HÁ ALGO DE PODRE NO REINO DE HONDURAS

Ricardo Montedo[Agitação popular+ação militar+presidente deposto]=GOLPE! Correto? Sem dúvida!
Até hoje, não duvidei um instante sequer que a combinação desses ingredientes significasse ruptura do estado de direito em qualquer canto do planeta.
Por isso, interpretei como uma quartelada (mais uma) latino-americana, a destituição do presidente hondurenho, Manuel Zelaya, apeado do cargo pelos militares.
Só que, nos últimos dias, a equação evoluiu e acabei acrescentando novos elementos à fórmula, que ficou assim:
[referendo inconstitucional-(oposição do Congresso+oposição do Ministério Público+oposição do Judiciário+oposição do partido do presidente) + (apoio de Chaves (o Hugo, não o Chapolin)+apoio de Cuba+ALBA)+ação militar]=CUMPRIMENTO DA CONSTITUIÇÃO.
Parece incrível, mas é a mais pura verdade. Zelaya foi deposto por que tentou impingir ao povo hondurenho um referendo declarado ilegal pela justiça do país, que permitiria sua reeleição “ad eternun”, nos moldes do que seu guru, Hugo Chaves, fez na Venezuela.
A ação militar foi realizada para cumprir a constituição vigente (que o presidente queria rasgar), rigorosamente dentro dos princípios da Carta Magna daquele país e com o apoio do Legislativo e do Judiciário. Balela? Então, vejamos:
– Afastado Zelaya, foi empossado o presidente do congresso hondurenho, como manda a lei.
– As eleições de novembro continuam marcadas, como manda a lei.
– Em janeiro, deve assumir o novo presidente a ser eleito, como manda a lei.
Eis aí. Foi abortada uma tentativa de usar o estado de direito para implantar uma ditadura, mascarada de democracia, no melhor estilo chavista.
Só que, ao contrário do tiranete de Caracas, o aprendiz de feiticeiro não adotou algumas medidas prévias, como amordaçar a imprensa, obter controle total das centrais sindicais e emparedar o congresso (além da oposição, dezenas de parlamentares de seu partido apoiaram a intervenção militar).
Duvida? Confira o que disse à Folha de São Paulo a deputada Myrna Castro, do Partido Liberal (de Zalaya), que apoiou a destituição do correligionário, acompanhada de 62 dos 128 deputados do partido governista:
FOLHA – Por que a senhora retirou seu apoio a Zelaya?
CASTRO – Eu deixei de apoiá-lo no momento em que ele começou a atuar à margem da lei. Eu sou advogada. Eu respeito a Constituição. Ele praticou uma quantidade enorme de delitos, o Congresso tem um relatório demonstrando isso.
FOLHA – A senhora votou pela entrada na Alba?
CASTRO – Sim, e me arrependo. Estou a favor dos programas sociais, o problema é que se fez uma campanha de luta de classes entre ricos e pobres, com ataques constantes ao setor privado.
A claque “bolivariana” reagiu ensandecida à deposição de Zalaya, pautando, como sempre, a grande mídia, que, sem a menor análise das circunstâncias peculiares dos acontecimentos em Honduras, de imediato classificou a deposição como golpe.
Mais uma vez atropelada pelos fatos, a dobradinha Lula-Amorim procura restituir ao Brasil a função de protagonismo na América Latina, assumida sem cerimônia por Chaves, e exige a volta do presidente deposto.
Avançamos. Desta vez, ao menos, nosso Guia poupou-nos de suas metáforas futebolísticas, como aquela que comparou a “uma briga entre vascaínos e flamenguistas” a violenta repressão de Amhadinejad à oposição no Irã.

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