O REEQUIPAMENTO DAS FORÇAS ARMADAS

Ozires Silva

Insistir que vivemos num mundo diferente é discutir sobre o óbvio. Por ações da revolução da comunicação – hoje global e instantânea -, proporcionada diretamente pela corrida espacial do final dos anos 1950, e durante toda a década de 1960, as faces da vida já são outras, a tal ponto, que podemos dizer que um competidor empresarial, ou mesmo individual, pode não estar mais no nosso raio de visão. Isto nos obriga a pensar globalmente, produzindo e comprando produtos em todo o mundo. Este fenômeno cria novas interdependências entre empresas fabricantes, sobretudo as que se dedicam a produtos complexos e carregados de componentes ou equipamentos, como computadores, aviões etc.
Infelizmente, o Brasil não acompanhou esse novo cenário. Nossos dirigentes maiores, embora expostos a essa realidade, parecem não conseguir planejar e executar projetos, mantendo o país sob uma ótica limitada às nossas dimensões continentais. Do mesmo modo, pouco a pouco, vemos nosso mercado interno sendo tomado pela produção chinesa, deixando transparecer o crescimento da qualidade de manufatura e de performance.
Graças ao olhar visionário, a Força Aérea Brasileira obteve destaque e, 64 anos após o voo de Alberto Santos Dumont, lançou um ambicioso programa para criar e fabricar aviões que hoje voam em 90 países. Isso foi em sequência da criação do ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica -, que graduando engenheiros aeronáuticos desde 1950, plantou as sementes, formando equipes qualificadas por um sistema educacional inovador, cujos resultados são constatados largamente.
É um bom exemplo, mas, infelizmente, não se identificam muitos outros, embora o Brasil os tenha de forma limitada. Fazendo-se comparações tanto com a Coréia do Sul, como com a China, constata-se que o processo foi o mesmo. Tudo começa com ímpeto nas evoluções nos sistemas de ensino, capazes de investir no povo para que líderes e empreendedores sejam formados.
Com o pequeno investimento na aeronáutica brasileira perde-se a capacidade de as compras militares motivarem voos mais altos das empresas nacionais produtoras de material para a defesa nacional. E, como seria óbvio pensar, persistências das alternativas trazidas de fora do país no lugar das compras locais podem gerar resultados sérios quanto ao possível reequipamento amplo e, no futuro, vetos impostos ao acesso de produtos sensíveis, classificados pelas autoridades dos países produtores. Os conhecimentos e os avanços na produção de material militar têm mostrado benefícios para as indústrias privadas dos países fabricantes de material militar, agregando crescentes valores no balanço do comércio exterior de muitas nações.
Recentes teses de oficiais superiores estagiários nas escolas militares trazem muitas reflexões. Esses trabalhos abordam compensações contratuais que devem ser oferecidas às empresas nacionais pelas instituições estrangeiras ganhadoras das licitações das nossas Forças. Elas identificam ineficácias, mostram o que deveria ser do conhecimento das autoridades.
O que realmente interessa e justifica as ações das empresas nacionais são as contratações que possam receber, sem intermediação externa das Forças Armadas. Se compensações, ou contratos de transferência de tecnologia forem necessários, que isto seja feito ao inverso. Isto não é nenhuma novidade. Nos EUA estas recomendações são praticadas, graças à lei Buy American Act. E o sucesso da indústria americana é um testemunho do acerto da legislação.
Nossa indústria aeronáutica, que continua na luta para ganhar espaços comerciais, inovando e investindo em novos produtos, mostra que suas estratégias estão vencendo. Isso é fato para todos os que se dedicam à produção e que estão no comércio, seja no interno ou no internacional. É, portanto, o momento para grandes ideias, pensando grande para levar nosso país a não perder as oportunidades que o mundo está abrindo e dele participar com intensidade. Em outras palavras, o nosso Brasil, um país continental, não pode ficar fora desse cenário, onde crescem a competência, a competitividade e a presença marcante de marcas e produtos originais

Uma resposta

  1. OS NOSSOS GOVERNANTE ACHAM QUE PORQUE "DEUS É BRASILEIRO" NADA VAI NOS ACONTECER. VEJA AS OG NO AMAZONAS, VEJA A CHINA NO NOSSO COMÉRCIOE OUTRO EXEMPLOS MAIS. SERÁ QUE ELES NÃO ESTÃO ENXERGANDO?

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