Se Exército tivesse hoje a força política de 1964 já teria havido golpe, diz Serra

Mamede Filho
De Lisboa para a BBC Brasil
O senador José Serra (PSDB-SP) afirmou nesta quinta-feira que considera a atual crise política brasileira ainda mais complexa do que a que levou ao golpe de Estado em 1964 e que uma intervenção militar só não aconteceu nos dias atuais porque o Exército não tem mais a força política de antigamente.
“A situação à época do golpe de 1964 era menos complexa do que a atual (…) Se o Exército brasileiro ainda tivesse a força que tinha naquele momento, não tenha dúvida de que já teria tido uma militarização no país”, afirmou Serra, em participação no 4º Seminário Luso-Brasileiro de Direito, em Lisboa.
“A principal diferença entre o cenário atual e o daquela época é que não temos mais um Exército que se apresente como uma força política nos últimos 30 anos. O setor militar esteve ausente e, se Deus quiser, vai continuar ausente da política brasileira”, agregou o tucano, que se exilou no exterior depois que os militares assumiram o poder.
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Depois da sua palestra, o senador tucano conversou com jornalistas brasileiros e portugueses. Apesar de ter evitado comentar sobre um eventual governo liderado pelo vice-presidente peemedebista Michel Temer (com quem se reuniu recentemente), Serra disse que, num primeiro momento, a troca de poder fará bem à economia brasileira.
“Se mudar o governo vai haver um clima econômico a curto prazo mais favorável, pelas mudanças das expectativas. Mas esse novo governo vai ter de oferecer uma perspectiva também de médio e longo prazos”, afirmou.
Serra foi conferencista do primeiro ciclo de palestras do último dia do seminário de Direito envolvendo lideranças políticas e jurídicas brasileiras e portuguesas na Universidade de Lisboa. O encontro, de âmbito acadêmico, gerou polêmica ao reunir na capital portuguesa lideranças da oposição ao governo Dilma Rousseff num momento de acentuada crise política e risco de impeachment da presidente.
Debate político
O último dia de debates do encontro também reuniu numa mesma conferência os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Jorge Viana (PT-AC), que defenderam os seus pontos de vista sobre o atual momento político brasileiro.
“A minha intenção original era falar sobre a implementação da Constituição em diferentes países após o período da Segunda Guerra, mas como a Constituição no Brasil está a ponto de ser rasgada, resolvi mudar a minha intervenção”, afirmou o petista, vice-presidente do Senado.
“Não quero relativizar a crise política do Brasil nem esconder os erros do meu partido, que são muitos, mas é preciso respeitar a Constituição. O Brasil está à beira de sofrer um golpe de Estado”, opinou.
Viana traçou comparativos entre índices socioeconômicos do Brasil de 2002 (antes de o PT entrar no poder) e atual, para concluir que eram piores há 14 anos do que agora. “Não quero fugir da crise, só quero tipificá-la”, afirmou.
Logo após a fala do petista, Aécio assumiu os microfones e respondeu ao seu colega de Senado. “Não vim a Lisboa com o ônus de defender o governo, vim aqui para falar a verdade”, comentou o tucano.
O senador mineiro, então, voltou atacar o atual sistema político brasileiro, ao qual chamou de “presidencialismo de cooptação”. “Temos 35 legendas atualmente, e não as chamo de partidos políticos, porque nada mais são do que siglas que se formam para arrecadar benefícios e vender tempo de TV no horário político gratuito”.
Oposição versus situação
Durante seu discurso, Viana havia dito que o PSDB e seus aliados não sabiam se comportar como oposição, “porque querem tomar atalhos em vez de esperar pelo curso natural das coisas”.
“É preciso ser paciente quando se é oposição, entender que vai perder as eleições algumas vezes até ganhar nas urnas. Esta oposição atual não quer esperar as eleições para voltar ao poder pelo voto”, criticou o petista, gerando nova resposta de Aécio Neves.
“O atual governo não sabe a sorte que tem, porque tem uma oposição responsável, que não embarca na onda de que ‘quanto pior melhor’. Na verdade, eu acredito que passar um tempo na oposição faria muito bem ao PT, para reavaliar seus conceitos”, afirmou o tucano.
Reforma política
Ao mesmo tempo, tanto Aécio quanto Viana – e também Serra – concordaram no evento em Lisboa quanto à necessidade de reformular o sistema político brasileiro.
“Nós temos de mudar esse modelo composição de governo, de coalizão. O atual modelo perdeu a validade, não atende mais o país, não importa quem esteja no poder”, afirmou Viana à BBC Brasil.
“Ficou evidente também que existe uma relação promíscua no fluxo de dinheiro, de empresas que têm obras em governos e no financiamento de políticos e partidos, um caso em que não há inocentes. Estamos diante de um modelo que fracassou”, concluiu o petista.
Já Aécio defendeu o fim da reeleição e o mandato de cinco anos, além de reforçar a campanha para limitar o número de partidos políticos brasileiros. “Existem hoje empresas especializadas em conseguir assinaturas para a criação dessas legendas. Essa é a mercantilização da política brasileira em sua essência”.
Na opinião de Serra, é preciso criar no Brasil um modelo que permita a mudança de governo – em caso de uma crise como a atual – que não seja tão “traumática” quanto o impeachment. “É preciso mostrar às pessoas que grande parte do que está acontecendo se deve ao sistema político do país, e não há momento mais oportuno para isso”, concluiu.
O 4º Seminário Luso-Brasileiro de Direito foi organizado pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) ─ que tem entre os seus fundadores o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes ─ em parceria com a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
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Eram esperadas também as presenças do vice-presidente Michel Temer e do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, mas ambos desistiram de viajar a Portugal.
Líderes da política portuguesa que também haviam confirmado presença optaram por cancelar suas participações após a repercussão do encontro na imprensa dos dois lados do Atlântico. Foi o caso do ex-primeiro-ministro luso Pedro Passos Coelho e do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que originalmente faria o discurso de encerramento do seminário.
BBC Brasil/montedo.com

