Portugal: militares que derrubaram ditadura de Salazar recusam participar das comemorações oficiais

Militares que fizeram a Revolução dos Cravos recusam participar nas cerimônias oficiais
Ex-presidente Mário Soares e outras personalidades políticas de Portugal também recusaram sentar-se ao lado do governo nas cerimônias oficiais ao aniversário do 25 de Abril de 1974.
Lisboa – Os militares que lideraram a Revolução dos Cravos que, em 25 de abril de 1974, pôs termo à ditadura fascista que governava Portugal recusaram participar nas cerimônias oficiais que se realizam nesta quarta-feira, dia 25, na capital portuguesa.
A Associação 25 de Abril não participa, pela primeira vez, nos eventos oficiais nacionais evocativos do 38º aniversário da Revolução dos Cravos. De acordo com a entidade – que reúne os mais destacados militares que organizaram o 25 de Abril de 1974, “a linha política seguida pelo atual poder político deixou de refletir o regime democrático herdeiro do 25 de Abril, configurado na Constituição da República Portuguesa”.
A decisão foi anunciada, em Lisboa, pelo coronel Vasco Lourenço, presidente da associação. A Associação estará presente, por outro lado, nas manifestações populares previstas para amanhã, em Lisboa e em outras cidades do país.
À recusa dos militares da Associação 25 de Abril em sentarem-se ao lado do governo do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho (PSD), juntaram-se diversas personalidades da política portuguesa, entre elas o ex-presidente da República, Mário Soares.
“Vou fazer isto: ser solidário e não ir também às comemorações a que fui sempre”, disse Mário Soares aos jornalistas.
Segundo a rádio TSF, Mário Soares explicou que decidiu não ir à sessão depois de ter tomado conhecimento da decisão da Associação 25 de Abril de não participar na cerimónia.
“Eu, que já tinha sido convidado e já tinha até dito à senhora presidente [da Assembleia da República] que iria, disse: Eles têm toda a razão e, se é assim, eu sou solidário com eles”, explicou.
“Sou solidário com os ‘capitães de Abril’. Sou solidário com o 25 de Abril. Acho que o 25 de Abril foi uma grande revolução, pacífica, e acho que a política que se está a seguir é uma política contra, realmente, aquilo que é o espírito do 25 de Abril”, afrimou Soares, um dos fundadores do Partido Socialista português.
“Estou solidário com os heróis do 25 de Abril. Eu assisti ao que foi o 25 de Abril e o 25 de Novembro. Foram duas revoluções que permitiram que Portugal fosse outra coisa. Portugal desenvolveu-se extraordinariamente e agora estamos [o Governo] a destruir no Estado, a Segurança Social, o Serviço Nacional de Saúde, tudo coisas que ajudámos a fazer”, disse o ex-presidente da República e ex-primeiro-ministro.
Soares acusou o atual governo de coligação do PSD e CDS de estarem a realizar uma política que vai contra a Revolução dos Cravos.
“Sinceramente, acho que a política que eles estão a seguir é essa. Estão a vender as joias da coroa, estão a vender tudo por qualquer preço, sem darem conta a ninguém do que estão a fazer. Eu [com] isso não estou de acordo”, disse, citado pela TSF.
África 21/montedo.com

Uma resposta

  1. Os militares de Portugal estão entre os mais politizados da Europa, oficiais e sargentos contam com associações influentes e que movimentaram muita gente em manifestações recentes por melhores salários. Quando um diretor de associação, militar da ativa, foi punido, em muitos quarteis os militares deixaram de comparecer aos refeitórios em manifestação de solidariedade. São cidadãos no sentido exato da palavra e se posicionam quando acham que devem.

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