Agora professor, Fernando Montenegro participou da ocupação do Complexo Penha-Alemão, em 2010, e vê corporativismo e atuação de facções como entraves
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Para Fernando Montenegro, há muitos policiais no RJ que poderiam estar nas ruas, mas exercem funções administrativas (YouTube/Reprodução) |
Pedro Paulo Rezende
A intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro tem todas as condições para dar errado. A corrupção política e policial, o corporativismo e as sólidas bases criadas pelas facções criminosas no estado serão apenas alguns dos muitos obstáculos que o comandante militar do Leste, general Walter Braga Netto, terá que enfrentar.
Quem alerta tem conhecimento de causa: o coronel Fernando Montenegro, da reserva do Exército Brasileiro e professor da Universidade Autônoma de Lisboa. Como comandante do Regimento Sampaio, uma das mais tradicionais unidades militares do país, participou da ocupação do Complexo Penha-Alemão, em 2010, e encarou os desafios impostos contra o Estado pelo governo paralelo montado pelo narcotráfico.
“Mesmo nos estados falhados, como a Somália, não existe território que não esteja ocupado por uma forma de governo”, alerta. “Aonde a autoridade oficial não chega, um poder paralelo se instala. É o que o professor Bartosz Stanislaws definiu como ‘buracos negros’. Foi o que ocorreu no Rio de Janeiro, onde existem 840 locais onde o Estado não tem qualquer ingerência.”
Nestas áreas funcionam mini países informais que dominam território e população e, de certa forma, exercem soberania. Este fenômeno não se restringe às favelas e pode ser observado em quase todo o Brasil em áreas historicamente abandonadas pela União, como acampamentos de agricultores sem-terra e garimpos. Aliadas a políticos corruptos, estas “mini nações” interferem diretamente na administração pública e drenam recursos do combate à violência.
Longe das ruas
Um bom exemplo deste fenômeno, de acordo com o coronel, seria a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Hoje, três mil integrantes da corporação exercem função administrativa na Assembleia Legislativa, dez deles lotados no gabinete de um parlamentar, o deputado estadual Paulo Melo (PMDB), que preso na Cadeia Pública de Benfica por corrupção. O candidato derrotado à Prefeitura do Rio de Janeiro, Marcelo Freixo (PSOL), também mantém dez PMs sob sua tutela.
“Há um total descaminho de policiais que podiam atuar nas ruas e se encontram em situação administrativa”, afirma Montenegro. “A Secretaria de Segurança Pública é outro excelente exemplo. Lá, 500 policiais militares exercem função burocrática na maior estrutura do gênero do país. Claro, todos preferem ficar longe das ruas, ganhando boas gratificações e a salvo”, ressalta.
“Com o resgate desses efetivos e o fim das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) a vigilância ostensiva poderia ser reforçada em cerca de 4 mil agentes.” Para o especialista, as UPPs falharam porque não receberam o devido apoio financeiro federal e não foram complementadas por ações nas áreas de saúde e educação e hoje estão completamente isoladas e afetadas pela corrupção.
Um grande obstáculo para o sucesso da intervenção está nos limites impostos pela legislação às ações de garantia da lei e da ordem. “O Exército não tem ingerência direta sobre a polícia que, por corporativismo, se recusava a integrar esforços conosco”, conta o coronel. “No decreto está previsto que a não obediência a uma ordem será vista como crime militar, e a Justiça Militar é bem mais rápida que a civil, mas, na prática isto será de difícil implantação.”
Para ele, os desafios geográficos enfrentados pelas Forças Armadas e pelas polícias federais também dificultam o sucesso da missão do general Braga Netto. “Temos 17 mil quilômetros de fronteiras, muitos deles compartilhados com países produtores de drogas, como a Bolívia, a Colômbia, o Peru e a Venezuela”, lembra. “Os Estados Unidos possuem apenas dois mil em seus limites com o México e não consegue impedir o tráfico de pessoas e entorpecentes. Seria necessária uma ação integrada do Ministério das Relações Exteriores com os governos vizinhos nos planos estratégicos e operacionais.”
Segundo Montenegro, os chamados donos de morro montam uma estrutura bastante sofisticada que se entranha pelas comunidades, determina a vida econômica local e serve para eleger políticos que defendem os interesses do crime organizado.
Facções organizadas
“Há um departamento de informação e propaganda, que trabalha com o que nós militares chamamos de operações psicológicas. Organiza bailes funks e promove a organização criminosa por meio de contratação de artistas, músicas de apoio e de promoção do sexo e de vídeos distribuídos pelo YouTube e pelo WhatsApp. Cabe a eles marcar território com a sigla da facção e o nome do líder nos limites de atuação na comunidade. Com estas atividades, a distribuição de panfletos e a colocação de faixas conseguem novos recrutas, entre eles jovens que fizeram o Curso de Formação de Cabos do Exército e que possuem excelente formação militar.”