23 respostas

  1. prezados, não vai ter golpe porque só temos generais melancia, vermelho por dentro e verde por fora, e pelo simples fato que eles não querem perder as polpudas diárias, viagens ao exterior, e os demais benefícios que o cargo lhes proporciona.

  2. Errado. O Exército não necessita de força política. O Exército é uma instituição regular, baseada na hierarquia e disciplina, que serve ao país e não a um determinado governo, portanto o Exército necessita de Homens que comandem sua tropa na direção certa. O que acabou não foi a força política do Exército, o que acabou foram os ideais do Exército de Caxias. Hoje o comando identifica-se com os ideais marxistas. Se até o STF está demonstrando o altíssimo grau de contaminação, imaginem se os generais de hoje estariam isentos disso. As instituições estão completamente aparelhadas. O comunismo está a um passo de instalar-se definitivamente no Brasil. Não adianta o povo clamar pelas Forças Armadas, pois não terá esse apoio. Só resta ao próprio povo ir para as ruas, não para fazer manifestação com faixas e frases de ordem, mas sim para organizar-se e parar o país. Parar completamente até que as instituições ouçam a voz de quem realmente deve mandar no Brasil. Na democracia o povo é soberano. Somente depois desse choque é que será possível reconstruir uma Força Armada que atenda aos anseios do povo brasileiro.

  3. Montedo, é possivel repetir nestes comentarios a nota.
    Estamos no brejo onde a vaca desapareceu.
    E vaca foi para o brejo. E as ffaa t?.(minusculo?)
    abs

    "Não vai ter golpe, vai ter Lula, vai ter luta", bradam manifestantes

    http://www.bocaonews.com.br/noticias/politica/polatica/140326,quotnao-vai-ter-golpe-vai-ter-lulaquot-bradam-manifestantes.html

    Este grito esta ecoando, mas ate quando?

    E agora senhores? Tudo esta dentro de paragrafos e artigos?

  4. "(…) não temos mais um Exército que se apresente como uma força política nos últimos 30 anos. O setor militar esteve ausente (…)".

    Traduzindo: não temos mais militares preocupados com os destinos do país, com geopolítica e com o futuro da nação. A preocupação máxima, incutida nos militares dessa nossa geração, é a capina do quartel, a pintura do meio-fio, o alinhamento das medalhas e barretas nos uniformes, bem como a liderança nos índices de "credibilidade" junto à população.

    Aí, deu no que deu. E não podemos falar nem em preocupação com a operacionalidade, pois Deus nos livre de uma guerra.

  5. Nosso Cmt do Ex acaba de decretar uma intervenção militar no governo. Na nota diz que vai sanear os poderes e realizar novas eleições em 1 ano. 1º de abril….dia da mentira….Nosso Cmt é melância.

  6. NÓS militares não temos intenção alguma de tomar o poder senhor SERRA

    SERRA disse isso porque nosso COMANDANTE deixou claro que não há fundamento para intervenção militar, diferente de 1964, recém guerra fria, bipolaridade, cap x soc, eua x urss.

    nós militares não tomaremos poder algum e os politicos eleitos democraticamente decidirão os rumos

    Sr SERRA, contente-se por ter perdido. DIL+

  7. Ohhh!!! E esse senhor, "adora" os militares. Perguntem para quem trabalhou com ele. Por que será, por que será, que esse político dos militares vai lembra?! Resposta: A Lava Jato está rastreando ele. Tão enrolado quanto os outros. Está com medo de usar tornozeleira eletrônica.

