Exército testa rede 4G exclusiva de vigilância pública

Sistema garante a comunicação contínua e sigilosa de dados, útil em grandes eventos – e situações de emergência, como atentados

James Della Valle
Centro de monitoramento do Exército em Brasília utiliza rede 4G
Centro de monitoramento do Exército em Brasília utiliza rede 4G – Divulgação
Instalada no Centro de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército (CCOMGEX), em Brasília, está a mais avançada central de monitoramento via redes 4G da América Latina. O projeto, em fase de testes, permite o tráfego de informações por uma faixa de frequência de acesso exclusivo dos militares. A finalidade é garantir a comunicação contínua e sigilosa de dados, o que pode ser útil tanto em situações cotidianas, como a vigilância de estradas, quanto no acompanhamento de casos extraordinários, como atentados terroristas, ou grandes eventos, caso da Copa do Mundo e da Olimpíada. Em todo o planeta, apenas cinco países fazem uso de redes desse tipo, com essa finalidade: Estados Unidos, Canadá, Panamá, Catar e Austrália. Outras sete nações experimentam o sistema, a exemplo do Brasil.
O primeiro teste da rede de segurança aconteceu em 2012, durante o desfile de 7 de Setembro. Imagens provenientes de câmeras instaladas nas ruas e também em veículos do Exército foram enviadas, durante todo o dia, para o Centro de Comunicações. Isso possibilitou monitorar o comportamento da população nas ruas e identificar eventuais ocorrências. Foi um dia calmo e nada foi registrado.
A prova real viria nove meses depois, na abertura da Copa das Confederações, em Brasília. Em meio aos protestos que se espalharam pelo país, o evento também foi palco de manifestações, dentro (a presidente Dilma foi vaiadas pelos torcedores) e fora do Estádio Mané Garrincha (manifestantes entraram em choque com PM). “Nós tínhamos vídeos de alta qualidade dos manifestantes, algo que nem as grandes emissoras conseguiram capturar”, diz o comandante do CCOMGEX, general Antônio Santos Guerra. Isso permitiria identificar pessoas, caso necessário, e acionar rapidamente equipes para atuação. Além disso, houve congestionamento na rede 3G nas próximidades do estádio bem na hora do jogo. “Nós eramos os únicos que conseguiamos nos comunicar na região usando uma rede de telefonia celular.”
Exército mantém uma oficina para efetuar reparos em seus eletrônicos
Exército mantém uma oficina para efetuar reparos em seus eletrônicos – Divulgação
O arsenal do Exército
Itens que fazem parte do sistema de monitoramento instalado em Brasília
• Smartphones 4G resistentes a choque
• Câmeras móveis e estáticas
• Viaturas com câmeras e transmissores
• Monitores pessoais
• Tablets 4G
• Roteadores sem fio
Sistema similar mostrou sua importância durante a realização da Maratona de Boston deste ano, quando ocorreu o atentado a bomba que matou que três pessoas e deixou mais de 280 feridas. Fotos e vídeos com imagens correram o mundo, detalhando os instantes de horror vividos pelos participantes da prova esportiva e também pelo público. Mas foram as câmeras da rede exclusiva de segurança da Polícia local que flagraram a ação dos autores do atentado — as imagens foram divulgadas mais tarde. “Esse equipamento estava ligado a uma rede dedicada e transmitiu as imagens via banda larga para um centro de comando, que disponibilizou o material para a força policial na rua. Essa tecnologia pode ser usada da mesma forma no Brasil para diversas finalidades”, diz Karen Tandy, vice-presidente sênior de interesses governamentais da Motorola Solutions.
A companhia americana, que desenvolve componentes e sistemas de segurança eletrônicos, está umbilicalmente ligada ao projeto brasileiro. Até agora, foi ela quem pagou a conta de 2 milhões de dólares relativa aos testes. A companhia está, é claro, de olho na possibilidade de tornar-se a principal fornecedora de tecnologia para o Exército brasileiro caso a rede seja mantida e expandida.
O investimento inclui a instalação de uma central e de três pontos de retransmissão de dados, que juntos cobrem as áreas da Esplanada dos Ministérios, do Aeroporto Internacional de Brasília e de outras porções do Distrito Federal mais densamente habitadas. O sinal transmitido a partir de cada um desses pontos tem um alcance de 10 quilômetros. O pacote também inclui dispositivos como tablets, smartphones, câmeras, monitores pessoais e até transmissores portáteis capazes de atuar como roteadores que distribuem o sinal de rede para os dispositivos habilitados.
Os testes da rede de segurança 4G só foram possível após aval da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que autoriza o uso das faixas de frequência no país. E essa é uma questão delicada a ser disciplinada, caso outras autoridades brasileiras decidam usar modelos similares. No caso dos testes do Exército, a Anatel autorizou o uso de uma parcela de 10 MHz do espectro de 700 MHz – faixa de frequência utilizada para transmissão de sinal analógico de TV. Segundo o general, os 10 MHz são o mínimo necessário para levar aidante o projeto com qualidade. Para trabalhar com folga, prevendo uma expansão dos serviços, o ideal seria uma faixa de 20 MHz. “Nós já fizemos o pedido para a Anatel, mas talvez não sejamos contemplados.”
Com a eventual expansão da faixa de frequência para 20 MHz, a rede de segurança poderia servir a outras corporações, como as polícias civil e militar dos estados. Elas passariam a dividir a infraestrutura com o Exército. “Hoje, cada um compra o equipamente que quer e o instala do jeito que julga mais adequado. O ideal é que todas as corporações trabalhem em um sistema de condomínio, trocando informações entre si, adquirindo dispositivos compatíveis e trabalhando em redes com a mesma frequência”, afirma o general.
“Para liberar uma faixa maior de frequência para esse tipo de finalidade, precisamos identificar uma necessidade real. Mas é preciso entender também que essa mesma faixa precisará atender a sociedade como um todo, permitindo o tráfego de serviços que atendem todos os cidadãos”, diz Marconi Maya, titular da Superintendência de Outorga e Recursos à Prestação da Anatel. “Embora a segurança pública tenha o direito de usar a faixa, também temos a demanda do setor privado, que paga por sua utilização. Isso, portanto, será definido após consultas públicas e licitações.”
Uma das viaturas utilizadas durante as manifestações na abertura da Copa das Condeferações
Uma das viaturas utilizadas durante as manifestações na abertura da Copa das Condeferações – Divulgação
O próximo grande desafio está marcado para 2014, durante os jogos da Copa do Mundo que acontecerão no Estádio Mané Garrincha. Se o experimento funcionar, o projeto de monitoramento pode ser levado a outras bases militares espalhadas pelo país. Mas isso não deve acontecer antes de meados de 2016.
Veja/montedo.com

4 respostas

  1. Lá no CCOMGEX só existem quatro bancadas e três ou quatro militares habilitados para operar e manutenir o sistema e os rádios da linha motorola. Isso num Exército de aproximadamente 200 mil militares. Mais um embuste dos nossos Generais. Aliás, lá no CCOMGEX existe até militar brasileiro na reserva trabalhando para empresa americana (Harris), com sala particular e tudo. Tudo para inglês ver… Ainda continuamos dependendo dos nossos rádios nextel e telefones celulares particulares para atuar nas operações

  2. Blá, blá, blá, blá. Houve um fato não divulgado sobre a descoberta da espionagem americana nas comunicações brasileiras: vários agentes de inteligência dos EUA morreram durante o processo de levantamento de informações relevantes do governo brasileiro: morreram de rir do amadorismo reinante em tudo que fazemos. Inclusive o sistema brasileiro é amplamente estudado nos curso de TI de Virginia Tech, sendo tomado com exemplo mundial, do que não deve ser feito em termos de defesa cibernética. Enquanto houver política em assuntos de segurança nacional haverá bagunça de toda ordem. Mérito não é peixada.

  3. Até 2005 nós ainda fazíamos pseudo-manutenção nos nossos "modernos" rádios utilizados na Guerra do Vietnã (RY-20).
    Agora nós já estamos cheios de rádios motorola PRO5150 e PRO5100 sem manutenção e sem previsão de manutenção e recebimento de suprimentos básicos como botões e antenas.
    Mas isso é um detalhe insignificante, né General? O importante mesmo é "pagar o embuste" com o 4G e mostrar para a imprensa o Exército de mentirinha ao invés de jogar a merda no ventilador para chocar a opinião pública e fazer o governo se coçar.

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