3 Boeing propôs à Embraer um pacote com dez projetos de parceria, entre os quais a construção de uma fábrica no Brasil, provavelmente em São José dos Campos (SP), que forneceria peças para todos os F-18 Super Hornet, o caça americano, que a empresa negocia atualmente no mundo. No total, são 400 caças
Valor Econômico, por Raymundo Costa
A demora da decisão do governo brasileiro sobre o novo caça da Força Aérea Brasileira (FAB), prevista para ser tomada até o fim deste ano, levou a empresa americana Boeing a desencadear uma ofensiva junto às autoridades brasileiras para tentar desbancar o favoritismo do Rafale, caça francês que é contestado pela Aeronáutica.
A Boeing propôs à Embraer um pacote com dez projetos de parceria, entre os quais a construção de uma fábrica no Brasil, provavelmente em São José dos Campos (SP), que forneceria peças para todos os F-18 Super Hornet, o caça americano, que a empresa negocia atualmente no mundo. No total, são 400 caças.
A informação é do vice-presidente para Europa, Israel e América da Boeing, Joseph T. McAndrew. A Boeing também propõe parceria à Embraer na construção do cargueiro KC-390, do qual a empresa brasileira já tem uma perspectiva de venda de 60 unidades. A parceria com a Boeing teria a vantagem de dar à Embraer acesso ao mercado dos EUA, o maior do mundo.
A Boeing não mantém contato com a FAB desde janeiro deste ano, segundo McAndrew. Nesse período, ocorreu um fato novo: a Boeing venceu uma licitação do governo dos Estados Unidos para a compra de 124 Super Hornet, os mesmos que estão na proposta brasileira.
Isso significa dizer que o projeto do F-18 é longevo, o que assegura por muitos anos a tecnologia e a vida útil da aeronave, de acordo com o vice-presidente da Boeing. McAndrew informa que já foram construídos 500 Super Hornet. e outros 400 aparelhos estão sendo negociados ao redor do mundo. “É uma aeronave que está mais que provada e comprovada. E nós continuamos tendo solicitações.”
São dez os projetos de parceria propostos à Embraer, segundo contou McAndrew ao Valor, sendo os mais importantes a montagem do avião na Embraer, a manufatura do bico, do nariz, das asas e da parte de trás do avião – partes da fuselagem que serão utilizadas em todos os Super Hornet em construção no mundo – e mais 100 mil horas de engenharia para a manufatura da próxima geração do F-18.
“Nunca a Boeing ofereceu um pacote de transferência de tecnologias tão amplo, tão claro, dedicado ao Brasil”, disse McAndrew. “Todas as esferas do governo americano que poderiam vetar essa transferência assinaram um termo de compromisso dizendo que não vão vetar. Tanto o Congresso como o Departamento de Defesa”, afirmou. “É uma nova era nas relações do Brasil com os EUA.”
O lobby da Boeing tenta convencer os brasileiros que a empresa não está vendendo apenas o caça F-18, mas o que chama de Global Super Hornet, uma aeronave a ser desenvolvida e construída com a ajuda de todos os parceiros que compraram o caça em todo o mundo. “É oportunidade de desenvolver tecnologias novas e manter o avião sempre à frente dos outros”, diz o vice-presidente da Boeing.
Para McAndrew, ainda não há uma decisão oficial do governo brasileiro. Segundo ele, no 7 de Setembro do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria apenas manifestado uma “preferência”, quando se declarou favorável ao caça francês Rafale, ao lado do presidente Nicolas Sarkozy, convidado para festa da independência. Ainda não há nada oficial sobre o “vitorioso” e é com esse dado que os americanos trabalham.
A Boeing lamenta não ter contado com a mesma oportunidade dada à francesa Dassault de rever seu preço, quando se tornou público que os Rafale estavam sendo escolhidos apesar de custarem mais caro.
“Competição é boa, ajuda, e principalmente protege o contribuinte brasileiro. Ajuda que ele compre melhor e mais barato”, disse o executivo da Boeing. Mas ele mesmo ressalta: “Competição tem que ser igual para todos. Se um pode renegociar o preço, depois da abertura dos preços, os outros também deveriam poder”.
AGÊNCIA T1
Comento:
O mais lamentável é que esforços (legítimos) como esse da Boeing, na prática, servem apenas para emprestar um aspecto competitivo a uma disputa que, se existiu de fato, encerrou-se extraoficialmente em 7 de Setembro de 2009. De lá para cá, todos os esforços foram no sentido de adaptar relatórios técnicos e o noticiário a uma decisão política tomada, como diz o gaúcho, em cima da perna.
Leiam o que escreveu Janio de Freitas na Folha, em artigo intitulado ‘Manobras no Ar’ e postado aqui em 15/11:
“O caça da fábrica Dassault, que está longe de ser um êxito no comércio internacional de armamentos, é reconhecido como muito caro, de gastos muito altos na operacionalidade e, para o que mais interessa à FAB, menos conveniente à formação de brasileiros com a transferência de tecnologia do fabricante.
No mínimo, seria a transferência de tecnologia de um avião com características inadequadas às necessidades brasileiras. E à disponibilidade orçamentária permanente.
Um aspecto paralelo da manobra com novo sentido: a pretensão de novo e inovador parecer implica esperar da FAB que se declare incompetente em sua razão de existir. Seus vastos estudos e projetos, para escolha de aviões e fabricação futura, não resistiriam nem ao breve contato com um dos relegados.”
Os estrelados da FAB apressaram-se a fazer sua parte, como registrei no mesmo post:
“Se assistirem novamente o vídeo sobre a CRUZEX V que postei ontem, os leitores verão o Tenente Brigadeiro Paes de Barros derramando-se em elogios à atitude competitiva dos franceses por terem trazido os Rafale para o exercício militar, além de declarar seu amor incondicional pela “máquina maravilhosa, uma linda mulher”. Ou seja, o quatro estrelas, que não é bobo, já afinou o discurso à vontade de Lula e Jobim.”
É isso aí. E para digerir, haja água mineral (Perrier, certainement).