  8. Temos que ter cuidado com alguns políticos que vão aparecer agora, se aproveitando do naufrágio do PT, tentando induzir os militares a intervir nessa baderna de lama dos políticos.Todos com cara de anjo e grandes interessados na ordem e desenvolvimento do país. Antes, só ficavam aguardando os leilões de cargos e verbas. Bando de cínicos.Agora vai ser diferente e mais vergonhoso para os grupos de esquerda e seus comparsas. Conforme a Constituição, eles estão enquadrados, e a Justiça fará o resto, sem interferência dos militares.A Dilma, de novo, vai quebrar a cara, agora pelas mãos do povo brasileiro.

  9. Senhores, isso me envergonha, os ossos de Caxias deve estar se contorcendo no túmulo de vontade de dar na cara destes Generais bunda mole Comunistas que estão no comando do Seu Exército. Eu também que um dia servi com tanto orgulho de peito cheio, estou desacreditado nesses Militares, se o General Mourão não se levantar contra esses comunistas Villas Bostas e etc… Seremos uma nova cuba e não demoraremos pois tudo o que esses podres querem eles conseguem e nós estamos presos com as foices deles em nossas gargantas para nos decaptarem. Senhores é com imensa tristeza que digo, o Brasil não é mais Brasil e sim Brasiliano, um país Cubano, Chinês, Russo, e Coreano do Norte, venezuelano weBolivariano. Meus pêsames a todos os Brasileiros, e até algum dia.

  10. Esse político é nada pra mim é a mesma coisa…
    Não vale nada, falso, personagem "Sr Splinter" da animação "Qs Simpsons"…

  11. Se esse "vampiro" for presidente, os militares além de fazerem todo tipo de trabalho que fazem hoje, é capaz dele estender o expediente até às dez da noite, pois dizem que ele costuma ficar até tarde "trabalhando".Vai colocar mais civis em cargos militares e vai virar "O" DRÁCULA, sugando tudo o que pode. Cuidado com as figuras carimbadas que estão aparecendo com muitos elogios aos militares e "salvadores" da pátria, ainda com cheiro de esgoto do PT.

  12. É que depois do golpe do palanque das Diretas Já, gente como o Serra, que naquela época nem cumpriu mandato de presidente de antro estudantil, continuou nas gestões não cumpridas integralmente, possibilitando até a formação de cartel de trens, após colaborar para o sucateamento da malha ferroviária do Brasil!

    O povo ficou sem trens de passageiros e a corja fez a festa na aviação!

    Aquelas "figuras" de braços dados nos palanques das Diretas, só poderia resultar em um oposição de fala mansa, cujo os mandatos anteriores revelam farinhas no mesmo saco!

  13. Esse Serra é grande pilantra, safado, mentiroso e outros adjetivos desqualificantes, neoliberal ferrenho vai ferrar com a vida dos militares caso assuma uma função de expressão, serra não presta!!!

  14. Por isso o sobrenome é Serra. O José em destaque serra de na ida e na volta. O negócio dele não é unir mas cortar, serrar. Vejam o partido dele, o PSDB. Todos mandam: FHC, José Serra, Alckmin, Aécio Neves, Aluísio Nunes,…Eles querem desunir os militares para forçar a barra e livrá-los da Lava Jato. Muitos políticos de vários partidos estão enrolados com corrupção e para sair disso só os militares tomando o poder e transformar esses políticos em presos políticos. Daí pedirão asilo em outros países, como em 64. Depois inventam uma anistia e todos voltam perdoados e ainda ganham indenização milionária

  15. Às vezes, nesse Blog, eu não me contenho e chuto o "balde". A situação caótica, todos vemos, os comandantes também mas, nesse momento, eles estão certos. A situação política atual é completamente diferente. O governo meteu os pés pelas mãos, não tem capacidade e o povo é quem está pedindo e fará com que ele saia do poder,dentro da legalidade da CF. Os militares só vão ter que agir se a agitação que virá depois do impedimento da presidente e prisão do Lula, se tornar incontrolável pelas forças policiais. É uma situação incômoda, pois até eu gostaria que já tivessem mandado peia em alguns grupelhos ou se movimentado dando uma demonstração, mas cautela é a melhor solução. Os petistas e muitos da oposição estão torcendo para os militares fazerem alguma coisa e se tornarem os culpados por mais um "GOLPE" e os petistas os "heróis". Vocês acham que essa mania de sair falando por aí em golpe é apenas implicância? Eles sabem que falando assim, intimidam de uma certa forma, a intervenção dos militares e deixam os "zumbis" alucinados. Eles não são bobocas, não são loucos, não rasgam dinheiro.Só dizem mentiras mas são espertos e não querem entregar o "filé". Até o ex ministro, Joaquim Barbosa, já disse que a única forma de tirar os petistas do poder é o povo nas ruas.

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