Atritos com Exército e Anvisa aumentam desgaste de Bolsonaro nas Forças Armadas

bolsonaro em solenidade do MD

Oficiais ouvidos pelo Correio revelaram os bastidores desses e de outros episódios sobre a relação entre o titular do Planalto e os militares

Jorge Vasconcellos
Os recentes atritos do presidente Jair Bolsonaro (PL) com o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e com o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), contra-almirante Antonio Barra Torres, abalaram ainda mais o prestígio do chefe do governo junto à cúpula das Forças Armadas. Oficiais ouvidos pelo Correio, em caráter reservado, revelaram os bastidores desses e de outros episódios sobre a relação entre o titular do Planalto e os militares.
Capitão reformado do Exército, Bolsonaro entrou em 2022 protagonizando conflitos com militares de alta patente. Primeiro, se irritou com uma diretriz do Comando do Exército que orienta a tropa a se vacinar contra a covid-19 e a não propagar informações falsas sobre vacinas. Porém o Alto Comando da Força marcou posição e manteve a norma em vigor.
Em outro caso, o diretor-presidente da Anvisa divulgou uma nota, apresentando-se como contra-almirante, para desafiar Bolsonaro a comprovar a afirmação de que algo “está por trás” da decisão da agência de autorizar a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra o novo coronavírus.
Segundo um oficial militar, esses dois episódios são os mais recentes de uma série de acontecimentos que contribuíram para o desgaste da imagem do presidente junto à cúpula das Forças Armadas. Um dos fatos que mais trouxeram incômodo aos fardados, segundo ele, ocorreu em 19 de abril de 2020. Naquele dia, Bolsonaro discursou em uma manifestação que pregava, em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, uma intervenção militar, com o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso. O ato também protestava contra as medidas de distanciamento social.
“Aquilo ali foi bem emblemático. Depois da manifestação, houve um cuidado muito grande para evitar que acontecesse novamente. Evitar que aconteça, mas sem deixar transparecer ao presidente aquilo que está sendo feito para evitar isso”, relatou o militar, sob a condição de anonimato.
Segundo ele, a solução encontrada foi transformar os arredores do QG do Exército em área de lazer nos finais de semana. “Se você passar pelo Setor Militar Urbano hoje, todos os finais de semana, a faixa ao lado da concha fica toda isolada com cones. Supostamente, aquilo ali é para o pessoal utilizar como área de lazer, andar de bicicleta, e o pessoal passou, realmente, a utilizar. Mas foi uma ‘vacinazinha’ para evitar que alguém possa fazer manifestação ali”, relatou.
Um outro episódio ocorreu também em 2020. Soldados que faziam a guarda em frente ao QG do Exército em Brasília solicitaram que manifestantes fossem protestar em um outro ponto do Setor Militar Urbano, em razão da segurança. “E aí alguém gravou, filmou e enviou para o presidente reclamando. Então, criou-se um clima muito ruim, e o presidente chegou a ligar para o comandante do Exército para tirar satisfação”, contou a fonte.
Outro oficial, por sua vez, ressaltou que os militares em geral votaram em Bolsonaro por causa das pautas conservadoras, como a defesa da pátria e da família, mas que nunca houve um alinhamento institucional com o governo. Ao longo dos últimos três anos, segundo ele, a maior parte do generalato passou a se incomodar com as sucessivas tentativas do chefe do Executivo de interferir politicamente nas Forças Armadas.
“No auge da crise entre o presidente e o Supremo, aquela insistência do presidente de invocar o artigo 142 da Constituição — em uma interpretação equivocada de que as Forças Armadas são um poder moderador — foi muito tenso e gerou grande insatisfação entre os oficiais generais”, disse o militar. “Quando houve aquela ameaça de invasão ao STF, a coisa ficou tensa, as tropas ficaram de prontidão para atuar, caso necessário.”
O militar também afirmou que a crise sanitária provocada pela covid-19 evidenciou ainda mais os desencontros entre o presidente e as Forças Armadas. “Houve várias situações em que ficou demonstrado esse descolamento, e a pandemia começou a escancarar isso. O ‘totozinho’ de cotovelo do comandante do Exército, aquilo ali já demonstrava”, afirmou o oficial, lembrando do momento em que o então comandante do Exército, Edson Pujol cumprimentou o presidente com um toque de cotovelo em vez de apertar a mão.

