saúde durante o período mais crítico da pandemia. O próprio Mauro Cid fez parte das FE.

As mensagens captadas no celular de Cid mostram que entre novembro e dezembro, quando as discussões sobre a decretação de um golpe de Estado foram feitas no Palácio do Planalto, ele e dois egressos das FEs – o major Rafael Martins de Oliveira e o coronel Bernardo Romão Correa Neto, que tiveram a prisão preventiva decretada nesta quinta-feira –, fizeram reuniões com esses grupos em salões de festas de edifícios residenciais na Asa Sul de Brasília onde moram militares que integravam o governo Bolsonaro.

Uma delas, em 12 de novembro, aconteceu na mesma quadra onde morava Braga Netto, na Asa Sul de Brasília.

A PF sustenta que o major Rafael era o “interlocutor” de Cid na coordenação de diversas estratégias adotadas pelos investigados para execução do golpe de Estado.

Nas mensagens, ele pede orientação sobre os locais onde manifestantes devem se concentrar e pede dinheiro para custear a viagem do “pessoal” com “hotel”, “alimentação” e “material”, condensados num documento intitulado “Copa 2022”.

Seis dias após o encontro em sua residência, Braga Netto visitou Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada, onde o então presidente estava recluso desde a derrota no segundo turno das eleições para Lula.

Após se reunir com Bolsonaro, o ex-ministro se dirigiu a um grupo de militantes à época concentrados no entorno do palácio com apelos golpistas e fez uma fala enigmática que, como mostramos no blog na ocasião, serviu de combustível para a expectativa de bolsonaristas por uma virada de mesa.

Questionado por apoiadores aflitos com o silêncio de Bolsonaro, Braga Netto, ciente de que estava sendo gravado pelos celulares de bolsonaristas, respondeu: “Vocês não percam a fé, é só o que eu posso falar para vocês agora”.

Em resposta, uma senhora com a voz embargada desabafou: “A gente está na chuva, no sufoco”. O ex-ministro foi direto: “Eu sei, senhora. Tem que dar um tempo, tá bom?”.

Nas redes sociais e nos acampamentos golpistas na porta dos quartéis, a declaração de Braga Netto foi recebida como uma confirmação de que Bolsonaro tinha, sim, um plano para impedir a posse de Lula e anular o resultado da eleição. O episódio é, inclusive, retratado no relatório final da CPI do 8 de janeiro do Congresso como evidência da trama golpista.

Pouco mais de uma semana após a fala misteriosa de Braga Netto, em 28 de novembro, mesmo dia da reunião em que Bolsonaro avaliou a minuta do golpe no Palácio do Planalto, o coronel Bernardo Romão Correa Neto, que teve ordem de prisão decretada nesta quinta-feira, escreve para Mauro Cid sobre uma reunião em um salão de festas de um prédio residencial na Asa Norte de Brasília.

Ao discutirem quem poderia estar presente, Bernardo explica que não convidou alguém chamado Julio porque “ele não é FE; só chamei FE”. Mauro Cid responde: “Perfeito!”.

Horas depois, às 20h20m, ele envia a Cid pelo celular um documento intitulado “Carta ao comandante do Exército de oficiais superiores da ativa do Exército brasileiro”, que provavelmente fora discutida na reunião e utilizada como instrumento de pressão direcionado ao então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes.

Malu Gaspar (O GLOBO)

3 respostas

  1. Esses jornalistas alucinados têm que manter a narrativa para não lhes faltar o alucinógeno. Seriam os kids pretos aqueles caras que desceram de rapel pelos fundos do prédio depois de quebrarem tudo? E os 300 ônibus que se evadiram após o vandalismo? Onde estava a Força Nacional? Protegendo o Ministério da Justiça? E os vídeos de segurança guardados em arquivos do Dino? Só queria saber!

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