Comandante do Exército diz a generais que fala vazada sobre Lula buscava pacificar temas políticos

General Tomás

Tomás se reuniu com todos os oficiais-generais no QG do Exército, em Brasília, em prática que foi encerrada em 2001 pela Força

Cézar Feitoza
BRASÍLIA – O comandante do Exército, general Tomás Paiva, afirmou a oficiais-generais da ativa nesta terça-feira (28) que o áudio vazado em que disse que a vitória de Lula foi indesejada pela maioria da Força não deve ser analisado fora de contexto.

Segundo Tomás, o foco era a retomada das conversas com os subordinados no Comando Militar do Sudeste —uma conversa interna, com oficiais e sargentos, com o objetivo de pacificar assuntos políticos na caserna.

Ele ainda confirmou que o áudio é seu e, mesmo com o precedente, não pediu para que os generais deixassem os celulares do lado de fora do auditório do Quartel-General do Exército, em Brasília.

Segundo relatos, Tomás disse que a posição expressada no áudio não foi alterada. Ele reafirmou que mantém a convicção de que a política atrapalhou a vida do Exército durante o governo Jair Bolsonaro (PL) e que é preciso trabalhar fortemente na comunicação para despolitizar a Força.

A conversa do comandante com todos os oficiais-generais ocorre ao menos duas vezes por ano, no início e no fim do ano de instrução, mas geralmente é realizada por videoconferência.

Nesta terça, o encontro foi presencial e contou com os cerca de 150 oficiais-generais da Força —algo que não acontecia desde 2001. A Folha conversou com quatro dos presentes, de forma reservada.

Tomás também conversou com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, por telefone para esclarecer o caso. Interlocutores do ministro afirmam que ele considerou a fala do comandante legalista, mas que sempre discursos internos vazados terão frases pinçadas que podem ter repercussões ruins.

Múcio recebeu críticas sobre a declaração do comandante, mas respondeu aos interlocutores que a situação no Exército está controlada e destacou o trabalho de Tomás —que, a partir de março, fará visitas constantes aos comandos militares de região para manter contato próximo com as tropas.

O vazamento do áudio, inicialmente publicado pelo podcast Roteirices e ao qual a Folha teve acesso, repercutiu negativamente no Exército.

Na gravação, Tomás diz que a vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi “indesejada” pela maioria dos militares. “Não dá para falar com certeza que houve qualquer tipo de irregularidade [na eleição]. Infelizmente, foi o resultado que, para a maioria de nós, foi indesejado, mas aconteceu.”

O comandante reforçou que as Forças Armadas trabalharam na fiscalização do pleito e não identificaram irregularidades.

“A diferença nunca foi tão pequena, mas o cara fala assim: ‘General, teve fraude’. Nós participamos de todo o processo de fiscalização, fizemos relatório, fizemos tudo. Constatou-se fraude? Não. Eu estou falando para vocês, pode acreditar. A gente constatou fraude? Não”, disse.

“Este processo eleitoral que elegeu o atual presidente e que não elegeu o ex-presidente foi o mesmo processo eleitoral que elegeu majoritariamente um Congresso conservador. Elegeu majoritariamente governadores conservadores”, completou.

Tomás ainda se explicou sobre a conversa que Bolsonaro teve com cadetes da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) em 2014, quando anunciou sua intenção de disputar as eleições de 2018. À época, o general era o comandante da academia e, segundo ele, não estava presente quando o então deputado usou do espaço para fazer campanha.

Generais afirmaram reservadamente que a divulgação da conversa criou desconfiança interna, com discussões sobre a importância de garantir meios para evitar que reuniões internas sejam gravadas por subordinados.

Durante o encontro desta terça, Tomás distribuiu para todos os oficiais-generais um folhetim de 21 páginas com as “Diretrizes do Comandante do Exército” para os anos de 2023 a 2026.

O documento destaca as linhas mestras que devem ser adotadas por Tomás para os próximos quatro anos, com destaque para as ações de comunicação para preservar a imagem da Força como “apolítica” e “apartidária” —termos que não foram citados na versão anterior da diretrizes, emitida pelo ex-comandante Freire Gomes.

“Nesse cenário complexo, ambíguo, volátil e incerto, em que forças desagregadoras competem com iniciativas que podem vir a desafiar soberanias, o Exército Brasileiro, Instituição de Estado, apolítica e apartidária, deve estar permanentemente pronto para o cumprimento de suas missões, garantindo a soberania do povo brasileiro, sua segurança e de suas riquezas naturais, sua cultura, seus valores e suas tradições”, destaca o comandante.

Tomás ainda cita que a Força atua em “ambiente desafiador” com o objetivo de “cumprir suas missões previstas na Carta Magna, alinhado aos anseios da sociedade e aos valores e tradições nacionais”.

“Zelaremos pela confiança que a sociedade brasileira em nós deposita, preparando-nos para responder com eficácia e eficiência aos desafios que se apresentam ao Brasil”, completa.

FOLHA/montedo.com

3 respostas

  1. O general Tomás Antônio Gonzaga faz muito bem em não se envolver com política, haja vista o que aconteceu com o Alferes Joaquim José da Silva Xavier.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo