As incursões de Mauro Cid à casa do ex-comandante do Exército

O tenente-coronel Mauro Cid (à esq.) e o ex-comandante do Exército e general da reserva Marco Antônio Freire Gomes — Foto: Fotos de Pedro França/Agência Senado e Cristiano Mariz/O Globo

 

Segundo Freire Gomes, relação com Cid era “meramente protocolar”; o militar tinha autorização de Bolsonaro para se reportar a ele diretamente

MARCELA MATTOS

No período em que assessorava Jair Bolsonaro, o ajudante de ordens Mauro Cid praticamente morava no Palácio da Alvorada e tinha até um quarto exclusivo caso quisesse dormir na residência oficial do presidente da República. Onipresente, Cid viu e ouviu muitas reuniões, inclusive as que envolveram tratativas relativas à reversão do resultado eleitoral, à prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal e até o uso da força militar para garantir a permanência de Bolsonaro no poder.

Em mensagens encontradas pela Polícia Federal no celular do militar, Cid abastecia o então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, sobre as tratativas em andamento no Palácio da Alvorada.

Os informes, porém, também aconteciam presencialmente. Cid, que firmou um acordo de colaboração com a Polícia Federal, contou que Freire Gomes estava preocupado diante da pressão que Bolsonaro recebia de seus auxiliares para acatar uma virada de mesa e demonstrava nervosismo com a possibilidade de o então presidente tomar uma decisão por impulso.

Por isso, conta que não foram poucas as vezes que, após sair do Alvorada, já quase de madrugada, passou na casa de Freire Gomes para narrar ao comandante o que estava acontecendo. A medida, no jargão militar, é tratada como uma “consciência situacional” do que estava sendo discutido e que poderia descambar para uma ruptura institucional.

Freire Gomes alertou Bolsonaro sobre responsabilização penal
Conforme VEJA revelou, o ex-comandante do Exército disse em depoimento à Polícia Federal que o próprio Bolsonaro apresentou a ele e aos chefes da Marinha e da Aeronáutica a ideia de decretar uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e de chancelar um Estado de Defesa ou Estado de Sítio para se contrapor à derrota para o presidente Lula.

Freire Gomes relatou aos investigadores que disse a Bolsonaro que o Exército “não aceitaria qualquer ato de ruptura institucional” e que qualquer atitude, conforme as propostas, “poderia resultar na responsabilização penal do então presidente da República”.

A relação de Freire Gomes com Mauro Cid
O ex-comandante também foi questionado sobre a sua relação com o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Freire Gomes disse que ela era “meramente protocolar” e que o militar tinha autorização de Bolsonaro para se reportar diretamente ao comandante.

Sobre os áudios encaminhados por Cid, Freire Gomes afirmou que eles procuravam retratar as visitas recebidas por Bolsonaro e “seu estado de ânimo” em relação às medidas em discussão.

Um desses áudios, no entanto, tratava sobre uma carta assinada pelos três comandantes em novembro de 2022 que defendia as manifestações diante de QGs do Exército e registrava a crença na independência entre os poderes, em especial o Legislativo, para “corrigir possíveis arbitrariedades ou descaminhos autocráticos” que poderiam colocar em risco a liberdade da população.

A Freire Gomes, Cid disse, conforme consta em relatório da Polícia Federal, que o documento era importante para a manutenção e intensificação dos movimentos em frente aos quarteis e o deslocamento para o Congresso, o STF e a Praça dos Três Poderes.

O comandante também foi informado por Cid, em 16 de novembro, que haveria manifestações em Brasília que seriam financiadas por representantes do agronegócio. Questionado sobre o informe, Freire Gomes disse que o tenente-coronel passou as informações “como uma ação proativa” e sem que ele tivesse solicitado.

veja – Edição: Montedo.com

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo