Associação de Músicos Militares é suspeita de criar empréstimos fictícios em nome dos sócios

Cruzeiro falsificou crédito a militar

Carolina Mandl e Cristiano Romero
Luciana Whitaker/Valor / Luciana Whitaker/Valor
Fachada do prédio da Associação dos Músicos Militares no centro do Rio

No sétimo andar de um prédio na rua Sete de Setembro, número 71, no centro do Rio de Janeiro, foi originada a maior parte do R$ 1,3 bilhão de créditos fictícios encontrados pela fiscalização do Banco Central no banco Cruzeiro do Sul, segundo apontam dados iniciais da auditoria feita na instituição. O endereço abriga a Associação Beneficente dos Músicos Militares do Brasil (Ambra), criada em 1930 para ajudar os militares e seus familiares, abatidos com a crise de 1929. Em seu site, a Ambra oferece aos militares descontos em faculdades, teatros, assistência funeral e residencial.
O Cruzeiro do Sul está sob intervenção do BC desde 4 de junho, depois de descobertas operações inexistentes de empréstimo consignado fechadas pelo banco. Os problemas no banco, que ainda não está livre da possibilidade de liquidação, somam R$ 3,1 bilhões.
O Valor apurou que os levantamentos iniciais da auditoria mostram que a maior parte dos empréstimos falsos teria sido criada em nome dos associados da Ambra, de acordo com duas fontes que participaram da inspeção. Eram pessoas que não tinham tomado os empréstimos, mas, que na carteira do banco, apareciam como devedoras. Essas operações sem lastro começaram a ser feitas há pelo menos cinco anos. Por meio de um convênio com a Ambra, o Cruzeiro também fazia empréstimos reais com os associados.
Depois de criar esses empréstimos, o banco teria transferido o dinheiro dos créditos à associação. O destino final dos recursos, porém, ainda não é conhecido. É isso o que os próximos passos da investigação tentarão determinar daqui para a frente.
O caso tem chamado a atenção das autoridades pelo fato de gerar a suspeita de que houve desvio de recursos do banco por meio das próprias operações supostamente falsas. Dessa forma, os créditos fictícios não teriam sido criados apenas para inflar o ativo do banco e gerar resultado aos acionistas.
É algo diferente do que ocorreu no caso do PanAmericano, que tinha um rombo de R$ 4,3 bilhões. No banco que foi controlado pelo empresário Silvio Santos, o Ministério Público apontou que os desvios de recursos ocorreram principalmente por meio de bônus pagos aos executivos em cima de resultados inflados.
Não é a primeira vez que o nome da Ambra surge ligado a fraudes em bancos. A associação dos músicos militares apareceu envolvida no escândalo do Banco Santos, que quebrou em 2005. A investigação mostrou que a Ambra recebeu R$ 49,5 milhões desviados do Santos.
Não é de hoje também que os caminhos de Cruzeiro do Sul e Banco Santos se cruzam. Luis Felippe e Luis Octavio Indio da Costa, ex-controladores do Cruzeiro, respondem desde 2008 na Justiça a um processo por desvio de recursos da instituição do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira e lavagem de dinheiro.
Procurados pela reportagem ontem, Luis Felippe e Luis Octavio Indio da Costa, não retornaram o pedido de entrevista até o fechamento desta edição. A reportagem não conseguiu contato com a Ambra.
Encerrou-se nesta terça (28) o primeiro prazo para os investidores em títulos externos do Cruzeiro do Sul aderirem ao plano de reestruturação do banco. O Fundo Garantidor de Créditos propõe recomprar R$ 3,3 bilhões em papéis com um deságio médio de 49,3%. Igual proposta foi feita a investidores locais. Se houver adesão de 90% dos credores, o banco será colocado à venda. Caso os processos não vinguem, o banco será liquidado.
Valor Econômico/montedo.com

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