DIPLOMACIA MILITAR

Mauricio Santoro 
Passei o fim de semana na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), dando um curso sobre política na América Latina, como parte de um convênio de pós-graduação entre a instituição e a Universidade Candido Mendes. É muito gratificante acompanhar, e participar, do fortalecimento do campo de relações internacionais no Exército. Algo que para mim começou de maneira mais intensa no ano passado, quando dei outro curso na AMAN, para os cadetes do último ano.
Um dos projetos que anda na minha cabeça é o de organizar um livro sobre diplomacia militar. A participação das Forças Armadas em missões de paz na ONU é um tema bastante estudado – na própria turma para a qual lecionei na AMAN havia oficiais que serviram no Haiti – mas há muitos outros desdobramentos internacionais da ação dos militares.
Um exemplo são os Pelotões Especiais de Fronteira na região amazônica. Um dos oficiais com os quais conversei me contou histórias fantásticas de quando comandou um desses destacamentos, como jovem tenente. É uma experiência desafiadora, porque o oficial, além de exercer funções militares em grande isolamento geográfico, precisa desempenhar atribuições de prefeito, juiz de paz, mediador de conflitos e diplomata.
As Forças Armadas também exercem funções clássicas de dissuação em negociações internacionais. O barão do Rio Branco era mestre em utilizá-las dessa forma, deslocando tropas por ocasião de diálogos delicados, como exemplo do que poderia acontecer caso a diplomacia fracassasse. Atualmente, na América do Sul, os temas da segurança energética e da proteção às comunidades de brasileiros no exterior (sobretudo no Paraguai e na Bolívia). Este último assunto, inclusive, tem sido objeto de diversas manobras de treinamento, em razão de crises políticas que envolveram tais grupos.
Outro tema que tem ganhado destaque é a revitalização da indústria de defesa, diante do aumento dos investimentos do governo no setor. Por enquanto as expectativas estão concentradas na Força Aérea, mas logo deve começar também uma expansão da Marinha, pela necessidade de proteger o pré-sal e pelo repasse de royalties do petróleo à instituição.
Tenho sido um defensor de que os currículos dos cursos de relações internacionais dediquem também mais espaço ao estudo da política doméstica de países que são importantes para o Brasil. A importância desse enfoque tem se tornado clara no caso de crises recentes com a Bolívia e a Venezuela, mas até mesmo no que diz respeito a Honduras, onde um conhecimento mais sólido da realidade local teria auxiliado bastante as autoridades brasileiras. Foi ótimo constatar que os militares compartilham minha preocupação.

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