Batalhão Suez: grupo de 6.000 brasileiros ganhou Nobel da Paz em 1988

BATALHão suez

Grupo de 6.000 brasileiros ganhou Nobel da Paz antes de Malala e dalai-lama
Antes de ter o vencedor anunciado, o Prêmio Nobel da Paz deste ano teve o nome de um brasileiro na lista dos principais cotados: o cacique Raoni. Mas a honraria já foi concedida a um batalhão de mais de 6.000 soldados brasileiros que, entre 1957 e 1967, atuaram em uma missão de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) na Faixa de
Gaza.
Batizada de Batalhão Suez, a missão fez parte da primeira Força de Emergência da ONU, criada em 1956. Naquela época, Egito e Israel disputavam o domínio do canal de Suez. O batalhão foi um dos agraciados com o Nobel da Paz que, em 1988, foi dado às missões das Forças de Paz da ONU.
Os brasileiros venceram antes mesmo do líder do movimento negro sul-africano Nelson Mandela, em 1993, e de Tenzin Gyatso, o 14º dalai-lama, no ano seguinte. Conhecida por lutar pelos direitos das crianças e pela educação, a jovem paquistanesa Malala Yousafzai foi premiada em 2014.
Durante a década em que permaneceram no Oriente Médio, os boinas azuis —como são conhecidos os brasileiros que fazem parte de forças de paz da ONU— foram responsáveis pela patrulha de fronteiras e pelo desarmamento de minas colocadas em pleno deserto em regiões próximas à Faixa de Gaza.
“Tudo foi difícil, pois estávamos em outras terras, a distâncias quilométricas, sem estar em uma atualidade em que existem os telefones e as pessoas se falam o dia todo, a toda hora”, diz Gerson Almeida, 75.
Na condição de voluntário, Almeida serviu por um ano, entre 1964 e 1965. Ao UOL, ele afirmou que o histórico da missão é “bonito e honroso”, mas lamentou o descaso da sociedade brasileira com os serviços prestados pela tropa, que, segundo ele, ficaram “esquecidos no tempo”.
“Nós ficamos isolados um ano no meio do deserto e até hoje não houve um reconhecimento maior por parte da nação”, afirma. Ao todo, 20 contingentes se revezaram como parte do batalhão.
Boa parte desses soldados, conta Almeida, nem sequer viu a medalha do Nobel até hoje. Isso porque, segundo ele, apesar de as forças de paz terem sido laureadas com a premiação, é preciso comprovar participação na missão e pagar um valor de pelo menos US$ 300 (mais de R$ 1.200) para receber a medalha.
“Nem todos nós temos condições financeiras”, afirma. “Ficamos com o título, mas sem a medalha. Essa é a grande verdade.”

Barracas de lona e tempestades de areia
Entre as histórias vividas pela tropa brasileira no deserto, o ex-soldado conta que os primeiros a chegar ao local, no fim da década de 1950, dormiam em tendas de lona —que, vez ou outra, acabavam levadas por tempestades de areia.
“Quando eu fui, eu dormi em prédio de alvenaria. Mas eles [os soldados dos primeiros contingentes] foram com barraca de lona: dormiam e de repente acordavam vendo estrelas, ou seja, [no meio de uma] tempestade de areia, a tempestade levou a barraca”, afirma.
Almeida também conta que as tempestades de areia impediam o transporte de comida até as regiões de fronteira, onde ele e outros soldados do seu contingente faziam patrulhas. “Aí tínhamos que usar aqueles enlatados norte-americanos”, diz.
O ex-soldado, que havia prestado o serviço militar logo antes de ingressar na missão do Batalhão Suez, não continuou na carreira militar quando voltou ao Brasil, em 1965. “Fui como voluntário e, ao voltar, pedi minha baixa e fui para a vida civil”, conta. Aqui, fez duas faculdades e trabalhou em uma estatal.
Hoje aposentado, ele é um dos dirigentes da Associação dos Integrantes do Batalhão Suez no Rio de Janeiro, que busca encontrar e reaproximar soldados que fizeram parte da missão, além de manter um arquivo das experiências vividas lá fora. “Assim, nós vamos vivendo e buscando manter a chama acesa”, afirma.
UOL/montedo.com

6 respostas

  1. Nosso trabalho é silente e eficaz!
    Parabéns a todos que participaram da Missão Suez e te todas as as outras missões de Paz e em especial a MINUSTAH à qual tive a honra de participar por duas vezes.

  2. Excelente matéria! Temos que reconhecer o Btl Suez em sua missão difícil e perigosa e também pioneira jornada.

    Por outro lado, não podemos esquecer as outras missões que, como Suez, foram difíceis e perigosas. Paraquedistas em Moçambique, por volta de 4.000 efetivos em Angola, em três anos de missão, no interior da africa com sua natureza hostil, confronto entre as partes, cidades destruídas , fome ,doenças que levaram a morte efetivos brasileiros, minas (segundo maior país em numero de minas, só perdendo para o Afeganistão), e as dificuldades naturais de logística e da época. Também tivemos uma efetiva participação em Timos Leste , onde os efetivos encontraram um país destruído e animosidades profundas, do outro lado do mundo e com uma tropa diferenciada, Polícia do Exército, cumpriram sua missão.Por fim Haiti, nossa missão mais duradoura, maior efetivo e muitas dificuldades, sem guerra e suas consequências mas, com uma criminalidade violentíssima, acrescente se aí a catástrofe natural que levou a morte um grande numero de efetivos. Atualmente, temos a Marinha de Guerra em uma missão no oriente médio, com certeza apesar de terem comunicações modernas e local seguro, e outros benefícios oriundos disso, não terão vida fácil e arriscam suas vidas igual aqueles anteriormente citados.

    Parabéns aos ex-integrantes do Batalhão Suez!, agora, querer um reconhecimento, como alguns pleiteiam, de Ex Combatentes, como os da gloriosa FEB, não condiz com a realidade.

    Fui ao desfile da Independência e vi ex integrantes de missão com o peito cheio de medalhas, quando digo cheio é cheio mesmo! o que me causou estranheza pois eram muito jovens e, outros, no caso do BTL Suez, serviram por pequeno período. Não questiono o mérito de ninguém, mas certas coisas, desvalorizam mais do que valorizam os feitos.

    O prêmio Nobel da Paz foi para todas as tropas do mundo que cumpriram missões de paz até o ano de 1988, e em nome de 733 Boinas azuis se sacrificaram pela Paz.

  3. CADA MISSÃO TEM SEU NOBRE VALOR! HOJE, ANGOLA É UM PAÍS LIVRE DA GUERRA CIVIL POR CONTA DE VÁRIAS MISSÕES DA ONU. TODAVIA, RESSALTAMOS A PRESENÇA MARCANTE DE 4 CONTINGENTES DAS TROPA BRASILEIRA (CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS/EXÉRCITO BRASILEIRO) NA (UNAVEM lll).

  4. Que recebeu o prêmio foi Javier Pérez de Cuéllar, Secretario Geral da ONU e o prêmio foi para as Forças de Paz das Nações Unidas, não necessariamente para os brasileiros, mas para todos os que participaram e participam como Capacetes Azuis. Não existe sequer menção especial para brasileiros da mesma forma que a Cruz Vermelha foi agraciada em 1944 e 1963, não querendo dizer que os brasileiros da instituição tenham sido agraciados, bem como a UNICEF, OIT entre outros

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