As facções também mantêm departamentos jurídicos, que atuam na obtenção de habeas corpus e negociam os chamados “arregos” (pagamentos de propinas a policiais e políticos); financeiros e logísticos, que tratam do fluxo de caixa, de matérias-primas e do suprimento de armas e munições; de produção, com gerentes diferentes para cada tipo de droga, e de distribuição, com vendedores no varejo e “vapores”, traficantes que levam o produto para áreas de maior renda e que atuam em festas e bares. “A coisa vai muito além do traficante armado com fuzil”, conta o professor.
“O sistema de alerta inclui crianças que usam celulares, rádios e outros sistemas, como fogos e pipas, para avisar os combatentes da chegada de policiais ou grupos rivais. A tomada de um morro segue o mesmo esquema de saque da Idade Média. O grupo se apropria do butim e dos equipamentos da facção derrotada. Há sempre muito dinheiro vivo, inclusive dólares e euros, porque as quadrilhas não usam o sistema bancário.”
Ao lado desta ação direta, as quadrilhas multiplicam seus recursos com a exploração de serviços, alguns deles regularizados, e a cobrança de taxas e impostos. Tudo o que sobe e desce o morro, do mototáxi aos botijões de água e gás, reverte para a facção. Centrais ilegais de TV a cabo e de internet também ampliam a renda dos grupos. “Ao chegarmos no Alemão, conseguimos convencer uma operadora a oferecer pacotes baratos para substituir a gatonet”, conta Montenegro, “mas, para nossa surpresa, as empresas de distribuição de gás e água eram legais, apesar de exploradas por familiares do dono do morro. Na Rocinha, o serviço é administrado pelo irmão do Marcinho VP.”
Veja/montedo.com
Esse pessoal da reserva deveria se calar. por que não te calas?
é facil falar na reserva a opinião nao vale de nada.
Nem precisa ser coronel para ver isso. Como era de se esperar quando as coisas estão um desastre, escalaram os militares para bucha de canhão. Por enquanto, só reuniões, reuniões e mais reuniões. Vamos ver para onde as verbas extras serão empregadas. O próprio presidente na ânsia de mostrar que deu a solução certa, já antecipou a vontade de ter o general no governo do Rio, sem esperar os resultados. De essa intervenção for parecida com as GLO's, será apenas paliativa e, pelo que vejo, os marginais não estão nem aí , pois as leis os protegem muito mais.
E pq quando ele estava na ativa não fez nada para mudar isso???
O Freixo pelo menos é atuante e tem 6 PMs, já o inexpressivo Flávio BOLSONARO tem 4 PMs, 1 Policial civil e 1 da sec adm penitenciária.
Pelo visto vc deve ser um esquerdista, PTista etc … Certo? Achar que o Frouxo é atuante em que ? Só se for na defesa do "Direito dos Manos" certo, porque não te calas ?
Cap QAO EB R/1
Um estado que elege Freixo como deputado merece pelo que está passando.
Muito bom artigo. Mas não atinge o ponto G. Observem, meus caros… Em todas as circunstâncias todo mundo quer GANHAR DINHEIRO.
Pensam que as pessoas querem ser DESONESTAS? É claro que não! Mas, quem EMPURROU as pessoas para a ILEGALIDADE e DESONESTIDADE? O ESTADO e seu cartorialismo medieval, burocracias excessivas, fiscalizações à revelia da lei, liberações em troca de propinas.
Vai agora o ESTADO mexer com quem se fortaleceu na ilegalidade que o próprio Estado ajudou a criar, empurrar?
Como começaram as favelas no Rio de Janeiro?
Porque tantas empresas estão fechando e se mudando? É só por causa da criminalidade?
Montem uma empresa, fechem uma empresa, tente provar que você é você mesmo, etc.
Além de tudo, as esquerdas conseguiram plantar no subconsciente coletivo que "ser rico é um mal". Entretanto se estabelecem na ilegalidade para GANHAR DINHEIRO.
Esse tipo de "ilegalidades" comerciais do artigo ocorrem também em Estatais, uma forma legal de ser ilegal e imoral.
Eu já tive negócios no Rio de Janeiro. Foi uma dificuldade muito grande de manter devido à excesso de fiscais, excesso de impostos, excesso de direitos de todos exceto os meus, o empreendedor.
Repito: tentem montar e ou desmontar um negócio legal, dentro da lei, ganhar dinheiro legalmente e chegarão à conclusão que não é só a mentalidade do brasileiro comum mas também do Estado e seus intelectuais que criaram toda a criminalidade no RJ e no Brasil afora.
Coronel da reserva? um menino!
Todo mundo vem agora querer ter "um minuto de fama". Uma solução ninguém traz.
"O Freixo pelo menos é atuante e tem 6 PMs"- frase de um milico melancia (verde por fora, vermelho por dentro)