Quem tutela a República?

Quadro A Pátria (Pedro Bruno-1919)

A manutenção da narrativa de responsabilizar as Forças Armadas pela dolosa viagem serra abaixo não contribui para a solução dos problemas

Otávio Santana do Rêgo Barros*
O cenário político brasileiro parece um perigoso descer de uma serra com trechos sinuosos, o freio do ônibus falhando, os passageiros amedrontados e o condutor incapaz de controlar o iminente desastre.
A boa notícia: há espaços para evitar o mal maior. É necessário buscarmos as áreas de escape institucionais, direcionar o veículo para uma delas, torcendo que a caixa de areia o contenha sem maiores danos.
A extremada polarização, fortalecida pela ascensão de líderes de perfil socialmente belicosos, permitiu a alguns desses condottieres abandonarem a saudável sensatez e decidirem descer a serra da governabilidade, acelerando com o “pé na tábua”. Resultado presumido: um desastre.
Acidentes de grandes proporções são causados por desacertos, dos pequenos e imperceptíveis, aos facilmente detectáveis. Envolvem os conceitos de imperícia, imprudência ou negligência.
Se o agente do poder se comporta como um condutor negligente, não possui as competências de um perito e os responsáveis pelo assessoramento são imprudentes nas ações preventivas ou corretivas chega-se na próxima curva da estrada com o veículo tombando sobre a confiança perdida e a esperança frustrada. Combustíveis conhecidos para soluções autoritárias.
Nessa aventura sui generis, ouve-se que operadores psicológicos, tentados por influências de toda ordem, estariam buscando a tutela da República, a fim de auferirem ganhos desalinhados com os padrões éticos que se esperaria em homens de bem.
Alguns analistas incluem o estamento militar como histórico tutelador dos destinos da Nação. Coerente com os ventos pretéritos que sopravam em nossa direção e alinhados com as demandas da sociedade fomos atores determinantes dos processos políticos.
Entretanto, seria inadequado um paralelismo entre o passado e o presente, para apontar que a Instituição Forças Armadas se movimenta atualmente como agente de tutela da Nação. Se há tutela, a Instituição não é a responsável pela atrofia do fragilizado poder.
Afirmou Samuel Huntington em O Soldado e o Estado: “a menos que seja criado um novo equilíbrio, a contínua ruptura das relações entre civis e militares não pode ajudar, mas prejudicar a dimensão do profissionalismo futuro.”
Desde então, o mundo mudou, e muito. Todavia, o pensamento do professor permanece atual ao valorizar como máxima do relacionamento o equilíbrio.
As informações fluem instantaneamente e as pessoas acessam prontamente as notícias que podem ajudá-las a conformar as suas opiniões.
A maioria reconhece as Forças Armadas com outro perfil. Profissionais, com foco insistente em cumprir o determinado na Constituição. Ainda assim, é inquestionável a necessidade de colocar-se na agenda pública a discussão séria sobre Segurança e Defesa.
Portanto, a manutenção da narrativa de responsabilizar as Forças Armadas pela dolosa viagem serra abaixo não contribui para a solução dos problemas do Brasil.
Se há imperícia, imprudência ou negligência, representadas por disfunções na condução da gestão do país, o natural e legal é enquadrar categoricamente o funcionário inábil. O voto é o maior antídoto.
Esse caminho já o trilhamos algumas vezes – a peregrinação exige temperança, com derrotas e vitórias – e sabemos como vencê-lo legal e democraticamente.
Não carece temer. Carece firmeza de propósito e coragem moral. O importante: que haja paz para edificarmos um país promissor para as gerações futuras. E sem confrontações acerbadas! De birrentos, estamos fartos.
Paz e bem!
*General de Divisão R1
METRÓPOLES/montedo.com

10 respostas

  1. Blablablá.
    Importa algo oq o estamento superior pensa?
    Quer dizer q o presidente está errado ao reagir aos constantes insultos? Parcialzinho hein?

  2. O que não contribui é continuar tentando tapar o sol com a peneira para convencer a opinião pública que as FA dão sustento a um presidente que jurou instaurar uma ditadura assim que fosse eleito (como ainda hoje encontramos em vídeos disponíveis na web), e que deu sucessivas provas de desumanidade, falta de empatia, arrogância e prepotência.

    1. E o genocida? Tirou o leitinho dos grandes mídias, de artistas famosos, de cantores ricos, de grupos de teatro que só faziam sexo em palco. Coisa ridícula esse genocida. As crianças vão morrer de fome ou migrar para Cuba? Lá é mais seguro!

  3. Isso é roteiro de algum esquete? A boa noticia não vem de torcida por caixa de areia mas do dever, da astúcia e habilidades de quem está na direção do veículo. Se capotar, capotou! Deveriam pesquisar quais contribuições esse general deu à comissão da verdade. Ou é muito vermelho, ou ingênuo demais para a politica.

    Homens de bem sempre foram às guerras para manter suas liberdades. Quem conseguiu, conseguiu. Quem não conseguiu, ou é escravo, ou imigrante ou morreu.

    General, vá ao Congresso Nacional, vã ao STF e TSE e vença-os “legalmente”. Falar por curvas, trilhas e caminhos teóricos é não deixar evidente que o povo clama por autoridades e não autoritarismo. Por isso pede a ação das FFAA para que não venha a explodir e agir por conta própria. Entendeu ou que um mapa?

    1. Comentário muito bem feito.O.general está frontalmente equivocado.Nao aprovo todas as atitudes do presidente e muito menos as do STF e as de parlamentares de esquerda.A Constituição tem ser obedecida pelos 3 poderes,o que não ocorre nos dias de hoje.

    2. Está na hora do povo ser o ator principal, protagonista, e assumir suas responsabilidades! Já deu esse negócio de passar as responsabilidades para o irmão mais velho ou terceiriza-las! Os três poderes já vem há anos estuprando e resgando as constituições.

  4. Excelente artigo.
    Sensato e equilibrado.
    Tutela inconstitucional na existe.
    Gostando ou não a constituição está aí, e será respeitada.
    Ninguém vai ganhar o jogo fora das quatro linhas ou no grito, nem lá, nem cá.

    1. Existe tutela constitucional? Em toda a história conhecida sempre foi a ação do povo ou das armas que iniciou a instauração da ordem e pela desordem. pela desordem provocada pelos ladrões, corruptos e saqueadores do povo e tergiversadores das leis. Napoleão instaurou a ordem após a queda da Bastilha. No Brasil não há mais muito espaço para conversações.

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