Alcides Costa Vaz, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e membro da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (Abed)

Os recentes atritos do presidente Bolsonaro com o comandante do Exército e com o chefe da Anvisa são fatos isolados?
Há sinais de uma mudança de perspectivas dos militares em relação às visões e posições do presidente, mas sempre de forma muito discreta. A diretriz do comandante do Exército sobre a vacinação da tropa, que repercutiu muito, não era, de fato, uma manifestação de caráter político, foi um ato administrativo, burocrático. Mas claro que, nesse contexto, em que são percebidas dificuldades, alguns desgastes, também, da imagem do presidente no meio militar não chegam a ser uma crise, mas sinais de um descontentamento, um certo desconforto.

Como avalia a reação do diretor-presidente da Anvisa?
No caso da Anvisa, eu acho que, aí, sim, destoa. A nota do presidente da Anvisa foi muito incisiva. Ele deixou clara sua condição militar, ao se apresentar, na nota, como um contra-almirante. Aí, eu acho que, de fato, transmite, de uma forma mais clara, essa preocupação de também marcar posições. O somatório de todos esses fatos é uma expressão de desconforto crescente, de uma posição de um relativo distanciamento.

Então a cúpula militar decidiu se afastar do presidente?
De um ano e meio para cá, os militares passaram a ficar ainda mais silentes, cautelosos, mais reservados. Eu acho que isso já foi um balanço, e continua sendo, dos desgastes, das dificuldades, da erosão da credibilidade da imagem das Forças Armadas. Eu acho que é uma atitude de autopreservação.
CORREIO BRAZILIENSE/montedo.com

20 respostas

  1. Oficiais ouvidos pelo Correio, em caráter reservado, revelaram os bastidores desses e de outros episódios sobre a relação entre o titular do Planalto e os militares. Aff….

  2. Desde a substituição dos Cmt aparentemente sem motivo algum, iniciou-se o desgaste. Governo fraco, falta pouco para ser derrotado nas urnas.

      1. Isso não é nada, comparado ao trabalho de outros governos, fala da ponte de madeira de 18 metros que ele foi inaugurar no Amazonas, que custou R$ 255.000,00, sendo que ele e sua comitiva gastaram R$ 711.000,00, na viagem de inauguração da referida ponte. Os dados foram enviados pelo governo a um requerimento de informação do deputado federal Elias Vaz – PSB / GO. (Poder 360). Ou é vontade exacerbada de ganhar diárias ou desespero mesmo, não há lógica nessa atitude. Quem paga, como sempre, é o contribuinte.

        1. Prezado, foi feita uma regularização fundiária em 3 anos que era esperada há 30 anos. Vc não pode afirmar que isso não é nada. Portanto, em 30 anos, o que foi feito foram invasões de terras, destruição de fazendas produtivas, tratores, máquinas agrícolas e construções, destruição de pesquisas e matança de produtores rurais. O PT destruiu a cidade de Suiá Missú que não era área indígena. Hoje, com a regularização, esses proprietários poderão produzir alimentos e construir se medo fixando suas famílias nessas terras evitando migração urbana.

          Quanto aos gastos, se é que foi isso mesmo, equivale à renda de um Juiz Federal em 1 mês, área inóspita, difícil acesso para transporte de material, grande reserva de nióbio, ponte precisando de reforma há muito tempo, beneficiando os indígenas e o trabalho do EB nessa região. Acho que vc nem sabe onde fica essa ponte, só copiou comentário do YouTube e colou aqui.

  3. Todos traidores. NUNCA me representaram, ou representam nenhuma praça. Pensam exclusivamente na côrte. FORA bolsonaro e seus generais, coroneis….

  4. Bozó nunca mais esse generais foram os mesmos quando eram capitães expulsaram o bozó na porta da AMAN. E da vila militar era escurrassado igual um cachorro sardento. Agora depois que foi eleito deu uma banana aos praças principalmente os Qes que fizeram sua campanha na surdina correndo risco de serem punidos. Agora o que ganhamos uma banana e desconto no contracheque. E margem negativa. E bozo teu prestígio tá acabando até entre alguns oficiais que querem uma fatia do bolo

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