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“Vivo de catar latas de alumínio na rua. Meus filhos nunca tinham ido a um dentista na vida deles”, disse Mônica Souza, que também teve um dente extraído. As três crianças, como todas as outras que estiveram no atendimento, receberam uma escova e uma pasta de dentes. Antes de escovar, assistiam a uma aulinha com as dentistas e a um filme em que a heroína é “Dona Escovita”. Juliana, uma das crianças atendidas, estava com medo da hora de abrir a boca. Um dente de leite teve que ser retirado. Depois, abraçou forte a dentista que a atendeu, a Tenente Maria Eugênia Lins. “Para nós, é uma grande alegria poder atender essas pessoas que estão precisando tanto. Precisamos segurar o coração. A sensação de participar de missões assim é indescritível”, emocionou-se a militar. “
Indescritível mesmo diante de uma realidade tão diferente daquela que veem nos consultórios na capital. Eram repetidas as histórias de pessoas que, mesmo residindo em uma populosa região metropolitana, não haviam sido atendidas por dentistas durante a vida. Fernando, de 13 anos, Jefferson, de oito e Camila, de 7, netos da dona de casa Severina Silva de Melo, de 48 anos, foram os primeiros a chegarem, às 7h da manhã, na creche. “A gente não sabe muito bem como cuidar dos dentes. Essa ação é muito importante”, disse Fernando, que recebeu a senha 01 de atendimento.
Duas horas depois, Rubianita, de oito anos, que também fazia a primeira consulta da vida, ficou conhecida como o atendimento de número 10 mil. Ainda que não sabendo que já entrava para a história daqueles dentistas, sorria à vontade depois de ser atendida. Teve apenas que colocar uma massinha em um dente. “Foi muito bom. Soube que tenho que pedir menos balas e chicletes para não doer nada”, disse. O atendimento de número 10 mil era mais uma voz de sabedoria. A diretora da creche Lar Esperança, Maria Cristina Nascimento, que abrigou a ação social, ficou emocionada com a ação dos militares. “Quando eles chegaram, comentamos que pareciam que de repente anjos de branco tinham vindo nos ajudar. Eles não têm ideia do que significa esse gesto profissional numa realidade tão dura”.
E a cada minuto chegavam principalmente mais crianças. Algumas ainda ansiosas e temerosas de uma possível dor. Ainda que com anestesia, algumas, como é de se esperar, choravam quando informadas que havia de ser retirado um dente. “Aí a gente segura na mão deles e eles ficam mais tranquilos. No final, o chorinho passa”, disse a Tenente Viviane Mergulhão. “Trabalhamos, às vezes, em quatro mãos, para que diminua a possibilidade de qualquer machucado”, explicou a Tenente Karina Andrade. Carinho, aliás, complementa a técnica, asseguram as militares. “Trabalhamos em regiões extremamente desfavorecidas, com acessos difíceis, e isso engrandece a todos nós”, considerou a Tenente Ana Paula.
Credibilidade – O Comandante do Segundo Comando Aéreo Regional, Major Brigadeiro Helio Paes de Barros Júnior, que acompanhou os atendimentos, explica que as ações sociais são extremamente necessárias para apoiar regiões afastadas e desfavorecidas. “Esse número de 10 mil mostra que temos muito a ajudar. Ao mesmo tempo, a respeitabilidade da nossa organização. Nossos profissionais mostram que estamos juntos aos que precisam de ajuda”. Para o diretor da Odontoclínica de Aeronáutica do Recife, Tenente Coronel Dentista Cesar Junqueira, as ações sociais têm levado alento a pessoas que passam a entender melhor o conceito de cidadania. “Com essa prática, conhecemos cenários e histórias de pessoas que precisam demais de todos aqueles que podem colaborar com trabalho”.
Depois que os pacientes foram embora, um a um, com sorriso mais aberto, estavam felizes também os anjos de branco. Guardaram os instrumentos, carregaram os materiais e conversavam sobre o que foi e como podem fazer mais nas próximas. Falavam de profissionalismo, de sentimentos e das histórias, que nunca ficam para trás, enquanto andavam pela Rua da Amizade.