Aposentado por invalidez virou artista para voltar à Marinha

Tupirajara passou a fazer réplicas de navios e submarinos para continuar a servir a força militar
ÉLCIO BRAGA
(Imagens: reprodução de O Globo)
RIO – O golpe foi duro. Abandonar a grande paixão de uma vida: a Marinha do Brasil. Por motivos de saúde, Tupirajara da Silva Rodrigues, após 23 anos de serviço, aposentou-se. Era então funcionário público. Trabalhava como desenhista maquetista. Confeccionava as miniaturas de embarcações e placas para datas comemorativas. Ficou abatido. Chegava a acordar na madrugada, arrumar-se e partir para o ponto de ônibus como se ainda fosse pegar no batente. Mas Tupi, como é mais conhecido, personagem do Gente do Rio desta semana, deu a volta por cima.
— Sou apaixonado pela Marinha. Fiquei 23 anos na Marinha como mecânico, depois passei a maquetista, e me aposentei em 2007 por invalidez, devido à tireoide. Eu era funcionário civil – explica Tupi, hoje aos 58 anos, divorciado, três filhos, morador em São Gonçalo.
Tupi sabia que para recuperar a alegria precisava de algo que o mantivesse perto da Marinha.
— Procurei fazer alguma coisa de útil. Eu disse: ‘Gente, tenho de continuar a vida, continuar alguma coisa de útil.’ Aí eu comecei a trabalhar em casa. Montei o meu ateliê, minha oficina. Hoje, faço serviço para a Marinha, para os Fuzileiros Navais. Faço quadros de nó, timão, maquete.
Desenvolver a técnica para a arte naval de miniaturas foi moleza. O pai era marceneiro naval e já havia ensinado o fundamental para transformar madeira em obra de arte. Além disso, oito tios eram marceneiros. O avô começara tudo com a Marcenaria da Fé, especializada em objetos para a igreja. Da nova geração, o filho caçula, Arthur, manifesta desde os dois anos aptidão para a marcenaria.
Entre os clientes estão almirantes, altos funcionários da indústria marítima e sobretudo a Marinha do Brasil, que costuma encomendar miniaturas de embarcações para os marinheiros que estão entrando para a reserva. Ele possui também barraca na Feira de Antiguidades da Rua do Lavradio, na Lapa, no primeiro sábado de cada mês.
— A demanda é muito grande. Não consigo atender a todos os pedidos. Faço dois ou três timões e cinco quadros de nós por mês – diz ele, que oferece outros artigos, como miniaturas de soldados medievais, bandeiras de países e brasões.
Mas os artigos de sua preferência são os de piratas, como bandeirões e caveiras com tapa olho.
— Gosto muito dos filmes da série ‘Piratas do Caribe’. É fascinação. Sei que era meio bárbaro. Mas queria ter vivido naquela época.
São os artigos de lembranças e decorativos que transformaram os dias de Tupi. Além do ateliê em casa, em São Gonçalo, ele permanece boa parte do tempo na oficina no Projeto Grael, dando aulas de marcenaria a crianças de comunidades e da rede pública. E o principal: está sempre nas instalações da Marinha, no Rio de Janeiro.
— Me sinto realizado quando visito a Marinha. Lembro do tempo que passei lá, um lugar onde só fiz amigos. Quando meu pai era vivo, a gente assobiava muito o ‘Cisne Branco’, o Hino da Marinha – diz ele, esforçando-se para, em seguida, oferecer uma pequena e comovente demonstração.
O GLOBO/montedo.com

Uma resposta

  1. Meu primeiro emprego, lembro-me como se fosse ontem indo ao meu portão me convidando para exercer a função de artesão náutico, sou extremamente agradecido ao "PI" por fazer parte da minha formação profissional e me deixar mais apaixonado pela esta arte linda.

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